quinta-feira, fevereiro 27, 2014

Olha para mim... Tu é que perdeste.

Olha para mim. Vês como estou feliz? E, pela primeira vez na minha vida, tu não és o causador disso mesmo. Engraçado, não é? Como, outrora, eras tu a razão intrínseca do meu sorriso. O motivo único do meu desespero. O rio de onde provinham as minhas lágrimas. Os dias todos do meu calendário. 

Agora? Agora és Passado. Pela primeira vez, em tantos anos, não passas disso mesmo: um tempo que já lá foi, para não voltar mais a ser conjugado. Um assobio mudo que por entre o vento se perdeu. Vento esse, que tanto nos despenteava, naquelas nossas tardes invernosas que passávamos os dois a sós. 

Olha para mim. Vê como estou feliz. Vê o bem todo que ele me faz e traz: o nada e o tudo de que jamais foste capaz. Apesar de todas as oportunidades e de todo o tempo que te dei. Apesar de todo o significado e de todo o amor que te entreguei nas mãos, em tempos. Para onde levavas o tudo que eu te dava? Nunca o trazias contigo quando vinhas ao meu encontro. Vinhas sempre sem nada, nem sequer com uma desculpa que fosse. E eu nunca soube. Nunca soube sequer onde deixaras a chave do meu coração que eu te entregara, há tantas eras. Mas agora está na hora de tu saberes uma coisa: mudei de fechadura e essa tua chave já não serve de nada. 

É incrível, não é? Em tempos, esperei por ti até se me esgotar tudo e mais alguma coisa. Esperei por ti, mesmo quando me mandavas embora. Esperei por ti, à chuva, ao vento e ao frio, despida de tudo, longe de tudo – de ti, de mim mesma e do Mundo. Amar-te foi como viver numa estação de comboio: em que só vivia em espera e em esperança que chegasses. E tu chegavas, sempre com as típicas juras de amor eterno. Para partires, de novo. Finalmente me apercebi que mereço mais que isso. E já não era sem tempo. 


Eu estou feliz. E espero que o sejas também. Espero mesmo. Mas acredita que tenho pena. Tenho pena, porque tenho a certeza que mais ninguém te conseguirá fazer feliz como eu seria capaz. Mas tu nunca me deixaste entrar; e acredita: que muito bati à tua porta. Agora, aí te encontras: deixado no silêncio, nessa casa deserta, onde nem o bater do teu coração se faz sentir. E é pena. Porque eu sempre estive disposta a juntar todos os seus pedacinhos. A curar as suas feridas. Levasse o tempo que me levasse. Até isso estive disposta a dar-te: o meu tempo. Esse, que tanto te dei; esse, que jamais terei de volta.

Olha para mim. Olha uma última vez e só por um momento. Estou a acenar-te um “Adeus” mudo e a fechar-te infinitamente o meu coração. Esse, que batia e soletrava o teu nome de cor e salteado. E que, agora, tem outra música. E esta, desta vez, é-me correspondida, como a tua nunca foi. E é pena. Podíamos ter chegado tão longe, mas a tua falta de vontade, de paciência e de coragem impediu-nos de continuar a história que podia ter sido a mais bela das nossas vidas. (...) Tu é que perdeste.

Mas só queria que soubesses: que estou feliz e que espero que também o sejas. E que nunca desistas dos teus sonhos, como desististe de nós, como desististe de mim, como desististe de ti mesmo. Que pares de te esconder por detrás dessa máscara, que tanto achas que te protege. Mas não te protege de nada. (...) Tinhas tanto medo que o nosso Amor te destruísse... Mas a solidão é que será o teu fim. 

(...) Estás a ouvir isto? Não estás, pois não? Este é o meu silêncio: a única coisa que deixo para trás, na tua vida, onde não mais pertenço. Porque já me levaste mais do que merecias de mim. Adeus.

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Parem de deixar marcas em vão, pois elas não o são.

Nós deixamos rastos por todas as vidas que passamos. Deixamos marcas espalhadas pela pele de todas as pessoas que alguma vez tocámos. Nunca marques ninguém em vão, porque essas mesmas marcas nunca se tornarão vãs, por mais que o tempo passe. Ainda há dias observei os contornos das minhas costas, do meu pescoço... E por lá ainda achei rastos meio nítidos daqueles que por mim passaram. E é verdade. Uns marcam-nos mais do que outros. E, no entanto, somos incapazes de nos esquecer de quem quer que seja.

E, muitas vezes, é esse o nosso problema. Não reconhecemos o poder do nosso toque; do nosso marcar. Limitamo-nos a vaguear por aí e a passar pelas vidas de uns e de outros, nunca parando para pensar, por um segundo que seja, no que poderemos estar a deixar fincado nas suas vidas. E, depois, no fim dos fins, partimos... Nunca parando um segundo para olhar para trás, observar essa pessoa de frente, uma última vez, e reparar no quanto fomos capazes de alterá-la. De marcá-la. Nunca somos capazes de nos questionarmos acerca do quanto estamos prestes a deixar certas tatuagens no seu corpo, que ali ficarão sempre para assombrá-la.

Não há nenhuma lei, nem nenhuma força que nos imponha a ficar para sempre junto de alguém, quando ninguém dura para sempre. Mas devíamos respeitar-nos mais. Jamais abandonar quem quer que seja, como se não fosse nada. Jamais deixar alguém simplesmente a sangrar e a latejar em ferida, por nossa causa, sem deixar nada para trás. E o que é que nos custa? Desculpar-nos? Justificarmo-nos? Digam-me: o que é que custa fazê-lo?

Já que vamos marcar-nos uns aos outros, de qualquer maneira, ao menos que, quando for para tudo acabar, que seja em paz. E em respeito. Porque essa pessoa que estás a deixar sozinha e magoada, outrora foi a que te curou os arranhões que tinhas à volta do coração, deixados por outra que nem se importou. Lembras-te disso? 

Acreditem que, se assim o for, todas as feridas sararão mais depressa. E, assim, também mais depressa seremos todos capazes de seguir em frente.