quinta-feira, novembro 26, 2015

APAIXONA-TE POR QUEM [NÃO] DEVES


Apaixonei-me por ele aos primeiros toques das folhas das árvores na calçada, que anunciavam a chegada do Outono. E da mesma maneira que as flores e os jardins da cidade se iam convertendo em tons alaranjados e pastéis, lentamente e sem ninguém reparar de imediato, também eu me transformei ao lado daquele homem que viria mudar a minha vida. E mais que isso: a maneira de eu a viver.

Lembro-me de estarmos a passear lado a lado, a mirar as tais folhas que cobriam os caminhos que pisávamos, e dei por mim a dar-lhe a mão. Não a medo, como sempre fizera. Mas sim com uma pura vontade de poder sentir os dedos a ocupar o espaço entre os meus. Só assim. Simplesmente assim. Ambos com sorrisos nos lábios, passeávamos por uma Lisboa acinzentada, a que demos tanta cor. Ele dizia-me que os meus olhos eram as orbes esverdeadas capazes de irromper qualquer escuridão. E eu dizia-lhe que os seus olhos cor de mar lembravam-me da minha casa, tão longe daqui.


Apaixonei-me por ele quando não devia. Apaixonei-me por alguém com um rumo já traçado, que jamais seria o mesmo que o meu. Afinal, tratava-se de um homem com passagem de ida já marcada, mas sem qualquer regresso. Um puro viajante; um aventureiro sem morada fixa e com sonhos mais longínquos do que eu alguma vez me atrevera a sonhar. Mas sabem que mais? Apaixonei-me na mesma. Mesmo sabendo que um “adeus” se anunciava, num dia já marcado no calendário, entreguei-me a ele como se nada disso me interessasse. E sabem que mais? Não me interessava. Porque, ao seu lado, eu pude viver. Eu pude ser eu mesma à flor da pele, como nunca me deixaram ser antes. E mais que isso: graças a ele, eu voltei a acreditar em tudo aquilo que há muito julgara ser impossível.

Jamais me arrependerei de ambos termos dado uma oportunidade um ao outro, por mais que os relógios todos do mundo estivessem contra nós. Houve quem me disse que me apaixonara por quem não devia. Houve quem me disse que estava apenas a desperdiçar o meu tempo. Pudessem eles saber… O quão fugazmente o meu coração batia, de cada vez que o via sentar-se ao meu lado, no tal banco de jardim. Pudessem eles saberO quão eufóricos nós éramos, a percorrer os cafés e as livrarias, tentando escapar às horas que passavam. Pudessem eles saber… O quanto vivíamos as noites como se nos durassem para sempre, por entre copos e conversas, que nem contávamos, porque as contas não nos valiam de nada. Pudessem eles saberO quanto o tempo parecia não existir de todo, quando estávamos juntos.


Ele partiu rumo ao seu destino. E eu aqui fiquei, de sorriso no rosto, ainda com o seu sabor a café a aquecer-me a boca. Ele acenou-me um “até já” antes de desaparecer por completo no horizonte. E eu enviei-lhe um beijo, apesar de saber que ele já nem conseguia ver-me. Mas sabem que mais? Eu sei que ele o sentiu.

Ora lá está: por vezes, damos por nós a apaixonarmo-nos por quem não devemos. Ou enveredamos por histórias que não fazem o mínimo dos sentidos a quem as vê de fora. Por vezes, cruzamo-nos com a pessoa mais improvável e que poderá nunca vir a ser, de todo, “aquela que vai ficar connosco para sempre”. E depois? Porque é que continuamos a dar tanta importância ao tempo que estamos com alguém, se o mais importante é o que vivemos do seu lado?


Nós fomos o mais genuínos, reais e felizes que poderíamos ser, no tempo que nos foi dado. E acredita: que nunca houve nada mais mágico do que ver as horas escapulirem por entre os nossos dedos, enquanto andávamos de mãos dadas. E que nunca lhe ressenti nem por um segundo, por ele não ter sido “o homem que ficou, apesar de tudo”, porque ele foi bem mais do que isso. Ele foi quem me mostrou que o tempo nunca é suficiente para ninguém. Mas que isso não tem nada a ver com a intensidade com que as coisas acontecem. E que “durar mais tempo”, não significa de todo ter mais valor.

Apaixonei-me por ele... Devia tê-lo feito? Podem ter a porra da certeza que sim.

quarta-feira, novembro 25, 2015

AFINAL, A CULPA [TAMBÉM] FOI MINHA


àquele que chamei de “hipócrita”. perdoas-me?

