quarta-feira, junho 25, 2014

Será possível amar-te (ainda) mais?


- Acreditas que amamos mais as pessoas em certos momentos? – perguntei-te, interrompendo o silêncio, enquanto guiavas o carro seguindo a linha da costa.

- Acho que não. – respondeste-me num encolher de ombros, nunca desviando o olhar da estrada de terra batida. – Amar não é por quantias. Não é nem mais nem menos. Simplesmente é. – disseste, ao som das ondas a rebentarem contra as rochas, a única sinfonia de que precisávamos ao longo da viagem.

- Talvez nem se trate disso. – desafiei-te, como tanto gostava de fazer – E se, num exacto instante, por mais breve que seja, olhamos para esse alguém e recebamos um vislumbre completamente diferente do que ao que estávamos habituados? Como se fôssemos capazes de captar tudo o que faz dessa pessoa o que é, ao mesmo tempo; num segundo fugaz?

Paraste o carro junto ao nosso local habitual, onde a estrada estava cortada há sabe lá quanto tempo. Saíste do veículo já com o típico cigarro aceso, sentando-te sob o capô.

- Não tenho a certeza se estou a perceber bem... Explica-te melhor. – pediste-me, expirando o fumo para o ar, enquanto me passavas um cigarro.

- Oh, esquece então. – disse-te, encolhendo os ombros. Um hábito teu que se tornara também num hábito meu, sem que eu sequer tivesse notado.

- Não, não esqueço! – insististe, encarando-me de frente. – Quero compreender o que te vai na cabeça. – e esboçaste um meio sorriso, tão típico de ti. Tão discreto e, no entanto, capaz de fazer tremer todos os centímetros do meu corpo.

Observei-te, naquele exacto momento: os teus olhos castanhos que embebidos com o brilho do sol, parecia que mudavam de cor; mas continuavam tão teus; tão profundos, curiosos e tão capazes de me fazerem perder neles como que um barco que perdeu os remos. E o teu cabelo que nunca tomava um rumo certo, como o oceano que se desenhava à nossa frente. E as tuas mãos... capazes de abarcar o meu mundo e o meu coração inteiro. E depois voltava a mirar os teus olhos, que nunca – por um segundo que fosse – se desencontravam dos meus. E havia qualquer coisa de diferente neles. Como se – naquele exacto momento – se tivessem tornado em completas orbes transparentes; janelas para a tua alma tão genuína, que eu tanto amava conhecer cada vez melhor.

- Sei lá – disse-te, rodeando os teus ombros com os meus braços, onde sempre se encaixaram tão perfeitamente -, talvez tenhas razão. Talvez não seja realmente possível amar-te mais do que te amo.

Sorriste e beijaste-me desafogadamente, como tanto costumavas fazer sempre que nos cumprimentávamos. E sempre que nos despedíamos. Porém, naquele momento, não estavas a fazer nem uma nem outra, apanhando-me de surpresa.

- Eu acho que vai ser sempre possível amar-te mais e mais, a cada dia que passa. – disseste-me, afastando uma madeixa minha de cabelo da frente do meu rosto. – Esta discussão ganhaste tu. – e riste-te para mim.

- Não concordo – desafiei-te de novo, beijando-te logo em seguida -, esta ganhámos os dois.

sábado, junho 21, 2014

Se pudesses ouvir-me agora... Mas não podes.


Se pudesses ouvir-me agora, eu dir-te-ia tantas, mas tantas coisas... Nem saberia por onde começar de tantas que são.

Penso que começaria por dizer-te o quanto me fazes falta, por entre estes dias que tive de dividir por um. Que não houve um único pôr-do-sol que não me fizesse lembrar-te, nem que fosse só por um breve momento. Nem nenhuma noite em que não adormecesse com a típica questão a zumbir-me ao ouvido: “onde será que estás agora?”.

Se pudesses ouvir-me agora, eu perguntar-te-ia se estavas bem. Se tens tido ressacas valentes ou constipações teimosas. Se tudo se mantém calmo lá por casa. Perguntar-te-ia o que tens feito por entre todos esses dias aonde eu não chego, nem apareço. Se também pensas em mim, neles. E se naquelas noites estreladas também dás por ti comigo no pensamento, mesmo que só por um breve momento.

