segunda-feira, abril 25, 2011

two strangers, one hotel bed


Tamanha era a claridade soturna da noite, que trespassava os cortinados translúcidos da janela, rumo a nós: dois vultos inertes, lado a lado, rodeados de lençóis desbotados e gastos - tal como nos sentíamos, naquele mesmo momento. A tua voz soava pesada e pausadamente, ecoando por entre as paredes do quarto. E eu escutava-te, sem interromper, enquanto o aroma das confidências e dos segredos me assolava, entranhando-se nas almofadas. Aproximei-me a medo; já me sabes de cor. E continuo a dizer… Ninguém encaixa em mim melhor do que tu. É como que uma junção de duas peças simétricas, sem qualquer aresta a limar. Mas é só isso. Eu sei disso, não precisas de me dizer. Fiquei, então, a perder-me entre enganos, que o silêncio calou tão bem. E tu continuaste falando. E eu respondendo. (…) Deste-me aquilo que tanto queria: um vislumbre de ti, mesmo que só por um momento fugaz. Era só isso que queria de ti, mais nada. Depois, parti. E os meus pés, ao tocarem de súbito no chão gélido, despertaram a dormência que se havia empoleirado pelo meu corpo, trazendo-me de volta à consciência crua da realidade que me abarca. (…) Não passamos disto. 

E aí está a beleza dos momentos sem grande significado… 
Não dão espaço a arrependimentos.

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