Há tanto tempo que não te escrevo, que não te falo, que não te vejo… Tento contar os dias que passaram, mas acabo por perder a conta. Nunca tive jeito com números e tu fazias tanta troça de mim. Algo que tenho vindo a reparar cada vez mais, é no quanto dou por mim a sentir falta das mais pequenas coisas que faziam parte de ti. Eu, que sempre te acusei de me alimentares de migalhas. Eu, que sempre te quis por inteiro, e que te mandei embora por saber que jamais serias capaz de te entregares por completo.

Agora, que nem um mínimo vislumbre teu tenho na minha vida, já só sinto uma incontrolável vontade de telefonar-te, tal e qual como sempre fazia, quando não conseguia adormecer. Nunca falávamos sobre nada de especial, mas sabia-me sempre a muito. Ou então de voltarmos a encontrar-nos numa esplanada de um café qualquer, ao fim do dia. Para que despejasses as tuas dores e frustrações nos meus ombros; para que eu as despejasse a todas no mar, a caminho de casa. Ou até de trocarmos músicas e vídeos estúpidos no chat, quando nenhum de nós se conseguia concentrar nos malditos estudos.

É incrível, sabes? O quão injustos fomos um para o outro. Eu, que nunca soube aceitar-te por não conseguires mudar o que sempre fez parte de ti. Tu, que só me acusavas de estar a ficar cada vez mais diferente, a um ponto que já mal me reconhecias. E, assim, entrámos ambos numa espiral de naufrágio, sem sequer nos apercebermos logo. Se ao menos tivéssemos falado. Se eu ao menos tivesse engolido o meu medo, e tu o teu orgulho, e tivéssemos confessado o quanto nos estávamos a magoar um ao outro… Já pensaste alguma vez no que poderia ser salvo, se as pessoas simplesmente não tivessem medo de falar?


Perde-se tanto a desejar tudo. Foi aí que mais errei, sem sombra de dúvidas. Queria-te sem rodeios, sem muralhas e sem quaisquer dúvidas. E tanto teimei e pressionei para que te decidisses, quando, na verdade, a tua decisão sempre estivera tomada: tu querias-me na tua vida. ponto final. Fosse de que maneira fosse, não te importava. E eu errei, na medida em que desejei que seguisses um caminho que jamais seria (o) teu. Foi disso que também me apercebi, nestes dias incontáveis que passaram… Que, ao gostarmos realmente de alguém, nunca poderíamos pedir-lhe que sacrificasse tamanha parte de si por nós.

Chamei-te de hipócrita, antes de partir para sempre, e tal palavra ainda hoje me sabe a cinzas amargas nos cantos da boca. E tu foste-o, sim, em muitas situações… Mas então e eu? Eu, que tanto te pedi todas as certezas do mundo. Eu, que tanto insisti que me desses o mundo e as estrelas, porque eu julgava que as merecia. Eu, que tanto lutei para que ficássemos juntos sob os meus parâmetros seguros e preto-no-branco.

Eu, que te mandei embora, simplesmente por seres incapaz de entregar-te por completo, por todas as feridas que eu e outras te plantaram na pele. Eu, que te disse ‘adeus’, por tu não me poderes retribuir o tudo que eu te pedia, quando nem tinhas o suficiente para dar a ti mesmo. Eu, que te apaguei da minha vida, por não poder ter-te à minha maneira. No meio disto tudo, a maior hipócrita fui eu. Que te ressenti com a maior raiva, só porque não estavas disposto a ir contra ti próprio - por mim. Quando eu nem fui capaz de aceitar aquilo que mais gostava em ti: a tua forma de viveres tudo, sem ter de atribuir um significado conciso a nada.


Como poderia eu proclamar a 6 continentes o quanto te queria e, ao mesmo tempo, bradar aos céus o quanto queria mudar aquilo que é tão teu? Tu jamais poderias ser preto-no-branco, quando sempre foste toda a radiante de cores do universo. Tu jamais poderias conceder-me as tais certezas, quando tanto eu, como tu sempre fomos mais dúvidas que outra coisa qualquer. E tu jamais poderias seguir por esta estrada comigo, quando sempre foste feito para voar.

Eu acredito que, um dia, vou encontrar-te a esvoaçar por aí, ao lado de alguém que te acompanhe. E eu? Eu hei-de manter os pés no chão, mas a cabeça no ar, tal qual como sempre foi. E, quiçá, um dia, hei-de esbarrar contra alguém sem querer e essa pessoa quererá percorrer este tal caminho comigo.

