sábado, outubro 18, 2014

Eles amaram-se. Eles destruíram-se.


Ela amava-o mais do que ele a amava. E ele amava-a mais do que ela alguma vez conseguiria amar-se a si própria. Há quem diga que foi um daqueles amores condenados à nascença, e com pena de morte já traçada. E, no entanto, amaram-se na mesma. Inconvencionalmente e sem quaisquer tipos de crenças, amaram-se. Quiçá, com tudo o que tinham nos bolsos – que era (sempre) tão pouco.

Nunca se completaram um ao outro. Nem nunca o pretenderam. Amavam-se ao contrário: no que lhes faltava; nas suas grandes faltas e falhas. De alguma maneira, que ninguém compreendia, - nem eles mesmos -, isso tornara-se no suficiente para fazer (sobre)viver o amor. Ele não tinha vontade de ir atrás dela; e ela não tinha vontade para esperar. A ele, faltava-lhe a paciência para a escutar. A ela, faltava-lhe a paciência para decifrar os seus silêncios.

E era assim: nunca concordavam com absolutamente nada. E cada discussão tornava-se mais sem-sentido que a antecedente. Discussões? Nem isso eram. Não passavam, na verdade, de meras corridas por entre labirintos, para ver quem chegava primeiro ao mesmo beco sem saída. Foi nisso que eles se haviam tornado. Sabem lá desde quando.

E ela perguntava-lhe: desde quando é que somos assim? Mas já lá ia o tempo em que ele lhe respondia. Ele tentava abraçá-la, às vezes, e ela fechava-se num nó por entre muralhas, como se cada toque seu a queimasse. Mas eles amavam-se. Amavam-se com tudo o que tinham e mais ainda com o que não tinham. E ao amarem-se assim, desgastaram-se. Esgotaram-se. E aperceberam-se de que, por vezes, por muito maior que seja o amor, de nada nos serve se só nos corrói por dentro.


E o amor deles era assim. Um crime disfarçado por beijos quentes – uns a seguir aos outros. Uma tortura demorada por entre noites sombrias e secretas de afectos. Um silêncio que os sufocava e os ardia – cada vez mais – em ambos os seus peitos.


Era mesmo isso que eles eram: uma história de amor sem direito a final feliz. Uma história de amor sem direito a final de todo. E haverá coisa mais desconcertante do que essa?

Não eram felizes juntos. Não eram felizes separados. Mas amavam-se. Amavam-se miseráveis, tal qual a doença incurável, que vai ocupando cada centímetro dos seus corpos. E eles não o temiam, porque se tinham. Sem se aperceberem, tinham-se sempre lá. Sabem lá eles porquê.

Ele dizia-lhe que não a conseguia aturar. Ela chamava-o de otário sem escrúpulos. Mas, a qualquer dia, voltavam sempre aos braços um do outro, fosse porque razão fosse. E talvez a razão fosse mesmo essa: o amor. Ferido, desgastado, doentio. O amor. Cego, egoísta, masoquista. Foi nisso que eles se tornaram. Ou quiçá, sempre o foram.

Quem sabe? Nem eles sabem.

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