É tão doloroso quando alguém que já foi tamanha parte de nós vira uma espécie de estranho. E como poderei eu chamar-te isso, quando sei tanto sobre ti? As tuas manias, os teus sonhos e todos os teus traços? Ainda os sei de cor, apesar de teres partido há tanto tempo... Será que mudaste de penteado? Será que emagreceste ou engordaste? Será que continuas a sorrir da mesma maneira? É tão estranho teres virado um estranho... Ainda me custa habituar-me a isso mesmo. É, quiçá, a maior das minhas dores. A seguir – claro – à de te ter visto partir, em primeiro lugar.


Se pudesses ouvir-me agora, eu dir-te-ia que deixamos marcas por todas vidas por que passamos – por mais brevemente que seja. E que, ao partirmos, condenamo-las a nunca mais voltarem a ser as mesmas. E as marcas – a única coisa que deixaste para trás – ainda me latejam e mudaram-me de uma forma que nem sabes.

Às vezes, pergunto-me o que faria se pudesse ver-te agora... Se sorriria para ti, ou simplesmente fingiria não te ter visto. Às vezes, pergunto-me qual de ambas seria a opção mais fácil. E, no entanto, chego sempre à mesma conclusão... Seria tão doloroso, de uma maneira ou de outra. Aperceber-me que nunca mais passaremos disto...

Se pudesses ouvir-me agora, eu dir-te-ia o quanto gostava que tudo tivesse sido diferente para nós. Que nunca tivesses virado um estranho. Que nunca tivesses partido. Mas isso não seria justo de maneira nenhuma.


Eu só quero que sejas feliz... E se consegues sê-lo sem mim, e eu sem ti, então é porque talvez – e só talvez – foi para isso que fomos feitos. Para duas vidas separadas, como dois estranhos que, outrora, acreditaram que jamais seria assim. Dois estranhos que foram história, que foram músicas, que foram fumo de cigarros e passeios nocturnos. Dois estranhos que, outrora, se conheceram e se amaram como ninguém.

Se pudesses ouvir-me agora... Não haveria nada que te pudesse dizer, na verdade. E não será essa a maior dor de todas? Quando simplesmente nenhumas palavras jamais serão suficientes? Quando já não há realmente nada a dizer?

segunda-feira, junho 16, 2014

Talvez, um dia. Um dia, talvez.


Um dia vais perceber que fomos feitos para mais do que isto. Só espero que, nesse dia, eu já não tenha encontrado algo melhor.

Um dia vais entender que vale sempre a pena continuar a lutar, por mais que nos mandem parar. Por mais fácil que seja o desistir. Por mais armas que nos faltem.

E tu costumavas dizer “já nem temos razões para acreditar”. E, aí, eu devia ter-te dito: “basta-nos uma”. Mas não o fiz. Já nem me lembro porquê.

Um dia vais sentir falta dos nossos passeios pela rua, meu amor. De misturarmos o doce do meu cappuccino, com o amargo do teu café. De darmos as mãos, às escondidas. Das nossas fugas por entre a madrugada, com a adrenalina a fervilhar no nosso sangue. Um dia vais aperceber-te que podíamos ter repetido tudo. Mas a tua cobardia e a tua preguiça não to permitiram voltar.

E tu costumavas dizer “vives tanto de contos de fadas. Acorda”. E, aí, eu deveria ter-te dito: “e tu perdes-te tanto na escuridão. Sai daí”, mas também não o fiz. E tu deixaste-te ficar. Ainda aí estás.


Um dia vamos arrepender-nos de não ter falado mais. Lutado mais. Amado mais. Só espero que, nesse dia, não seja tarde de mais para nós dois.

E, quiçá, um dia, nós compreendamos, finalmente, que temos de nos deixar de distracções. Um dia, deixarás a droga e eu deixarei a vida da noite. Um dia, arranjarás coragem no meio desse teu medo imperativo, e eu conseguirei batimento neste coração morto. Um dia, apanhamos um avião e planeamos um encontro no nosso local secreto. Mas, desta vez, será ao mesmo tempo. E não em dias diferentes.

Talvez, um dia. Um dia, talvez... voltes a lembrar-te da razão porque me amaste, em primeiro lugar. E, talvez, só talvez... dessa vez... venhas para ficar.

domingo, junho 15, 2014

Fazes-me acreditar no 'para sempre'.