Quanto a nós: estou cansada deste silêncio que impus entre tu e eu. Estou cansada de atirar-te com as culpas, quando parte da quota sempre foi minha. E eu superei a tua perda e acredito que tenhas superado a minha. Não será esta, então, a melhor altura para nos encontrarmos, de novo? Não como fazíamos antes, com segredos e mágoas arrumados nos bolsos. Mas como duas pessoas que se aprenderam a perdoar com o tempo, capazes de serem amigas, depois de tudo, por terem-no sido, antes de tudo o resto?

Já se passou tanto tempo. Nem sei bem o que poderá ter mudado em ti, nem em mim. Mas eu estou disposta a conhecer-te, de novo, como se fosse a primeira vez. E, desta vez, eu prometo: nunca mais terei medo de falar.

quarta-feira, outubro 28, 2015

AO MEU SEGUNDO AMOR


Eu não fui o teu primeiro amor. Nem tu foste o meu. E ambos sabemos disso. Ela encontrou-te numa altura em que tu nem sabias que eu existia. E ele teve o meu coração antes dos meus olhos sequer terem olhado na tua direcção. Eu nunca a conheci e tu nunca o conheceste. E ambos sabemos disso.

Nós raramente falamos acerca deles. Às vezes, por entre uma conversa qualquer tardia entre nós, eu confesso-te entre suspiros o quanto ele me magoou outrora. Tu, por outro lado, sorris e falas-me do quanto cresceste por causa dela. E não passa muito daí. Nem nenhum de nós insiste em saber mais, e isso talvez seja uma razão para sorrirmos os dois. Como se já nada nos chamasse de volta. Como se todas as portas e caminhos que nos pudessem levar ao passado, estivessem bem trancados e selados. Como se tudo o que existe lá atrás não fosse mais o suficiente para nos impedir de seguir em frente. Apercebo-me cada vez mais de como tudo isso é bem verdade.

Eles foram os primeiros e ambos sabemos disso. E ambos aceitamo-lo sem intrigas nem invejas. Aliás, eu só quero agradecer-lhe por te ter deixado suavemente, respeitando-te até ao fim. Enquanto tu só queres esbofeteá-lo por me ter deixado feita em pedaços. Eu quero que ela me conte como é que tu eras nesses tempos de ingenuidade. Tu só queres virar-te para ele e dizer-lhe que serás o homem para mim que ele nunca fez por ser.


Tu não foste o meu primeiro e não te importas, porque tu bem sabes que as lições mais dolorosas, que eu tanto tinha de aprender, já as aprendi com ele. E eu não fui a tua primeira, sei bem disso e não me interessa. Pois foi ao lado dela que tu aprendeste a amar e, por isso, sais-te tão bem ao fazê-lo comigo.

Nós não fomos os primeiros um do outro. Não fui eu a primeira a segurar o teu coração nas mãos, nem fui a primeira a despedaçá-lo por tê-lo segurado com demasiada força. Nem foste tu o primeiro a quebrar-me as promessas de mindinho, nem a garantir-me um futuro que nunca haveria de chegar.

Eu não fui a tua primeira, mas sabes o que fui? Fui quem procurou todos os teus estilhaços pela calçada e que os juntou num coração inteiro, pronto para amar de novo. Tu não foste o meu primeiro, mas sabes o que tu foste? Foste aquele que me fez voltar a acreditar em todas aquelas coisas que eu passei a julgar impossíveis.


O que eu estou a tentar dizer é que ambos os amores são tão diferentes um do outro. Ele foi o meu shot de tequila numa noite de Verão; foi a aventura desenfreada e intensa, completamente fora de controlo. Ela foi a tempestade que surgiu do nada nesse teu deserto, que não estava de todo preparado para tamanha monção. Mas tu és o meu copo de vinho, que me aquece nas noites frias. E eu sou a cama que te espera em casa, depois de um longo dia.

O primeiro amor nada tem a ver com o segundo: nunca poderia. Porque foi ele quem me fez perder o chão, enquanto que tu me deste um tecto. Ele deu-me asas para voar, mas és tu quem faz por me amparar as quedas e beijar-me as feridas. Ele prometia-me o mundo e a lua, mas és tu quem faz por estar presente no brilho dos meus dias e no luar das minhas noites. Ele foi a intolerância que não aceitava as minhas falhas, ao passo que tu és a paciência que lida com as inseguranças que esse me deixou. Ele foi quem eu amei, acima de mim mesma. Tu és quem eu amo, enquanto me amo também a mim.

