quinta-feira, abril 18, 2013

O dia em que morri.


Acordo, sobressaltada, com suores frios por todo o corpo. "Que horas são? Quanto tempo estive eu a dormir?". Alcanço o telemóvel e, no visor, desenham-se-me as horas: "13:30". É mais um daqueles dias. Passou-se mais uma noite. Noites daquelas, que não me deixam realmente dormir. Deixei-me estar, deitada ao comprido na cama, a mirar a janela entreaberta, que trespassava fortes raios de luz. Cegam-me. Irritam-me. E, então, a minha cabeça começa a latejar de dor. Quero levantar-me e fechar as persianas, para fingir que ainda é de noite. Para fingir que não há nada de errado em simplesmente deixar-me adormecer, de novo. Para me enganar a mim própria de que o dia não avança e o tempo não se move. Apercebo-me que ainda tenho a roupa de ontem à noite vestida. "Porque raio não vesti o pijama, antes de me deitar?". E depois, a realidade bate-me, como uma tempestade de chuva em pleno dia de Primavera: não me lembro sequer de como cheguei a casa. Olho em roda e vejo a minha mala caída pelo chão, e os sapatos junto à porta. Tento levantar-me e, ao mesmo tempo, pergunto-me: "Mas para quê, se nada me espera? Se nada me faz querer fazê-lo?". Deixo-me estar. Ali. Sozinha, entre pensamentos escuros, num quarto vazio e demasiado claro para a obscuridade que sinto. 

Não tardou a ouvir o eco do toque de telemóvel a ressoar por todas as paredes. Alcei-me sobre o meu próprio corpo e atendi: "Daniela, estamos à tua espera. Vamos todos almoçar juntos, anda lá." Ergo-me, sem quaisquer forças, sem quaisquer vontades, sem quaisquer razões. 

(...) Antes de sair de casa, olhei-me ao espelho pela primeira e última vez, nesse mesmo dia. Esbocei o melhor sorriso que consegui, até me doerem os cantos da boca, de tanto o forçar. "É o melhor que consigo fazer", pensei para mim mesma. E, assim, parti, rumo a mais um dia qualquer, que há de vir e passar, como outro qualquer... 

Só mais um dia. Um dia para gastar. Um dia que me aproxima de morrer. Apenas mais um, entre todos os outros. Só mais um dia para contar e, ao mesmo tempo, não contar para nada.

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