sábado, outubro 25, 2014

Por favor. Peço-te. Pára e deixa-me.


Por favor. Peço-te por tudo. Pára de encurralar-me no mesmo beco sem saída. Pára e deixa-me ir. Porque é que continuas aqui? Deixa-me só, na solidão em que fui obrigada a tornar-me. Deixa-me na mágoa toda com que me inundaste. Deixa-me na dor que plantaste à flor da minha pele. Deixa-me no silêncio a que me submeteste. Deixa-me.

Eu estou a tentar. Eu juro-te que estou. Mas parece que não me deixas. Para onde quer que eu olhe, encontro-te sem querer. Seja nas noites de insónias, aonde me assaltas os sonhos (e pesadelos), sem pedir permissão. Seja naquelas ruas onde costumávamos passear lado a lado. Seja nas músicas que me dedicaste, outrora. Seja nas palavras que me entregaste e que trago sempre comigo nos bolsos – e foram tantas. (Será que sequer as lembras?)

Cansei-me de esperar que tudo melhorasse para nós os dois. Deixei-me de acreditar que, um dia, largarias tudo isso que te prende – o medo, as outras, a falta de vontade – e ficarias comigo de vez. Cansei. Estás a ouvir-me? Já cá mais não estou à espera que te decidas. À espera que te apercebas do quão capaz eu seria por ti. À espera que percebas que é ao meu lado aonde deverias estar. Porque é que eu hei-de desperdiçar mais um dia que seja a tentar convencer-te, se deveria partir logo de ti?


Já lá vai o tempo em que me merecias. O meu abraço – que era a tua casa. O meu beijo – que era a morte da tua sede. O meu coração – que era só e todo para ti. E a minha vida – que era tão nossa.

Por favor. Peço-te por tudo. Deixa-me estar. Segue sem mim, de uma vez. Mas não voltes mais. Nem hesites. Cansada já eu estou que partas, só para voltar – uma e outra vez. Sempre com as mesmas dúvidas e os mesmos erros debaixo das mangas. Cansada já eu estou de ver-te partir – uma e outra vez -, sem nunca dizer nada, como se eu não passasse disso mesmo.

De facto, tu tinhas razão, de todas aquelas vezes em que me dizias que, juntos, éramos a melhor dupla. Tinhas razão. Porque eu sempre fui uma pró a criar altas expectativas para ti; e tu um ás em deitá-las abaixo, logo em seguida. Tinhas razão. Melhor não há!

Acabou-se, ouviste? Acabou, para mim. Vou fechar-te esta porta. Vou mudar de fechadura. Vou apagar o teu nome por todas essas ruas; desligar-me de todas aquelas músicas; afastar-me indubitavelmente de ti. E se um dia, mais tarde, sentires a minha falta, fala para o vazio. Bate a uma porta trancada. Senta-te no alpendre, à chuva, à espera de uma resposta minha que jamais virá. Recebe nada mais que silêncio: um que te sufoca e que te arde num peito que tem tanto a dizer.

Talvez aí finalmente percebas aquilo que me fizeste sentir, durante tanto tempo.

quinta-feira, outubro 23, 2014

Agarra no telemóvel. Agora, liga-lhe.


Agarra no telemóvel. Já está? Agora, insere os dígitos certos. Está? Então, agora, liga-lhe. Ou manda-lhe uma mensagem; como preferires. Está na hora. É agora. Tem de ser. A espera terminou.