Tu não foste o meu primeiro, e depois? Isso jamais faria de ti menos do que ele. Afinal, foste tu quem me mostrou que o amor é esta energia renovável, que não se esgota à primeira. Foste tu quem concedeu uma nova oportunidade ao meu coração, que sempre acreditou ter mais para amar. Foste tu quem me mostrou porque é que o primeiro amor seria o esboço que me viria preparar para a verdadeira história.

Eles foram os primeiros. E então? Não há razão para tristezas. Ambos prometemos um ao outro que iríamos fazer melhor desta vez, e eu finalmente acredito que somos capazes disso mesmo.

segunda-feira, outubro 26, 2015

ÀQUELE QUE [ME] MARCOU PARA SEMPRE


Olá… Há quanto tempo, não é verdade? Aposto que já estavas a começar a acreditar que eu me havia esquecido de ti. Bem, e não estás muito longe da realidade, afinal. Aconteceu tudo aquilo que tu disseste que iria acontecer. Tu e muitos outros. Os dias continuaram a passar, uns atrás dos outros, mesmo que sem ti. Os ponteiros do relógio prosseguiram, assim como os meus passos, mesmo não te tendo ao meu lado. Num dia qualquer, já nem sei bem ao certo qual, apercebi-me que já não pensava (assim tanto) em ti. Tão simples quanto isso…

Hoje, no entanto, foi um dia diferente. Não sei se foi o vento tempestuoso que trouxe a tua memória de volta. Ou se foi o barulho da chuva contra as portadas da minha varanda, que me sussurrou o teu nome. Não sei o que poderá ter sido, mas pensei em ti. Perguntei-me, como tantas vezes antes, no que poderias estar a fazer agora. Se te encontras resguardado no teu quarto, a isolares-te na música, como de costume. Ou se estás a embebedar-te num sítio qualquer com esses tais amigos que, no fundo, nunca te compreenderam (dizias-me tu, outrora). Ou se, porventura, estás a mergulhar-te nuns lábios de uma rapariga que, agora, te ama, como eu em tempos o fiz.

De repente, nada disso me interessava. A verdade nua e crua é essa. Depois de 130 dias sem qualquer vislumbre teu na minha vida, pouco me importa aquilo que fazes com o teu tempo. Isto, porque, a partir do momento em que, por entre essas três mil e tal horas que passaram, nem um único minuto teu foi gasto em mim, de que me interessaria saber o que quer seja? Não te estou a culpar por nada, nem tão pouco a pedir-te qualquer resma de atenção, porque esses tempos já lá foram. Obrigada por me teres mostrado isso mesmo. Por me teres mostrado que eu mereço receber tanto, mas sem nunca ter de pedir. Deve partir da outra pessoa, sabes? Espero que tenhas ensinado isso a ti mesmo.


No outro dia, um conhecido meu perguntou-me se já te tinha esquecido. Eu ri-me, enquanto lhe dizia que isso jamais seria possível. “Mas ainda o amas?”, questionou-me de volta. E eu parei de rir e sorri, ao invés. Expliquei-lhe, em seguida, que uma coisa nada tinha a ver com a outra.

Eu nunca te vou esquecer. Tu nunca hás-de me esquecer, também. Afinal, como é que se esquece quem nos roubou as primeiras vezes da nossa vida? Como é que se esquece alguém que nos deu tanto para recordar? Como é que eu poderia alguma vez esquecer aquela noite em que me disseste, pela primeira vez, que estavas apaixonado por mim? Ou aquela outra noite em que me confessaste que, acontecesse o que acontecesse, nós iríamos ficar juntos? Ou aquela, quando tivemos de saltar o muro da tua casa, só para podermos passar a última noite nos braços um do outro, antes de partires para o outro lado do mundo? Ou aquela manhã, quando fui ao aeroporto sem tu saberes, só para poder ver-te mais uma vez, antes de entrares no avião? Ou aquele dia em que chegaste e correste logo para os meus braços, os primeiros (senão únicos) a te segurarem?

Eu não continuo a amar-te, na verdade, porque isso jamais seria possível. Não depois de tudo o que aconteceu. Não depois de todas as palavras que atirámos um ao outro; não depois das feridas que causámos em ambos os nossos peitos. No entanto, sou a primeira a dizer-te que tu marcaste-me para sempre. Depois de partires, levaste de tal modo pedaços meus contigo, e deixaste-te de tal maneira fundido em mim, que jamais poderíamos continuar a ser os mesmos. Tu marcaste-me; eu marquei-te, também. É assim que funciona, depois de se terem amado (e ferido) tanto. Em tempos, tal realidade assustava-me demasiado. Agora? Agora aceito isso de sorriso no rosto.


