Foi hoje, sentada no jardim da escola, numa daquelas horas vagas do meu horário, que finalmente me apercebi do grande erro que já cometera tantas vezes. Como fiz isso? Limitei-me a observar em volta. O céu tons de cinza, o vento frio e... As borboletas. Sabem uma coisa? As pessoas são como borboletas. Juro-vos. E o meu erro foi esquecer-me disso.
Já apanhei muitas borboletas na minha vida: todas de diversas formas e feitios. Voava junto a elas, sempre próximas de mim. Porém, sempre que sentia uma delas a afastar-se nem que fosse mais um pouco, agarrava-a com força na minha mão, enclausurando-a. Afagava-a até conseguir perceber a razão para esta ter tentado escapar-me... Mas nunca percebia. A borboleta limitava-se a permanecer ali, fechada entre os meus dedos, a afastar-se cada vez mais apesar de parecer estar o mais perto possível.
E agora vem a parte engraçada... Quando era pequena, eu e os meus amigos adorávamos correr atrás de borboletas e eu era sempre das únicas que conseguia, realmente, apanhá-las. "
Como é que consegues? Nem corres assim tão depressa!"
Mas ora aí é que está: Não se apanham borboletas, na vida, correndo atrás delas, forçando-as a ficar connosco, fechando-as, prendendo-as a nós. Devemos, pelo contrário, aproximarmo-nos devagarinho, quase que imperceptivelmente, até, simplesmente, conseguirmos distinguir o mais pequeno traço nas suas suas asas. E aí é que realmente as "
apanhamos". Quer dizer... E é aí que elas se deixam apanhar.
Ou seja, (e agora voltando ao tempo Presente), para recuperarmos uma borboleta, para voltarmos a cativá-la, não nos devemos a agarrar a ela, obrigando-a a ficar quando esta se está a afastar por sua vontade. Devemos simplesmente deixá-la voar... Deixá-la ir aonde quer, livremente; deixá-la explorar...
Porque as borboletas são seres livres. Livres. Livres de partir e livres de, um dia, voltar ou não.
Já apanhei muitas borboletas na minha vida e já muitas se afastaram de mim. Eu lá ia eu: fechando-as entre os meus dedos para estas não me escaparem, até que fiquei sem espaço. Um tempo depois, comecei a fechá-las num jarro. E ficava simplesmente às rodas na minha cabeça, tentando descobrir o que é que mudara e porque é que elas insistiam em deixar-me.
Sabem o que vou fazer agora?
Vou buscar esse tal jarro. Caminhar até à minha varanda. E vou abri-lo.
Voem, borboletas, voem!
Se voltarem, é porque são merecedoras de ficar.
14, Outubro, 2009