sábado, novembro 15, 2014

Amizade com prazo de validade.


Estou furiosa contigo, neste momento. E a toda esta fúria alicerça-se uma tremenda e desmedida desilusão. Como é que foste capaz de fazer-nos isto? Após todos aqueles anos de amizade, que passaram por nós? Após todas as incontáveis lições que ensinámos um ao outro, com o passar dos anos? Após todos os momentos inigualáveis que passámos juntos?

Tu eras o meu melhor amigo. E mais: eras o meu maior confidente. Sabes (sequer) o que tudo isso significa? Sabes (sequer) o quanto representaste na minha vida – esta, a que fizeste questão de deixar por completo? Sinto-me parva, mas tão parva... Por alguma vez ter entrado em juras de amizade eterna contigo, apenas para termos este desfecho tão triste. O que tu escolheste, sem qualquer hesitação. (Que triste!)

Um amor que acaba, aperta-nos o coração e dói-nos no corpo todo. Agora, a perda de uma amizade como a nossa, suplanta qualquer outra dor. Pior ainda: quando só um lado a sente.

Como queres que lide com o facto de teres escolhido virar um estranho? Tu, que estiveste presente nos meus primeiros desgostos de amor. Tu, que passavas a vida em minha casa, a ver televisão e a comer porcarias. Tu, que eras a primeira pessoa que me abraçava quando eu chegava à escola. Tu, que sabias todos os meus segredos e medos de cor e salteado. Tu, que conheceste todos os lados que eu sempre escondi de todo o mundo. Tu, que me dizias que uma vida comigo não pedia por mais nada, porque seríamos amigos até ao fim, acima de qualquer outra coisa.


Como queres que lide com esta distância a que nos submeteste, sem qualquer explicação? Como queres que me sinta, ao ver-te cuspir num laço que eu julgara tão único e tão forte por ser nosso? Mas que raio de amigo é que tu alguma vez foste, para seres capaz de apagar-me da tua vida, como se eu nunca tivesse existido?

Um fantasma. Tu, que outrora irradiavas luz na minha vida, tornaste-te num fantasma. Porque assim o quiseste e escolheste. Quem é que tu pensas que és, para me tratares com tão-pouca consideração e respeito, depois de tudo o que fiz por ti? Depois de todas as oportunidades que te entreguei? Depois de todos os teus erros e defeitos que aprendi a amar e a aceitar? Depois de todas as lágrimas que derramámos em ambos os nossos colos?

Como é que, para ti, foi tão fácil virar-nos neste nada? Será que alguma vez a nossa amizade significou algo para ti? Não. A resposta é não. Porque, verdade seja dita... A única pessoa que ainda sente falta dela, após este tempo todo, sou eu e eu sozinha. E dizias-me tu que eu jamais iria gostar de ti da maneira como tu gostavas... Quem diria. Onde estás tu agora?

Sempre quis tomar conta de ti. Sempre te quis proteger de tudo, até de ti próprio. Até quando me enxotavas, eu mantinha-me firme. E tu, de todas as vezes que me vias vacilar, agarravas-me pelos pulsos e dizias: “Eu posso perder tudo... Menos tu”. Quem diria. Onde estás tu agora?


Já fui muito desiludida, é verdade. Já tive os meus desamores e relações cortadas. E, no entanto, nenhuma perda se assemelha à que tive de ti. Talvez por eu saber bem que sou a única que sente a falta. Talvez por eu (ainda) querer fazer de tudo para te ter de volta, enquanto tu pareces estar tão melhor sem mim. Ou talvez fazes-me mais falta do que eu gosto de admitir a mim mesma. Sei lá. Que interessa, a partir do momento em que o teu orgulho jamais te permitirá voltar?

Espero que nunca te arrependas de nos ter cortado ao meio. E espero também que nunca olhes para trás e te apercebas do quão importante eu era (afinal) na tua vida. Para além disso, continuo a querer-te bem, porque isso sim, é ser-se amiga. É não deixarmos o orgulho, meter-se à frente da amizade. É nunca deixarmos a mágoa, meter-se no caminho do afecto. É nunca deixarmos as promessas de parte, só por ser mais simples do que mantê-las.

De tudo o que te ensinei, só tenho pena de nunca teres aprendido o que é ser um verdadeiro amigo.

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