Ao menos sei que foste real, entendes? A minha frieza e desconfiança de agora, são as resmas que me deixaste. E as vezes todas em que me fecho em copas, assim que sinto um homem a ter algum tipo de efeito sobre mim, são as réplicas do terramoto que tu foste na minha vida. Como se, apesar de teres partido há tanto tempo, continuasses cá em forma de escudo protector do meu coração. Ironia, não achas? Foste tu quem o quebrou. E agora? Agora, se ele é tão revestido de forças e camadas duras, é por tua causa.

Eu continuo a sorrir. Passo a passo, volto a acreditar no amor, outra vez. Talvez nunca voltarei a ser aquela miúda que tu conheceste, que procurava viver um conto de fadas. Talvez nunca voltarei a ser aquela princesa que esperava pelo seu príncipe encantado, que viria salvá-la das trevas. E muito menos voltarei a ser aquela tal que se entrega de olhos fechados e braços abertos, como o fiz por ti. Não. Eu não voltarei a ser quem era e ainda bem. Ingénua (e muito parva) seria se me obrigasse a passar pelo mesmo que passei contigo.

Eu sempre te disse: que o primeiro amor da nossa vida seria sempre a lição mais dolorosa e mais importante que teríamos a aprender. Por tudo o que nos dá, só para nos tirar em seguida. Por tudo o que nos promete, só para acabar feito em cacos. Pelo quanto nos abala como nenhum outro, transformando-nos por completo; condenando-nos a nunca mais voltarmos a amar, ou a ser da mesma maneira.


Tu marcaste-me para sempre e ainda bem. Graças a ti, (mas muito mais a mim), sinto-me mais forte e independente a cada dia que passa. Aprendi finalmente a amar aqueles meus lados que tu nunca conseguiste. E depois? O primeiro amor é demasiado imaturo e ingénuo para conseguir fazer isso. Na verdade, o teu trabalho passou mais por me fazeres encontrar o mais real e mais genuíno amor que poderia haver neste mundo… o meu amor-próprio.

O meu erro foi ter acreditado que precisava de esquecer-te, para seguir em frente. Afinal, só precisava de começar a amar-me a mim. 

sexta-feira, outubro 23, 2015

A PESSOA DOS TEUS SONHOS [NÃO] EXISTE


Sempre esperei encontrar o amor de uma forma dramática e quase cinematográfica. Eu iria para uma livraria qualquer, nos arredores do centro da cidade, e iria esbarrar contra o dito homem da minha vida. Depois de umas trocas de olhares, acabaríamos a conversar num miradouro até o sol se pôr, perdendo a noção do tempo por completo. No entanto, tal não se sucedia. Aliás, dava sempre por mim a aproximar-me de alguém e, ao mesmo tempo, sempre sentindo uma espécie de espaço impenetrável entre nós. Como dois campos magnéticos que só se sabem repulsar. Cheguei mesmo a acreditar que estava amaldiçoada… Até que: lá estava ele.

Senti de imediato algo diferente. Não acredito [de todo] em amor à primeira vista. Acredito, sim, neste campo de forças que se fazia sentir entre mim e ele. Não se tratava de nenhum abismo, como sempre fora com outrem. Não se tratava de mera luxúria, nem tão pouco de uma mera curiosidade. Nada disso. Era como se, imediata e instantaneamente, um vislumbre de amor tivesse surgido do nada, como aquelas tempestades de Verão, que nunca são previstas e que só nos apercebemos que cá estão, assim que acordamos ao som da trovoada lá fora.


Lá está: o amor não se encontra nas livrarias, nem nas esplanadas. O amor não se acha naquela mulher que preenche todos os teus requisitos, nem naquele homem que corresponde a todos os teus desejos premeditados. Nada disso. O amor está concedido nas mais pequenas e simples coisas. Na forma como ele me acorda, ao de leve, beijando-me a testa calada. No jeito com que ele encosta o seu corpo ao meu, quando estamos sentados um ao lado do outro, seja em que sítio for. Na maneira como ele, sempre que me sente demasiado séria, atira uma piada ao ar só para me fazer rir (mesmo que faça figura de parvo, de todas as vezes). Nas alturas em que ele me beija de repente, por saber que eu não estou à espera. E nos momentos em que ele atura o meu mau humor matinal, como se nem a maré mais brava o conseguisse demover.

