sábado, fevereiro 26, 2011

"Espelho meu (…)"

- fotografia por: daniela rosa @

Ela não gostava de se ver no espelho. Para quê? Todos os dias tinha o mesmo aspecto; os mesmos olhos e tudo o resto no mesmo sítio. Deparar-se com o seu Reflexo era algo que evitava sem sequer se aperceber; um hábito como nos calçarmos antes de sair para a rua. Simplesmente prosseguia em frente, agindo como se este nem estivesse lá, bem marcado na superfície lancinante do espelho pendurado imperativamente na parede do seu quarto.

O seu peito enchia-se de vazio, tal como o seu estômago, completamente incapaz de digerir todas as verdades cruas da sua nova realidade. E era por isso que se encontrava sempre fraca, como que desfalecendo a cada passo que executava. Tal como não procurava por alimento, também não buscava por forças… Para quê? Se tudo isso se acaba por esgotar, a determinado momento, sem qualquer aviso prévio? Ela não conseguia suportar tal sensação, portanto deixava-se estar numa estável sensação de impreenchimento, agarrando-se com garras e dentes àquela regularidade.

Lembrava-se do último dia em que se vira, reflectida no espelho retrovisor do carro. Ainda se lembra daquela imagem… Uma rapariga com olhos vagos, fechados e profundos. Olhos típicos de quem já viu e abarcou um mundo inteiro, e que, de súbito, o viu dissipar-se, mesmo em frente aos seus olhos, demasiado rapidamente para sequer o poder impedir. 

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