Estou magoada - não vou mentir-te. Pediste-me desculpas sinceras, o que já mostra muito carácter. Mas, mesmo assim, estou sempre com aquela teimosa mágoa empoleirada no âmago do meu estômago. A verdade é que não consigo compreender-te. Como é que não consegues sentir-te bem junto de mim, depois de tudo o que conquistámos e passámos juntos? De tudo o que aprendemos, lado a lado, um com o outro? De todos os momentos inesquecíveis e de todas aquelas pequenas grandes coisas que partilhámos, ao longo de todos estes anos que já nos conhecemos? Eu roubei-te o primeiro beijo e tu roubaste-me o coração, sabe lá Deus durante quanto tempo! Por ti, perdi-me vezes sem conta; por ti, gritei e ri até me doerem os pulmões; por ti, chorei até se me esgotarem as lágrimas; por ti, fugi por entre a noite, ignorando todos os perigos… E o que restou, afinal? Eu digo-te: memórias tão distantes do Presente, que mal as vejo e saudades demasiado dolorosas para que possa carregar comigo… E isto magoa-me. Porque, sinceramente, tu foste das melhores coisas que me aconteceu e sempre que estou contigo parece que volto atrás no tempo… Mesmo que só por um pequeno momento. Mas, a teu ver, já não é (mais) assim. Já não te sou nada mais que uma pessoa com quem partilhaste um grande Passado, que só queres ver para trás das costas. (…) Sabes uma coisa? Eu voltava a viver tudo outra vez contigo, sem hesitar. Não se trata de continuar a amar-te (está bem?), apenas tenho uma enorme estima por ti, que nunca pensei sequer que fosse possível. Tu serás sempre o primeiro. Tu serás sempre o ideal. Tu serás sempre o melhor que alcancei e que, por imensas razões que não mais interessam, não consegui manter. Claro que todas aquelas palavras magoaram-me imenso, mas eu perdoo-te. Porque a culpa não é tua. Nem é minha. Ninguém manda no seu coração. E eu nunca te esquecerei. E eu nunca te mandarei embora.
Aliás… O tempo encarregar-se-á disso por mim.