terça-feira, setembro 30, 2014

Tu não sabes merda nenhuma.


Sabes lá tu o que é amar. Não passas de um miúdo. Olha para ti! Facilmente encantado pelo mais pequeno vislumbre de atenção. Inebriado por novas experiências fugazes e – uma a uma – falhadas. De copo numa mão e cigarro na outra, sem quaisquer preocupações. Olha para ti. Que sabes tu do amor? Que sabes tu de noites em branco, a recordar momentos – uns atrás dos outros – que jamais se voltarão a repetir, por mais que o desejes? Que sabes tu de cair em prantos incontroláveis, a única maneira – mesmo que vã – de apaziguar toda essa dor que te arde no peito? Que sabes tu de agarrar uma mão, durante tanto tempo - apesar de tudo -, e que de repente deixa de segurar a tua, sem sequer um aviso? Que sabes tu de guardar um “amo-te” secreto debaixo da língua, sempre com medo que este se soltasse, como se não passasse de um crime? Que sabes tu de fingir que não sente nada, amando no silêncio? Chorando às escondidas?

Sabes lá tu do que passei. Como poderias? Não passas de um miúdo estúpido. Os teus olhos nunca foram mais longe do teu próprio umbigo. E o teu coração nunca sequer sofreu a real agonia de ser deixado na dúvida. Ou pior: no esquecimento. E os teus braços nunca sentiram a dor da perda; da perda de outro corpo que escolheu partir, para não mais te abraçar. Sabes lá tu. Sabes lá tu o que é sofrer por quem se ama. Aquele sofrimento que nos arranca o tecto, o chão, e tudo ao mesmo tempo. Aquele que nem as lágrimas são capazes de apaziguar. Aquele que se planta sob a nossa pele, fazendo-a temer qualquer toque. Sabes lá tu o que é ter medo. Aquele medo de dar um passo que seja, de tantas vezes que caímos. Aquele medo de jamais encontrar o caminho certo, de tanto nos termos perdido em becos sem saído. Aquele medo de jamais nos cruzarmos com a pessoa certa, por já nem conseguirmos acreditar que ela existe. Sabes lá tu o que isso é.


Sabes lá tu o que é o amor. Não passas de um miúdo. E o amor é um jogo de homens. Ou deveria ser. Armas-te em malabarista de corações, mas não passas de um palhaço de circo. Armas-te em romântico, mas só quando te dá jeito, ou quando te é conveniente. Para ti, o amor é isso mesmo. É estar perto. É ser simplório. É não trazer muitos dramas à baila. É levá-la a sair ao fim-de-semana, e fazer sexo. É ter o mesmo tarifário de telemóvel. Sabes lá tu o que significa amar realmente. Sabes lá tu o que é ir atrás, mesmo que te mandem embora. Sabes lá tu o que é lutar, mesmo que sem armas. Sabes lá tu o que é ir contra o mundo e contra todos, se for preciso, por quem amas. Sabes lá tu o que é não desistir à primeira tempestade.

Que sabes tu de sentir saudades que, de tão grandes que são, fincam-nos o peito como agulhas? Que sabes tu de ver quem amas apaixonado por outra pessoa? Que sabes tu de fingir que nem te importas, só para que esse alguém seja feliz, mesmo que não do teu lado? Que sabes tu de ter de desistir da história da tua vida, só porque não te deram outra opção? (...) Que sabes tu de ver quem mais amas a ir embora, sem que o pudesses impedir? Que sabes tu de ter de voltar a uma casa vazia, ainda com o cheiro de quem partiu? Que sabes tu de dias infindos, que não te sabem a nada; que não te levam a lado nenhum, simplesmente por estares tão só? Que sabes tu de saber que a outra pessoa – outrora, o teu mundo -, está agora a construir outro com alguém, que não tu?


Que sabes tu sobre ser deixado para trás? Que sabes tu sobre nunca ser o suficiente, apesar de teres tentado com tudo o que tinhas? Que sabes tu sobre continuar a amar, mesmo que (já) nem te valha de nada? Que sabes tu sobre amar, quem já te esqueceu? Que sabes tu sobre amar para o silêncio secreto do teu coração, que chama por um nome que jamais te voltará a responder?

O amor é tudo isto, sabias? Sabes lá. Como poderias? Sempre amaram por ti.

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