quinta-feira, agosto 22, 2013

Tu amaste-me, certo?


A pessoa que tu és agora - essa que está mesmo aqui, rente aos meus dias, rente à minha pele, mas sem nunca me tocar (por medo?) -, não se parece nada contigo; não se parece nada com o rapaz que conheci em tempos. É curioso, sabes?, como alguém é capaz de mudar com o amor; de mudar por amor. Tu fizeste-o por mim, sem eu te pedir. Costumavas cuidar tão bem de mim. Eras assim: mais próximo de mim, do que de ti mesmo. Nunca havia conhecido ninguém como tu. Apaixonaste-te por mim, mas não de repente e não de ânimo leve. Ainda me lembro de me dizeres, em suspiros, e com uma gargalhada meio triste: "Acho que sempre te amei...", e isso doía-me mais do me alegrava. Sempre te conheci como um alguém sem medos, pelo menos até me aperceber que era eu quem tu mais temias. Pelo poder que eu tinha sobre ti. Mal sabias lidar com isso... Mas, mesmo assim, apaixonaste-te e lutaste por mim. Contra todos os teus temores, contra todas as tuas desconfianças e feridas, que eu mesma havia causado. Passo a passo, jogaste tudo isso fora e ficaste aqui, junto aos meus lábios e a dar cor aos meus dias. Mesmo que, a cada dia que passasse, mais o medo e a insegurança fossem ocupando os cantos e recantos do teu corpo.

Um dia disseste-me que amar-me fora a coisa mais difícil que alguma vez fizeste. E mal dizias isto, rias-te para o vazio: "És mais difícil de perceber do que toda a gente pensa!", e rias-te de novo. Estavas sempre a rir. Mas não eram risos típicos de piadas de café. Eram risos tensos e fechados, como se estivessem a conter sentimentos demasiado turbulentos para virem ao de cima. Mas, mesmo assim, tu continuavas junto a mim: a levar-me a casa, a entregares-me o teu casaco, quando eu me esquecia do meu, a beijares-me à chuva. Da última vez que te beijei, antes de partir a um rumo incerto - e ambos já sabíamos que eu tinha de partir -, senti-te tremer de uma maneira incrivelmente dolorosa. Tremias por todo o corpo, por todos os poros, como se um choro ou um grito se quisesse soltar - mas tu jamais deixarias.

Tu não és esse rapaz, agora. Estás frio. Estás distante. E as tuas palavras sabem a amargo. Talvez eu mereça esse tipo de tratamento. Fiz-te passar por tanto; fiz-te ir contra as tuas convicções e deitei abaixo todas as barreiras que te protegiam do Mundo em volta - quando, na verdade, a única pessoa de quem te deverias ter protegido era de mim. 

Mas tu amaste-me. Nunca hei-de duvidar disso, por mais que o tempo passe e por mais que nos separemos. A forma como tu me amaste, como nunca ninguém o fez. A forma como tu lutaste por mim e por nós, mesmo depois de se esgotarem as razões e os motivos. A forma como fizeste os possíveis e os impossíveis para não desistir - apesar de eu mesma já o ter feito.

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