sexta-feira, dezembro 10, 2010

self(ish) love


Há nem muito tempo atrás, disseste-me uma coisa que jamais esqueci: disseste-me que o amor não deveria nunca ser posto acima de tudo, porque, assim, quando tal se perdesse, o nosso mundo desabaria por completo. Eu não concordei. E disse-to, desta forma: Mas nós não devemos ligar-nos intensamente a alguém, sempre agarrados à consciência de que esse laço terá um fim. E ainda acrescentei: Que sentido é que isso faz? Tu olhaste-me fixamente, mas a tua expressão não se alterou. E, de seguida, disseste-me: A nossa vida está disposta numa prateleira. Imagina que metes o amor em cima, mesmo à tua vista; sempre que olhas para a prateleira, lá está ele, majestoso, no cimo, e a amizade, família, dinheiro e essas coisas todas estão dispostos para baixo. E, agora, imagina que perdes o amor, nalgum lado qualquer! Quando fores olhar para a prateleira e não o vires lá, vais sentir-te como se a prateleira estivesse vazia. Porque vais estar demasiado centrada naquela estante onde o amor outrora estava, que até te vais esquecer das coisas que estão postas mais abaixo. Eu acenei e comecei a brincar com o teu cabelo: Falas como se o fim do amor fosse inevitável. E tu olhaste para mim, em silêncio, com um olhar de consentimento bem expresso nos olhos. Eu estremeci. Tu reparaste e, então, apressaste-te a dizer: Mas não vamos falar disto agora, está bem? E eu limitei a acenar com a cabeça, enquanto assistia, irritada, ao teu típico desvio da conversa. Falaste sobre viagens que adorarias fazer; sobre o curso que querias mesmo tirar; sobre o carro que irias comprar, mal tirasses a carta. Todas essas coisas; um Futuro. E, digo-te, que não houve um único momento, durante aquela conversa, em que não perguntasse a mim mesma: Será que eu estou incluída nesses teus planos? E enquanto lá ias divagando, opinando sobre uma coisa qualquer trivial, eu interrompi-te: Tu és a pessoa mais importante da minha vida… Tu permaneceste calado, como que apanhado de surpresa, e eu prossegui: Onde estou eu na tua prateleira? Tu mordeste o lábio, por um momento, e desviaste o olhar para o chão; esfregaste as têmporas e, de seguida, redirigiste os teus olhos para mim, enquanto um sorriso sereno se abria no teu rosto: Na minha prateleira está tudo o que me é realmente importante… Tu estás lá. Não te é suficiente? (…)

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