sábado, setembro 27, 2014

Díalogos (frios) entre amigos II

Ele: Talvez o amor não deva durar. Nós é que queremos que assim seja...
Ela: Eu acredito que o amor dura se forem dois a querer. Só que a partir do momento em que um vacila, tudo o faz. Mas isso não quer dizer que não seja feito para durar... Depende, percebes?
Ele: Sinceramente, não sei. Acho que acredito tanto que existirá alguns amores eternos, como acredito que não existem. 
Ela: Eu também. Só tenho medo – muito mesmo – de nunca vir a conhecer um amor eterno na minha vida... É estúpido sentir-me assim?
Ele: O mal de todos nós é acreditarmos no amor eterno e tentarmos encaixá-lo em todas as pessoas com que estamos. O que não é saudável, nem tão-pouco realista. E não, não é estúpido sentires-te assim. Eu também tenho medo disso.
Ela: Ora aí está. E essa ideia é repugnante para mim. Como se o amor fosse uma peça de roupa que oferecemos a qualquer pessoa que nos apareça, só à espera que sirva na perfeição.
Ele: Eu também sonho com uma pessoa que ame sem regra; que queira ir até ao fim do mundo comigo; que queira ser irracional sem ter medo disso... Mas isso não se busca, encontra-se...
Ela: Eu sinceramente gostava que alguém viesse buscar-me... Estou farta de não ser encontrada por ninguém. Pelo menos que valha a pena.
Ele: Eu também, mas só se sofre com isso. Não vale a pena desejarmos isso incessantemente. Temos de aprender a viver sozinhos.
Ela: Já estou há tanto tempo sozinha que nem tive outra opção...
Ele: Também é saudável estarmos sós.
Ela: Eu sei. Mas não em demasia. E eu tenho medo de estar a ultrapassar essa linha...
Ele: De certeza que não estás... Quando alguém vale a pena, acaba por aparecer, mesmo que o tentemos evitar.
Ela: Já nem sei saber quem vale a pena. Juro-te que já não consigo distinguir de todo, e isso assusta-me. Mas enfim... Também não me parece que alguém vá aparecer tão cedo. Talvez seja melhor.
Ele: Não penses nisso... Aproveita para te divertires.
Ela: É o que resta, não é? E é o que faço. Então e tu? Não te vai fazer confusão ficares sozinho, depois de tanto tempo?
Ele: Ando a fugir a isso... Mas vai ter de ser. É o melhor.
Ela: Eu sei que andas... Mas não precisas. Não é tão assustador assim. Uma pessoa habitua-se.
Ele: Habituaste-te à solidão?
Ela: Às vezes, nem a sinto... Mas sei que existe.
Ele: ...
Ela: Os primeiros tempos da solidão são os mais solitários. Mas, depois de tanto tempo, já nem te lembras de outra coisa. Recordas-te, sim. Haverá dias em que sentirás falta de tanta coisa. Noutros, sentes-te mais livre do que nunca. É uma oscilação de dias bons e dias maus. Ao dares por ti, já nem sabes bem o que é não estar sozinho.
Ele: Obrigado.
Ela: Porquê?
Ele: Foi a primeira vez que me senti menos assustado com a ideia de solidão.
Ela: Obrigada eu.
Ele: Porquê?
Ela: Foi a primeira vez, nos últimos tempos, em que não me senti tão sozinha.

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