Não te deixes ficar – nem mais um único dia – nesse impasse. O que tens a perder, afinal? O que é que se tem a perder, quando já nada é certo de se ter? Anda lá e diz-lhe. Diz-lhe tudo, sem hesitar. Não tenhas medo de tropeçar nas palavras, ou de ficar uns dez minutos em silêncio, sem saber como começar. Liga-lhe e confessa-te. Diz-lhe que é tudo ou nada, e que não cá mais intermédios para ninguém. Que ou é, ou não é. Liga-lhe, e diz-lhe: acabou-se a hora de fugir. E de evitar todas as perguntas que têm de ser feitas e respondidas. Liga-lhe e diz para deixar de ser cobarde e encarar-te de frente. A ti, e aos seus actos. Diz-lhe que, por mais que ele fuja, no final, serão sempre os dois a decidir. Diz-lhe que te cansaste de esperar pelo incerto; que te cansaste das dúvidas, dos pontos de interrogação e das reticências. Liga-lhe e grita-lhe, se for preciso. Tu não queres mais sentir-te um vaivém na sua vida. Tu estás farta de nem saberes o que representas para ele, afinal de contas. E tu não toleras – nem mais um único dia – neste típico labirinto; nesta mesma peça de teatro, que já nem espectadores tem. Liga-lhe. Está na hora de saber.


Pergunta-lhe se ele acha justo. Vá, pergunta-lhe. Se ele acha justo deixar-te rodeada de questões e suposições, que tanto te cansam a cabeça, dia após dia; que te arrancam do sono, à noite. Se ele acha merecido o facto de, nuns dias, te tratar como a maior prioridade, para, noutros, te fazer sentir como última opção. Pergunta-lhe. Pergunta-lhe se ele acha justo ser os dias todos do teu calendário, enquanto te trata como um entretenimento para as horas vagas. Pergunta-lhe, e se o deixares sem resposta, aí tens a que precisavas.

Diz-lhe que podes adorá-lo o quanto baste, mas que se “isto” é o tudo que ele te pode dar, então não te merece de todo. Diz-lhe, enquanto tentas suster as lágrimas, que estás demasiado cansada para continuar a lutar sozinha. Diz-lhe, que a única coisa que querias realmente era fazê-lo feliz, enquanto ele está demasiado ocupado a fazer de tudo para manter-se miserável.

Despede-te dele. Vá, tens de desligar agora. Está na hora. O pior já passou.

Agora é a vez dele, de agir. De correr atrás. De fazer-te mudar de ideias. De implorar-te para que o deixes provar-te de que ele é o homem por quem te apaixonaste; alguém que vale realmente a pena. Caso ele não o faça, acredita que ele está a fazer-te o maior favor de todos.

Se ele não está cá para ti, agora, quando mais precisas... Quando é que vai estar? Aí está: nunca.

terça-feira, outubro 21, 2014

O que podíamos ter sido (?)


O que podíamos ter sido? Nunca o saberei. Já lá vai. Já passou. É isto que mais me desconcentra acerca do Amor... Como num momento, é tão grande e é tão tudo; tão maior do que todas as outras coisas. E depois? Perde-se por uma coisa de nada, e tão dificilmente se volta a encontrar.

Marcaste-me como ninguém. Até agora. À noite, sou embalada pelas palavras que costumavas sussurrar-me ao ouvido. Como se ainda estivesses aqui a dizer-mas. Fujo do sono, com medo de as perder para sempre – como te perdi a ti. E, neste quarto, ainda sinto o teu aroma sóbrio a noites de Inverno. Como se estivesses cá estado ontem. E à flor da minha pele, ainda sinto o ardor da tua. Mesmo que já faça uma era desde a última vez que me tocaste.

O que podíamos ter sido? Não sei. Mas sei o que fomos, outrora. Fomos tudo aquilo que conseguimos ser. Acreditas em mim? Acreditas em mim, quando te digo o quão felizes fomos? E nem nos apercebíamos disso na altura. Limitávamo-nos a viver e a amar como se fosse para sempre... O amor é mesmo assim. É ignorar o fim a cada esquina. O adeus a cada final do dia. E o pesadelo que seria a vida sem o outro.


Mas o fim apareceu-nos, meu velho amor. Como nunca esperáramos, mas como seria de esperar. O para sempre tem o tamanho que nós lhe damos, e nós tivemos o nosso. Ao teu lado, nunca contei dias, momentos, horas ou o que quer que fosse. Soube-me tudo a infinitos. Amar é mesmo isso, sabias? É viver cada dia ao lado de quem amamos como se fosse o primeiro e o último, simultaneamente.