Era uma vez uma menina com um grande coração. Havia algo de mágico na sua maneira de ser: seria a sua calma e tranquilidade? Ou, quiçá, a forma como não se mostrava totalmente a qualquer pessoa?

Crescera num meio rodeado de mentes fechadas, mas ela nunca se deixara influenciar por isso mesmo. Sorria à vida, simplesmente porque sim. Vivia os seus dias – um a um -, sempre com tanto amor nos bolsos, disposta a entregá-lo a quem o merecesse. Às vezes, enganava-se – como tantos outros. Noutras vezes, acertava – e era isso que contava, afinal de contas. Por muito que caísse, não era menina de fazer grandes cenas, ou de chorar em plena multidão. Calava-se, recolhia-se no seu canto e seguia viagem, sem nunca – por um segundo que fosse – pensar em desistir.

Como tantos outros, já havia sido vítima de julgamentos. Certos ou errados, que lhe interessava? Ela conhecia-se. Sabia os seus defeitos, as suas qualidades, os seus erros, e todas essas coisas que eram são e só suas. Só lhe interessavam aqueles que ficavam do seu lado, apesar de tudo isso. Era feliz da maneira mais simples e pacata que alguém pode ser. Abraçava com força tudo aquilo que possuía. O resto? O resto eram restos, e ela não era menina de viver deles.


Conheci essa menina há mais de uma década e ela não era, de todo, como tantos outros. Impressionante a forma como, ano após ano, sentia-me a transformar-me ao seu lado. Ela tinha esse poder sobre mim, sabiam? O poder de fazer-me querer ser sempre alguém melhor. Uma amiga melhor. Uma ouvinte melhor. Uma companhia melhor. Ainda hoje, passados tantos anos, ela continua com esse efeito avassalador sobre mim; e eu gosto tanto disso. E eu gosto tanto dela.

Pela nossa vida fora iremos conhecer tantas pessoas. Umas, estarão de passagem; vêm em forma de lições dolorosas, que tão desesperadamente temos de aprender. Outras, vêm para ficar; para nos ver crescer; para nos acompanharem por entre tempestades e tempos de glória. Por mais difícil que tudo se torne, essas ficam.

E depois, existem outras como tu, que tanto me ensinas, sem nunca teres de sair do meu lado. Que tanto me entregas, sem pedir nada em troca. Que tanto entendes as minhas falhas; que tanto me amas por tudo o que sou – não só o fácil, como também aquelas coisas mais difíceis de tolerar.

És-me tanto que nem imaginas. Amo-te em todo o teu melhor, e mais ainda no teu pior. Amo-te e comigo, para sempre, poderás contar. Por mais que o mundo e a vida mudem, nós não mudamos.

Obrigada por me fazeres acreditar no ‘para sempre’.

sexta-feira, junho 13, 2014

Quando te perdi (e então?)


Quando te perdi, disse a mim mesma que jamais voltaria a encontrar ninguém que me amasse como tu. Que me olhasse da maneira como me olhavas. Que me fizesse sentir tudo aquilo que senti do teu lado.

Quando te perdi, chorei durante 7 dias seguidos. Chorava, sem sequer reparar de imediato. Chorava, por mais que me contivesse. Chorava, porque parecia ser a única maneira de soltar toda a mágoa que continha cá dentro. E quando eu pensava que já se me haviam esgotado todas as lágrimas, eu desatava a chorar outra vez.

Quando te perdi, não tive uma boa noite de sono durante 15 dias. Deitava-me sem vontade alguma de acordar, no dia seguinte. Deitava-me, revirava-me na cama, por entre lençóis mais embaraçados que a minha cabeça, e nem pregava olho. Nuvens azuladas desenhavam-se debaixo dos meus olhos cansados, falecidos, sem esperança.

Quando te perdi, senti-me perdida de mim mesma. Deparava-me com o meu reflexo e nem me reconhecia. Achei que jamais voltaria a ser eu. E de que me serviria ser eu própria, se foi exactamente isso que te afastou de mim?

Quando te perdi, senti nojo da realidade que me rodeava... completamente desprovida de ti. Disse a mim mesma que jamais me iria conseguir sentir bem daquele jeito. Que jamais voltaria a ser feliz e completa. Que nunca nada voltaria a ser como era. (...)


