quarta-feira, novembro 26, 2014

A porta é serventia da casa.

Os anos passam por ti e tu sentes-te quase que imutável. Ao longo do tempo, nem dás por nada e, no entanto, ao olhares para trás... Aí sim, apercebes-te do quanto cresceste e do quão diferente está a tua maneira de lidar com todo o tipo de coisas.


Lembro-me tão bem do sufoco que sentia, ao sentir alguém – que sempre me fora tanto – a afastar-se derradeiramente de mim, sem qualquer justificação ou razão clara. Passava-me por completo. Perdia-me em questões e mais questões: “Aonde errei? O que é que será que fiz de mal? E o que posso fazer para que tudo volte ao que era dantes?”. Quase que perdia noites de sono, a rebolar na cama, de um lado para o outro, a sentir-me tão culpada sem saber sequer o porquê.

Mas depois tu cresces. Tu cresces e aprendes. Aprendes que, independentemente de tudo o que já fizeste por outrem, ninguém é obrigado a retribuir-te o que quer que seja. Ninguém tem um contrato vitalício assinado e carimbado, para que fique ao teu lado para sempre. E que, por muitos esforços que faças, simplesmente existirão pessoas que, lenta e gradualmente, seguirão outros caminhos que não mais coincidem com os teus. Ninguém é forçado a nada. São os que o fazem; que ficam, de qualquer maneira e sem lhes ser pedido, que valem realmente a pena.


Costumava ficar tão ressentida com as pessoas, outrora. Ou porque pareciam não estar cá para mim como eu sempre estivera para elas. Ou porque simplesmente se iam desligando cada vez mais da minha vida. Ficava de tal modo magoada, que nem conseguia pensar noutra coisa. “Porque é que estás diferente? Será que deixei de ser interessante para ti? Será que te apercebeste que, afinal, a nossa amizade não valia a pena?”.

Mas depois cresci. Cresci e aprendi. Aprendi que a vida corre como um rio, que não volta mais atrás. E que algumas pessoas vão entrando na tua vida, aproximando-se de ti e marcando-a por tudo o que são; e, depois – e nem sempre por uma causa qualquer definida –, vão deixando cada vez mais de cá estar. Por vezes, aos poucos. Noutras, tudo de uma vez. E, no entanto, são essas mesmas as que – quiçá – te ensinam mais que quaisquer outras. Essas lições tão dolorosas, que tão desesperadamente temos de aprender. É a isso que te deves agarrar, e não a mágoas, nem a rancores, que não passam de puro desperdício de tempo. Esse, que jamais terás de volta.

Eu não tenho mais aquela paciência para perder noites em branco, a pensar no porquê de tudo ter mudado. No porquê de, outrora, termos tido uma amizade tão próxima, e que, agora, não passa de trocas de cumprimentos cordiais. Nem tenho mais a vontade de ir atrás – vezes e vezes sem conta – a puxar quem quer que seja de volta ao meu encontro. Não. As relações não podem funcionar assim; jamais. E quando se chega a uma hora em que só um lado faz a força... Talvez seja realmente a hora de cada um seguir o seu caminho.


Não guardo raiva por quem partiu. Fosse porque razão fosse. Guardo, ao invés, tudo aquilo que me ensinaram. Guardo as memórias sorridentes e partilhadas no seu tempo certo. E a vida é assim mesmo. É o constante seguir em frente, por mais que, pelo caminho, pessoas fiquem deixadas para trás. Ninguém parará por ti. E, com certeza, ninguém deverá parar-te.

É um mundo tão grande, este, o nosso. Tantos lugares por descobrir e tanta gente ainda por conhecer, que com certeza te ensinarão tanto. Com o passar do tempo, também te apercebes do quão valioso este é. E que jamais deveria ser usado em vão, numa batalha por alguém que simplesmente escolheu não estar mais do nosso lado. E que jamais deveria ser desperdiçado por meio de dúvidas e incertezas que plantámos nas nossas cabeças. E que jamais deveria ser entregue a quem já nos deu provas suficientes de que não o merece.

Somos todos tipo borboletas. Livres de ir e livres de voltar, ou não voltar nunca mais. E com o tempo, tu cresces e aprendes. Cresces ao ponto de seres capaz de deixar ir. E aprendes que as melhores pessoas que alguma vez conhecerás na tua vida, não são aquelas que te fazem ir atrás constantemente, para que dê certo. Mas sim as que, contigo, enfrentam qualquer adversidade e qualquer distância, só porque o vosso laço é mais forte que qualquer outra força da natureza.


E nunca se esqueçam de só manter quem vos faz feliz. 
O resto são restos. E tu mereces mais que isso.

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