quarta-feira, junho 25, 2014

Será possível amar-te (ainda) mais?


- Acreditas que amamos mais as pessoas em certos momentos? – perguntei-te, interrompendo o silêncio, enquanto guiavas o carro seguindo a linha da costa.

- Acho que não. – respondeste-me num encolher de ombros, nunca desviando o olhar da estrada de terra batida. – Amar não é por quantias. Não é nem mais nem menos. Simplesmente é. – disseste, ao som das ondas a rebentarem contra as rochas, a única sinfonia de que precisávamos ao longo da viagem.

- Talvez nem se trate disso. – desafiei-te, como tanto gostava de fazer – E se, num exacto instante, por mais breve que seja, olhamos para esse alguém e recebamos um vislumbre completamente diferente do que ao que estávamos habituados? Como se fôssemos capazes de captar tudo o que faz dessa pessoa o que é, ao mesmo tempo; num segundo fugaz?

Paraste o carro junto ao nosso local habitual, onde a estrada estava cortada há sabe lá quanto tempo. Saíste do veículo já com o típico cigarro aceso, sentando-te sob o capô.

- Não tenho a certeza se estou a perceber bem... Explica-te melhor. – pediste-me, expirando o fumo para o ar, enquanto me passavas um cigarro.

- Oh, esquece então. – disse-te, encolhendo os ombros. Um hábito teu que se tornara também num hábito meu, sem que eu sequer tivesse notado.

- Não, não esqueço! – insististe, encarando-me de frente. – Quero compreender o que te vai na cabeça. – e esboçaste um meio sorriso, tão típico de ti. Tão discreto e, no entanto, capaz de fazer tremer todos os centímetros do meu corpo.

Observei-te, naquele exacto momento: os teus olhos castanhos que embebidos com o brilho do sol, parecia que mudavam de cor; mas continuavam tão teus; tão profundos, curiosos e tão capazes de me fazerem perder neles como que um barco que perdeu os remos. E o teu cabelo que nunca tomava um rumo certo, como o oceano que se desenhava à nossa frente. E as tuas mãos... capazes de abarcar o meu mundo e o meu coração inteiro. E depois voltava a mirar os teus olhos, que nunca – por um segundo que fosse – se desencontravam dos meus. E havia qualquer coisa de diferente neles. Como se – naquele exacto momento – se tivessem tornado em completas orbes transparentes; janelas para a tua alma tão genuína, que eu tanto amava conhecer cada vez melhor.

- Sei lá – disse-te, rodeando os teus ombros com os meus braços, onde sempre se encaixaram tão perfeitamente -, talvez tenhas razão. Talvez não seja realmente possível amar-te mais do que te amo.

Sorriste e beijaste-me desafogadamente, como tanto costumavas fazer sempre que nos cumprimentávamos. E sempre que nos despedíamos. Porém, naquele momento, não estavas a fazer nem uma nem outra, apanhando-me de surpresa.

- Eu acho que vai ser sempre possível amar-te mais e mais, a cada dia que passa. – disseste-me, afastando uma madeixa minha de cabelo da frente do meu rosto. – Esta discussão ganhaste tu. – e riste-te para mim.

- Não concordo – desafiei-te de novo, beijando-te logo em seguida -, esta ganhámos os dois.

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