Podíamos ter sido mais. Podíamos ter sido menos. Mas o Amor nem é nem mais, nem menos. É. Simplesmente é. E nem sabes o quão feliz me encontro por poder dizer – em voz alta – o quanto o vivi contigo.

Não escolhemos quem amamos. Não escolhemos quem nos magoa. No entanto, a escolha é nossa no que toca a quem vale a pena amar. E por quem vale a pena sofrer. Amar-te foi um privilégio e sofrer por ti foi uma honra. E como poderia arrepender-me do que quer que seja no que toca a ti, se foste a escolha que mais quis em tempos?

Respeitem o amor. As suas questões, os seus dramas e também o seu fim. Muitas vezes, ao tentarmos salvá-lo, agarramo-lo com demasiada força... acabando por sufocá-lo. Obrigada por me teres ensinado que, muitas vezes, amar é deixar ir. Deixar ser livre para voltar, ou não voltar nunca mais. Logo se vê.


O que podíamos ter sido? Nunca saberemos. Já lá foi. Já passou. E, no entanto... Teremos sempre o nosso para sempre lá atrás. Imortal e enclausurado nas memórias que vivemos a dois: nos lugares, nas músicas, nos gestos, nos segredos. Algures num tempo qualquer.

O Amor é assim. Não é passado, nem presente, nem futuro. É. Simplesmente é. Por mais que nem faça sentido... Por mais que os tudo's virem nada's. O Amor é mesmo assim. Acreditas em mim quanto de digo que não mudaria nada?

domingo, outubro 19, 2014

PAIXÃO vs. AMOR


Espero que estejas bem. Eu sei que estás. Nunca foste, de todo, pessoa de se deixar ir abaixo. Costumavas dizer-me, tantas vezes, que o segredo da vida era simplesmente dar a volta por cima. Fazia-lo parecer tão simples quanto isso. E, em tempos, fizeste-me acreditar que fosse mesmo assim.

Mas isso foi no tempo dos segredos. Das confissões. Das conversas intermináveis. No tempo em que todas as coisas eram possíveis. No tempo em que tínhamos sempre tanto para dar um ao outro. E, mesmo que não o tivéssemos, entregar-nos-íamos despidos, livres de nada, e assim nos deixaríamos ficar. No tempo em que até o nada nos era suficiente, porque estávamos juntos.

Espero mesmo que estejas bem. Eu sei que estás. Apesar de não estar aí a ver-te sorrir, imagino-te a fazê-lo como só tu o sabes. E apesar de estarmos tão longe – e mais: tão distantes -, imagino-nos naqueles tempos longínquos, a sorrir para o nada e para o tudo que nos rodeava. Quero-nos a ambos felizes. Mesmo que em vidas completamente separadas. O amor é isso mesmo; talvez.

Ensinaste-me que estar apaixonada é inteiramente diferente de amar alguém. Quando estamos apaixonados, queremos perdidamente essa pessoa. E nenhum tempo com ela nos parece suficiente. Queremos sempre mais. Queremos consumi-la ao máximo; tê-la com tudo o que é. Sentimo-nos como que a flutuar e os dias ganham-nos outra cor; e tudo nos aparece como um sonho. E nós não queremos acordar.

Amar, por outro lado, transcende tudo isso. Amar é precisar dessa pessoa na nossa vida, seja de que maneira for. Não se trata de a ter, de todo, mas sim de nos entregarmos aos poucos e cada vez mais. Amar deixa de ser tanto acerca daquilo que nós próprios sentimos, para passar a ser aquilo que a outra pessoa sente. Fazê-la feliz ao máximo, para que sejamos felizes, em segundo lugar. Não se trata de querer sempre mais, mas sim de lutar de forma a manter tudo o que já existe. E queremos-lhe sempre o melhor, mesmo que tal signifique deixá-la ir.

Estar apaixonada é sentir que a pessoa é a mais formidável do planeta e arredores. Amar, no entanto, é assumir todos os seus defeitos, vícios e manhas, como tudo aquilo que faz parte dela: quem amamos. Compreendes a diferença? Uma paixão é mais fácil de lidar do que um amor, exactamente por isto. Uma paixão tolerará as tuas imperfeições; um amor, ama-las. Simples. Ou talvez não. O amor nunca é simples.