Acabei por descobrir, 60 dias depois, que só um pensamento meu estava certo: tudo seria diferente a partir de agora, sem ti ao meu lado. Mas por entre esses dias, voltei a encontrar-me, num dia qualquer, quase sem notar. Olhei-me ao espelho e sorri para mim, levando a mão à cicatriz que deixaste no meu peito... que ainda batia. Sim, batia, mesmo quando eu já havia começado a pensar que estava morta por dentro.

Quando te perdi, perdi-te só a ti. E por muito doloroso que tenha sido, fez-me perceber o quão tenho de me amar mais a mim. Sequei as lágrimas, arrumei num baú tudo aquilo que me fazia lembrar-te e saí à rua. Eu sabia que não ia encontrar-te mais, por entre todos estes caminhos e, pela primeira vez, isso não me assustou, nem me fez chorar. Fez-me, por outro lado, olhar em volta e ver tantas pessoas... Ver que ainda há um mundo por aí à minha espera. Alguém que venha para ficar. Voltei a acreditar em todas aquelas coisas que deixara de acreditar, quando te perdi.

Quando te perdi... perdi-me para, depois, me voltar a encontrar.

Talvez o meu erro foi esse mesmo... pensar que precisava mesmo de ti para me achar a mim mesma, quando, na verdade, não preciso (mais) da tua ajuda. Eu basto-me. E que sensação libertadora é essa!...

quinta-feira, junho 12, 2014

Eu sei que te amo.


Eu sei que te amo, porque era capaz de fazer coisas por ti, que não era capaz de fazer por mais ninguém. Jamais! Como por exemplo: levar-te uma sopa a casa, quando estivesses doente. E não seria uma sopa qualquer; seria uma feita por mim, para que pudesses comer algo feito com amor, e não por uma fábrica qualquer. Quero levar-te lenços para te assoares e dizer-te piadas estúpidas, para que não fiques aborrecido. Quero verificar-te a febre e aturar o teu mau humor, típico de ti, que odeias ter de ficar em casa porque estás doente.

Eu sei que te amo, porque prefiro que me magoem a mim, do que te magoem a ti. Porque te aviso sempre – uma e outra vez – que estás prestes a confiar naquela rapariga que não vale a ponta de um corno. E mesmo que nem me ouças, eu continuo a avisar-te; mesmo que te chateies. Eu sei que te amo, porque mesmo quando tive razão e acabaram por magoar-te, eu não te digo “eu bem te avisei”. Simplesmente abraço-te e seco-te as lágrimas – uma a uma -, enquanto te sussurro um “vai ficar tudo bem”. Eu sei que te amo, porque quero dar uma bofetada a qualquer pessoa que te magoe: mesmo que sejam os teus pais, ou o teu chefe, ou um dos teus melhores amigos. Quero esbofeteá-los até me doerem as mãos.

Eu sei que te amo, porque me preocupo contigo quanto a coisas que só alguém que te ama é que se preocupa. Como por exemplo: se andas a dormir bem e nas horas certas. Se andas a alimentar-te bem e a consumir vitamina B suficiente. Se andas a beber ou a fumar demais. Preocupo-me contigo de forma maternal – se bem que a tua mãe nem se deve importar muito com vitamina B. Eu sei que te amo, porque me passo de cada vez que sei que estás a sentir-te pessimamente, mas és demasiado teimoso para ir ao médico.

Eu sei que te amo, porque te acho genuinamente lindo, mesmo quando não estás no teu melhor. E não me estou a referir a “giro” ou a “atraente”, mas sim a lindo – algo não meramente superficial e que nunca deixa de ser verdade, mesmo que o teu cabelo esteja uma autêntica desgraça ou que tenhas uma borbulha gigante na testa. Eu acho-te genuinamente lindo, mesmo que estejas completamente ressacado e a vomitar as tripas. Mesmo que tenhas o rosto em ferida, porque decidiste saltar de um sítio bem alto, só para ver como é que seria, (feito estúpido). Mesmo quando usas combinações de roupa que não lembram nem a um cego.