Ora aí está: o nosso maior erro é acreditarmos cegamente que já sabemos tudo aquilo que queremos em alguém. Elaboramos estas listas fictícias dentro das nossas cabeças e damos por nós à procura desse ideal de perfeição. Assim que nos aparece uma pessoa que, à partida, não vai de encontro àquilo por que tanto esperávamos, nós hesitamos. E, muitas vezes, quando nos apercebemos que aquele alguém era, de facto, o melhor para nós,… já é demasiado tarde.


As pessoas não são listas. As pessoas não são listas de compras que tens de analisar, para ver se não te esqueceste de nada. E o amor jamais deveria ser resumido a algo tão superficial e calculado como isso. Não percebem? O amor está concedido nas mais pequenas e simples coisas. Naquelas horas da noite que ele passa à espera que o dia nasça, só para me poder ver chegar. Naquele banco de jardim, onde ele colocou o braço à minha volta, para me proteger do frio (não fosse eu a teimosa que nunca diz que o sente!). Naquelas minhas quedas, em que ele escolheu mergulhar no buraco negro onde eu me perdera, só para me trazer de volta. E naquele momento em que ele admitiu estar com medo, só porque sabia que eu não merecia nada mais que a verdade.

A pessoa certa para ti nunca será aquela que imaginaras em sonhos. Mas sim, aquela que vai aparecer e mostrar-te que, na verdade, tu nunca soubeste realmente aquilo que procuravas; aquilo que merecias - até esse alguém ter aparecido mesmo em frente aos teus olhos. Alguém, esse, que provar-te-á que o amor jamais seguiria qualquer plano. E que tu, na verdade, só andavas à procura dele nos locais errados. Quando é amor, vocês acham-se um ao outro, simplesmente, sem sequer ser preciso procurar.

Essa pessoa não será aquela com que tu tanto sonhaste. Mas é melhor ainda… por ser real.

domingo, outubro 04, 2015

QUERO-TE DE VOLTA


Nunca pensei ser tão fraca. Nunca pensei estar a sentir-me tão perdida como estou agora. Que hei-de fazer? Pudesse eu voltar atrás… Sim. É esta a coisa mais dolorosa de se admitir após tomarmos uma decisão: o quanto arrependidos nos sentimos da mesma. E eu bem sei. Eu bem sei o que te disse: o quanto te queria longe de mim para sempre. O quão tarde demais era para tentarmos de novo. O quão esgotada eu estava da nossa história. Eu sei que te disse tudo isso… Mas… E se eu te dissesse que havia mudado de ideias?

Sempre te critiquei por seres alguém que só sabe voltar atrás naquilo que diz. Num dia, proclamavas o quão importante eu era para ti. Para, no dia seguinte, estares a passar na rua e a ignorar-me por completo. E - agora - aqui estou eu. Ao som dos blues que costumávamos ouvir juntos e a derramar lágrimas que se confundem com a chuva. Lágrimas, essas, que já só me sabem às saudades extremas que sinto tuas.

Nunca foi fácil para nós lidarmos um com o outro - é verdade. Mas será demasiado arriscado admitir o quanto gostava de toda a nossa complicação? Num momento, discutíamos como bestas e partíamos pratos para, a seguir, fazermos amor como selvagens, adormecendo por entre os cacos. E toda a confusão que implicávamos em alimentar… Naqueles tempos em que éramos capazes de falar ao telemóvel horas afio. Contávamos os dias para nos reencontrarmos finalmente. E, quando acontecia, dávamos sempre aquele abraço meio demorado que só grita “ainda bem que aqui estás”. O que eu não dava para agarrar-te nestes meus braços… Que não me servem de nada desde que partiste. Desde que te mandei embora.


Nunca nos percebi. Como, em certas alturas, mais parecia que não conseguíamos viver um sem o outro. A minha voz tinha de ser a última que escutavas antes de dormir, mal chegavas a casa da noite, ainda com o álcool a brotar-te nas veias. E tu tinhas de ser sempre o primeiro com quem eu partilhava qualquer novidade minha. Porém, noutras alturas, era como se não nos suportássemos. Tu refugiavas-te no silêncio e eu ressentia-te com todas as minhas forças. Nunca nos percebi, de todo. Sei que tu também não. E, no entanto, insistíamos em não fazer sentido. Porque - quiçá - era mesmo para isso que tínhamos sido feitos. Para o mistério irresolúvel. Para o desentendimento sem fim. E agora… Agora virámos um nada, graças à minha teimosia de querer sempre racionalizar, controlar e dissecar tudo.