Amar alguém acaba por definir o nosso ser, e mesmo quando esse parte, nunca nos deixa por completo; na medida que nos marcou para sempre. Mesmo quando saem das nossas vidas, deixam-nas mudadas; deixam-nos mudados também. Quando amamos alguém, simplesmente não conseguimos deixar de amá-lo, porque isso significaria deixar de nos amarmos a nós próprios.


Eu espero que estejas feliz. Eu sei que estás. E eu preciso que o sejas, mesmo que sem mim. A minha felicidade de nada me serve, se significar a tua miserabilidade. Entendes? Entendes o que significa amar-te assim, como te amo? Espero que, um dia, também tu sejas capaz de o fazer. Seja com quem for. E mais: espero que esse alguém te ame de volta. Espero que desejes o mesmo para mim.


sempre a amar-te de perto e de longe...

sábado, outubro 18, 2014

Eles amaram-se. Eles destruíram-se.


Ela amava-o mais do que ele a amava. E ele amava-a mais do que ela alguma vez conseguiria amar-se a si própria. Há quem diga que foi um daqueles amores condenados à nascença, e com pena de morte já traçada. E, no entanto, amaram-se na mesma. Inconvencionalmente e sem quaisquer tipos de crenças, amaram-se. Quiçá, com tudo o que tinham nos bolsos – que era (sempre) tão pouco.

Nunca se completaram um ao outro. Nem nunca o pretenderam. Amavam-se ao contrário: no que lhes faltava; nas suas grandes faltas e falhas. De alguma maneira, que ninguém compreendia, - nem eles mesmos -, isso tornara-se no suficiente para fazer (sobre)viver o amor. Ele não tinha vontade de ir atrás dela; e ela não tinha vontade para esperar. A ele, faltava-lhe a paciência para a escutar. A ela, faltava-lhe a paciência para decifrar os seus silêncios.

E era assim: nunca concordavam com absolutamente nada. E cada discussão tornava-se mais sem-sentido que a antecedente. Discussões? Nem isso eram. Não passavam, na verdade, de meras corridas por entre labirintos, para ver quem chegava primeiro ao mesmo beco sem saída. Foi nisso que eles se haviam tornado. Sabem lá desde quando.

E ela perguntava-lhe: desde quando é que somos assim? Mas já lá ia o tempo em que ele lhe respondia. Ele tentava abraçá-la, às vezes, e ela fechava-se num nó por entre muralhas, como se cada toque seu a queimasse. Mas eles amavam-se. Amavam-se com tudo o que tinham e mais ainda com o que não tinham. E ao amarem-se assim, desgastaram-se. Esgotaram-se. E aperceberam-se de que, por vezes, por muito maior que seja o amor, de nada nos serve se só nos corrói por dentro.


E o amor deles era assim. Um crime disfarçado por beijos quentes – uns a seguir aos outros. Uma tortura demorada por entre noites sombrias e secretas de afectos. Um silêncio que os sufocava e os ardia – cada vez mais – em ambos os seus peitos.


Era mesmo isso que eles eram: uma história de amor sem direito a final feliz. Uma história de amor sem direito a final de todo. E haverá coisa mais desconcertante do que essa?

Não eram felizes juntos. Não eram felizes separados. Mas amavam-se. Amavam-se miseráveis, tal qual a doença incurável, que vai ocupando cada centímetro dos seus corpos. E eles não o temiam, porque se tinham. Sem se aperceberem, tinham-se sempre lá. Sabem lá eles porquê.

Ele dizia-lhe que não a conseguia aturar. Ela chamava-o de otário sem escrúpulos. Mas, a qualquer dia, voltavam sempre aos braços um do outro, fosse porque razão fosse. E talvez a razão fosse mesmo essa: o amor. Ferido, desgastado, doentio. O amor. Cego, egoísta, masoquista. Foi nisso que eles se tornaram. Ou quiçá, sempre o foram.

Quem sabe? Nem eles sabem.