Eu sei que te amo, porque sou incapaz de abandonar-te mesmo quando estás a ser uma besta. Mesmo quando estás a ser 20 bestas ao mesmo tempo. Normalmente, mando bugiar quem me trata mal, mas eu amo-te, e compreendo que estejas frustrado, ou cansado, ou desiludido contigo mesmo e com as merdas que te acontecem às vezes. Mas também te amo o suficiente para te chamar à atenção e pedir-te para te acalmares um pouco. Eu sei que te amo, porque só alguém que te ama é que se importa o suficiente para te dizer que estás a ser uma besta na cara, em vez de fazê-lo por trás das tuas costas.

Eu sei que te amo, porque quero escutar-te, não só ouvir-te, seja a que hora for. Mesmo que esteja com olhos pesados, por serem 5 da manhã, quando te deu uma recaída por aquela tal rapariga; eu irei ouvir-te até ao fim. Até parares de chorar. Até parares de me dizer que vais ligar-lhe a implorar que volte para ti. Eu sei que te amo, porque basta me dizeres que precisas de te encontrar comigo para desabafar, que vou logo ao teu encontro. E, quando estou contigo, nem verifico o meu telemóvel de todo. Estou aqui para ti e o resto pode esperar.

Eu sei que te amo, porque estou verdadeiramente preocupada com o teu futuro. Não quero apenas que “tenhas um emprego bem pago”, ou “paz interior” e todas essas cenas da treta. Quero que alcances todos os teus maiores sonhos; que tenhas a mulher que te faça o mais feliz possível e que te conceda os filhos mais lindos do Mundo. Quero que sintas que todos os teus dias valem ouro, e que não andas só aqui a passar o tempo. Quero que tudo te corra bem, e quero estar lá a assistir (com umas cervejas a acompanhar, de preferência).

E, por fim, eu sei que te amo, porque seria capaz de fazer todas estas coisas por ti, sem ser capaz de pedir-te absolutamente nada em troca. Porque, mesmo quando me mentes, ou magoas, ou fazes merda, eu não sou capaz de desejar-te nenhum mal, por querer ver-te bem sempre. 

E fico ainda mais convencidíssima que te amo, por saber que nada do que faças, ou do que digas, ou do que falhes, me fará deixar de amar-te, assim, desta maneira... como eu te amo.

-thought catalog

terça-feira, junho 10, 2014

Continuo a gostar de ti.


Já não escrevia para ti há tanto tempo... Sei lá. Acho que depois de tantas cartas deixadas sem resposta, e tantos textos nunca entendidos guardados ao fundo de uma gaveta, simplesmente deixei de querer fazê-lo – escrever-te. Algo que outrora era a minha única maneira de chegar a ti. E talvez nunca sequer cheguei a fazê-lo; ou talvez sim. Quiçá?

E, no entanto, depois de tanto tempo – nem sei eu bem quanto -, cá estou eu a escrever-te de novo, apesar de ter-te dito incontáveis vezes que, para ti, as minhas palavras já estavam esgotadas. Mas como poderia isso ser possível, se o que sinto por ti nem se esgotou por completo?

Continuo a gostar de ti, apesar de todo o tempo que passou por nós. Mas, agora, é um sentimento diferente de outrora. Em dias, o amor que sentia consumia-me por completo; chegava a ser desolador e extremamente cansativo amar-te. Deixava-me fora de mim, porque eu fundia-me de tal modo em ti. Estava sempre atenta a cada um dos teus passos e a cada uma das tuas atitudes, capazes de elevar-me aos céus ou de me levarem à completa loucura. Era um amor doentio que parecia nunca se saciar por completo. Esfomeado, bruto, insano.

Agora simplesmente admiro-te e por ti tenho uma enorme estima que jamais perderei. Olho para ti e sorrio, enquanto me vou recordando de todas as nossas aventuras passadas. Relembro-as a todas – uma e uma – e vou sorrindo para mim com saudade. Não aquela saudade que nos deixa em mágoa, mas aquela que nos preenche com um calor no peito. Que nos aquece. Que nos faz suspirar e pensar o quão genuinamente bons foram aqueles momentos. E de tão imaculados e puros que foram, são deixados no Passado para jamais serem repetidos. E, no entanto, mesmo sabendo disso, continuo a sorrir, porque foi uma honra tê-los vivido contigo.

