quarta-feira, agosto 11, 2010

cigarette break @

smoke on the water, deep purple @

Que o fumo leve todas as palavras caladas; bem guardadas debaixo da língua. Que o fumo leve todos os sentimentos escondidos e baralhados; bem contidos no âmago do estômago. Que o fumo leve todos os gestos interrompidos, que de pequenas realidades se transformaram em meras utopias. Que o fumo leve todos os momentos passados, que jamais passarão de inúteis memórias. Que o fumo leve tudo isso consigo de uma vez, e que não se esqueça de nada atrás. E que esse tudo de outrora se desvaneça para o nada de agora, apagando a dor por completo, deixando apenas uma folha em branco, repleta de marcas indefinidas. As únicas provas de que foi real. Acende-se uma chama e consigo vê-las tão bem... Apercebo-me que não as quero ali, a recordar-me do que perdi, e queimo-as. Observo-as a arder lentamente, enquanto as sugo e as empurro para o fumo. Ele que as leve consigo também, que já nem as quero mais. (...) Por fim, as linhas de fumo, obedientes, ergueram-se no céu e desenharam uma despedida muda - aquela que nunca tive... Beijaram o ar e desapareceram. E foi assim que tudo se foi: como o incendiar de um castelo que levara anos a construir, e que, numa fracção de segundos, ruiu à frente dos meus olhos, sem que eu o pudesse impedir. (...)

todo o cigarro chega ao fim,
quando não resta mais nada 
p'ra se queimar

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