Tenho saudades daquilo que éramos - fosse lá o que fosse. Mais que isso: sinto uma derradeira falta de ti. Falta de ti nestes dias a que não chegas. Falta de ti nas minhas madrugadas bêbedas, quando chegávamos à mesma casa e adormecíamos de corpos entrelaçados. Falta de ti nas manhãs em que acordava contigo a espreguiçar ao meu lado. Falta de ti nos desabafos à varanda, por entre cigarros e goles de café. Falta de ti nesta casa, que já nem sabe mais a isso, porque nunca mais apareceste. Falta de ti na minha vida. (…) Mas o que é que eu fui fazer?


Eu sei que te disse o quanto me magoavas com as tuas atitudes sem nexo. Com a tua maneira imprevisível de ser. Com o facto de nunca saberes o que queres. O que eu me esqueci de dizer-te era no quanto me fazias feliz. O quão livre eu sabia que podia ser ao teu lado. E eu sei que te disse que nunca me conseguirias retribuir o tudo que eu fiz por ti. O que eu me esqueci de dizer-te era que isso nem sequer me interessava, afinal. Eu só queria que me pedisses para ficar. Mas tu não o fizeste. É assim tão fácil para ti perderes-me? 

Sou tão fraca. Na verdade, eu nunca quis mandar-te embora. Eu nunca quis levar a vida que levo agora… desprovida da tua presença e sem qualquer vislumbre teu. Se fiz o que fiz, foi para ver se, por uma vez, serias tu a lutar por mim. Mas tu não o fizeste. Sou tão estúpida. Estúpida por ter pensado que bastava dizer-te “não volto mais” para fazer com que ficasses.

O meu erro foi ter insistido em acreditar que tu eras um “vai-e-vem” na minha vida. Agora, apercebo-me que tu nunca tinhas ido realmente a lado nenhum. Tu estavas sempre cá comigo, até quando estavas longe. Por entre os lençóis tingidos pelo teu suor. Por entre estas paredes, as únicas testemunhas do nosso amor. E agora? Agora não passas de um fantasma que me assombra. E porquê? Porque eu insisti em matar-te de mim. Esse, sim, foi o maior erro, afinal de contas.

Quero-te de volta… Pudesse eu ter a coragem de admitir-te isso mesmo. (Mas não tenho. Desculpa.)




dei-te tantas oportunidades. pudesses tu dar-me uma também.

quarta-feira, setembro 30, 2015

HOMENS & MULHERES


Estou cansada de escrever acerca do quão vítima já fui. De enganos, de mentiras, de homens incapazes de amar. Eu, por minha vez, já fui a má da fita, também. Mas nunca tal escrevo sobre isso. Nem nunca acerca dos corações com que brinquei como se fossem fantoches. Nem nunca acerca dos grandes homens que deixei escapar, como que areia branca por entre os meus dedos.

Ao contrário do que meio mundo pensa, as mulheres e os homens não se diferenciam uns dos outros pelo jeito com que amam. Há quem diga que a mulher entrega-se a medo, mas que depois ama com tudo o que tem. Ao passo que um homem, apaixona-se irremediavelmente e depois vê-se a fugir às responsabilidades que o amor implica. Mas isso não funciona assim - obrigatoriamente. Não é o nosso género que nos separa no que toca à paixão. Nada disso: como se fosse assim tão simples.

Conheci homens com medo de cair por mulheres, por já terem sido magoados por tantas. Outros, que as usavam como trapos. Outros, ainda, que sabiam amá-las como cavaleiros andantes em plena noite de nevoeiro. Por outro lado, conheci mulheres independentes e fortes, sem necessidade de príncipes encantados. Conheci desesperadas por atenção, que se encaminhavam por relações à toa: só porque sim. Ainda, outras, que foram capazes de salvar homens da escuridão e trazê-los à superfície. Nada tem a ver com seres homem ou seres mulher, entendes? Somos seres humanos que amam, que se desamam e que são quebrados. Não há absolutamente diferença nenhuma.


Por detrás de um homem insensível, existiu uma mulher que lhe assaltou o coração e partiu levando tudo consigo. Por detrás de uma mulher fria, existiu um homem que ela amou e que roubou tudo o que restava do seu coração morno. Somos todos tão iguais, na medida em que sofremos das mesmas formas e das mesmas dores de perda. Somos todos tão iguais no quanto magoamos, iludimos e damos esperanças em vão.