Tenho orgulho em nós, apesar de ser a primeira a admitir que sim, de facto, certas coisas deveriam ter sido feitas de outro jeito. Todavia, sei que nem eu, nem tu somos pessoas de arrependimentos. Tudo aconteceu como deveria ter acontecido. Tudo o que se passou trouxe-nos ao hoje. E a única certeza que tenho do ‘hoje’ é que continuo a ter-te na minha vida. E não será essa a melhor certeza de todas?

Escrevo-te esta carta simplesmente para saberes que, quando eu amo alguém realmente, jamais me esqueço dessa pessoa. E tu ficarás para sempre guardado comigo, neste cantinho do meu coração que se tornou eternamente teu. E eu quero-te cá. Eu gosto que aqui estejas, porque assim, naqueles momentos em que duvido que o amor existe, tenho-te a ti para me relembrares do quão real ele é.

Obrigada por seres quem és. Obrigada por continuares comigo. Obrigada por teres lutado pela nossa amizade, que é tão, mas vão valiosa. Obrigada por continuares a acreditar em mim, principalmente naqueles instantes em que eu deixo de o fazer.

E quem sabe o que nos espera em frente? Nem me interessa, na verdade. Só quero é que continues cá.

sexta-feira, junho 06, 2014

Um "quase talvez".


Se me ensinaste algo, outrora, foi que jamais nos devemos deixar ficar pelo ‘talvez, ou pelo ‘quase’. Costumavas dar-me todo o tipo de sermões (tantos, que muitos já esqueci), que giravam sempre à volta dessas mesmas palavras.

“O ‘quase consegui’ não muda nada. E o ‘talvez farei’ não te leva a lado nenhum”, dizias-me, sempre de cigarro na boca, enquanto bebericavas uma chávena de café puro.

Nunca foste homem de muitas palavras: foi esta a primeira coisa que conheci em ti. Amedrontou-me e fascinou-me, simultaneamente. E, no entanto, sempre soube que esse teu desprezo por elas não se tratava disso apenas. Temia-las. Sempre as temeste, pelo efeito que tinham em ti. Tentavas ignorá-las, fugir delas, evitá-las ao máximo... mas perseguiam-te. E eu (talvez) era essas mesmas palavras que tanto te assustavam, não era?

Em troca, ias-me deitando abaixo com as tuas atitudes: essas que sempre soubeste usar tão bem, (quase) sempre a teu favor. Eras como o vento tropical, que nunca sabemos bem para que lado irá soprar. Imprevisível. Brusco. Áspero. Sempre fora essa a tua maneira de lidar com as coisas. Dizias-me sempre que não eras homem de discutir. De gritar. De fazer qualquer tipo de filmes – tudo isso que eu era, não é verdade? Mas, na verdade, eu sabia-o: eras um homem com medo. Assustado com tudo o que não controla; com tudo o que fosse mais difícil de compreender.


E, assim, íamos vivendo: eu, de palavras nunca escutadas e de textos nunca entendidos. E tu, de silêncios perturbadores e de atitudes sem sentido. E foi exactamente dessa mesma forma que fomos morrendo, ambos, ao mesmo tempo.

E, no entanto... tenho a certeza que se nos perguntarem... ambos lhes responderíamos que nunca nos havíamos sentido tão vivos.

Juntos, tornámo-nos num “quase talvez”. Num hoje, talvez. Num quase amanhã. Num talvez Presente e num quase Futuro. Num talvez fim, e num quase recomeço. Tornámo-nos exactamente naquilo que mais abominávamos.

E, no entanto... no meio de tantas inseguranças, incertezas e dúvidas mais despenteadas que cabelos ao vento, conseguimos amar-nos um ao outro. Foi essa a maior surpresa de todas. A maior felicidade. E, ao mesmo tempo, o maior medo. O maior desafio.

E quanto ao nosso amor... nunca houve um “quase talvez”, ou um “talvez quase”. Esteve sempre lá, bem concedido nos olhares que trocávamos, enquanto eu falava para o silêncio que tu escolhias ser. Enquanto tu me afastavas e fugias das palavras que eu te entregava.

Fazíamos tão mal e tão bem, um ao outro... ainda hoje é assim. E tal como tudo o que toca a nós... não conseguimos compreender como é que tudo isto acontece. Mas acontece - porque é que isso não nos basta?.


Passaram-se anos e apercebo-me o quão errados estávamos, os dois: o Amor não vive de palavras. Não vive de silêncios. Não vive de atitudes. Não vive de ‘quases’, ou de 'talvezes'. O Amor vive por si só e preenche-nos como o ar que respiramos. Só assim. Sempre foi tão simples quanto isso...

Talvez, um dia... estaremos quase prontos para descomplicar o amor que sentimos um pelo outro.

quinta-feira, junho 05, 2014

"Somos, hoje, saudade."

Será que também apareço nas tuas noites quando o sono não vem? Como tu apareces nas minhas? Tenho sempre o mesmo sonho. Camuflados por entre o fumo do tabaco, suspiramos entre beijos demorados, enquanto me afagas o cabelo e entrelaças os teus dedos – num perfeito encaixe – com os meus. Albergo-me no teu abraço e sinto-te a vestires-me o teu casaco, como se - só assim – fosses capaz de me abrigar do mundo em volta, que sempre me tirou mais do que me deu. Agarravas-te a mim, num silêncio que sussurrava “de ti, ninguém me tira”. E, aí, eu choraria debruçada no teu peito, que batia em uníssono com o meu – como se fôssemos duas partes da mesma peça; como se fôssemos dois abismos que se unem na única certeza que existe: o amor por que tanto caímos. De olhos semi-cerrados, desejo que o tempo pare para sempre naquele momento. Tão nosso; só nosso – em que sou mais tu, do que eu mesma. E como poderia eu alguma vez ser eu, sem sendo tu?

E, aí, acordo com os raios de sol a invadirem-me o quarto por entre as persianas. E, aí, os murmúrios matinais segredam-me que já não estás mais aqui. E, esses raios – malditos -, é como se me rasgassem em pedacinhos ainda mais pequeninos – como se fosse possível despedaçar-me ainda mais. (...) E há quem diga que devemos seguir sempre a vontade do coração; mas, e quando este está quebrado desta maneira; em tantos estilhaços? Qual desses pedaços é que devo eu seguir? Qual desses me leva a ti?

O nosso erro foi termos deixado de ser nós contra ao mundo, para sermos um contra o outro. E nem demos conta de tal. Numa desgastante batalha, que ambos dizíamos ser por amor, acabámos por desgastá-lo; por desgastar-nos; e por desgastarmos as únicas armas que nos permitiriam continuar a lutar... Para além de nos termos perdido de nós mesmos e um do outro, perdemos tudo o que nos podia ter salvo. E como um barco em pleno naufrágio – quando nos apercebemos do quanto nos afundávamos, já era tarde para socorrer tudo o que era tão nosso.


Às vezes, imploro para que o tempo volte atrás, para que nunca te tivesse conhecido. Para que nunca te tivesse roubado aquele beijo, debaixo da chuva, sem que tivesses à espera. Para que nunca te tivesse amado, como se fosses pedaço do meu ser. Para que nunca me tivesses encontrado. Nunca... Assim, não doeria tanto estar perdida, tal qual como estou agora; pelo menos, assim, não saberia o quão bom é ser encontrada por alguém como tu.

Para sempre terás um pedaço de mim contigo, por mais infortúnios que nos separem; por mais tempo que se (nos) esgote. Sou-te mais do que alguma vez saberás. Sou-te, por mais que te afastes de mim e de ti. Sou-te, simplesmente por não saber ser sem ti. E eu amo-te demasiado para te deixar acreditar que consigo viver sem ti.

Fomos sonhos tornados reais – ou realidades que mais pareciam sonhos. Fomos fumo de cigarros em fins de tarde que cheiravam a verão e a mar. Fomos longas noites debaixo das estrelas, a pedir desejos em silêncio. Fomos sorrisos entre beijos arrepiantes. Fomos guerra – ou tudo ou nada! Fomos o porto de abrigo um do outro; dois poços cheios de dúvidas, cuja única certeza era o nosso amor - e só ele nos bastava. Fomos amor; frenético, egoísta e devorador, consumindo-nos por completo. Fomos tanto. Poderíamos ter sido tudo. Tido tudo; chegado ao fim do mundo, mas nunca ao nosso.

Mas, hoje, não passamos de saudade; e de sombras frívolas do que, outrora, era o nosso castelo; e de fantasmas de um passado que ambos deixámos morrer.