Tanto um homem como uma mulher pode ser vítima de enganos. Nenhum deles é santo ou satanás. Nenhum deles é fruto, apenas, dos erros cometidos e passos em falso. Somos tão mais que isso, afinal de contas. E eu já cometi tantos, acreditem… E cá estou eu. A sair à rua de cabeça erguida e com as mágoas empoleiradas no fundo da mala. Passo por homens que também hão-de andar com elas guardadas no fundo dos bolsos. Somos todos tão quebrados… À espera de alguém cujas falhas se encaixem nas nossas. Cujos medos se alicercem aos nossos. Ninguém admite, mas todos nós esperamos por essa pessoa que há-de vir, vinda de não sabemos onde, para nos mostrar que não fomos feitos para ficar sozinhos.

Nenhum de nós é aquele brinquedo partido que tem de ser trocado na loja por outro novo. Nunca te reduzas a isso, porque jamais seria verdade. Talvez pessoas quebradas tenham de ficar com outras pessoas quebradas, para se aperceberem que, afinal, não precisam de qualquer concerto. Só amor. No final, precisamos de amor e de amor apenas. É ele que junta os nossos pedaços uns aos outros, para nos prepararmos para amar em pleno. Com medo, sim, sempre. Ingénuos seríamos se nos entregássemos sem qualquer cautela, depois de nos terem magoado tanto.


Está na hora de arrumarem o fatalismo de que jamais será possível achar alguém que vos mereça. Que vos faça feliz como nunca foram - ou mais do que alguma vez conseguiram. Fiquem sozinhos o quanto desejarem. Curem-se das feridas ainda expostas sobre a vossa pele. Tirem tempo para as mágoas vos secarem e, depois, saiam à rua de sorriso no rosto. Não escondam as cicatrizes porque todos as temos. Somos tão iguais naquilo que sofremos. E só por isso deveríamos ser tão mais bondosos uns com os outros.

Tu tens a tua história. Homem, ou mulher, não interessa para nada. Eu acredito que, um dia, darás por ti num café, ou num bar, ou num sítio qualquer, a partilhá-la com alguém que acabaste de conhecer. E esse alguém contará a sua e, por fim, estão a fazer uma juntos. Nem dás por nada, afinal de contas. É essa a parte melhor do amor… O quão imprevisível e espontâneo pode ser, se simplesmente deixarmos de o complicar tanto.

Temos todos medo: é normal. E sabem porquê? Porque já perdemos muito. Mas e depois? Ainda tanto nos espera… Larguem o que há em vão e dêem uma oportunidade ao coração, quando estiverem prontos, e não quando estiverem sós. Acreditem: aí está a única coisa que nos diferencia, no que toca ao amor.

terça-feira, setembro 29, 2015

ADMITE QUE NUNCA FOI AMOR


A fase mais dolorosa da minha vida foi aquela que passei do teu lado, a fingir que não te amava. A cruzar o meu olhar com o teu, e a reunir todas as minhas forças para que não notasses no formigueiro da minha pele. A ouvir-te falar dos teus namoricos da noite, e a fingir que cada um deles não eram como que uma facada no meu coração. A passear ao teu lado, rumo àquele café, e a tentar sofregamente que as nossas mãos se tocassem por acidente. A fingir que já dormia, junto a ti ao longo da cama, rezando a todos os deuses que te aproximasses. Que me tocasses. Que me tomasses como tua.

E os meus amigos perguntavam-me o que é que tu eras para mim. Eu encolhia os ombros num “tanto faz”, enquanto que o meu corpo se debatia contra a realidade do quanto eu te queria. E eles estranhavam o facto de, numa noite, sermos capazes de nos beijar e consumir como se não existisse mais ninguém no mundo. Para, no dia seguinte, nos ignorarmos e agirmos como se não se passasse nada. E eles perguntavam-me o que é que nós éramos e eu encolhia os ombros num “não interessa”. Enquanto que o meu corpo perecia, consumido por dúvidas, incertezas e perguntas, que eu tanto queria ver respondidas.


Nas noites em que não conseguíamos adormecer, tu vinhas buscar-me a casa, por entre a madrugada. Eu entrava no teu carro, tentando esconder o sorriso e a excitação com uma máscara de indiferença. Tu acendias o cigarro, enquanto conduzias, enquanto ambos bebericávamos um vinho rasca meio quente que deixaras no porta-luvas. Era isso que fazíamos nas noites frias, quando nos esquecíamos dos casacos. E lá íamos falando acerca do mundo, e de como a sociedade nos corrompe, e de como o futuro é tão incerto. Porque era isso que nós fazíamos nas noites em que nos sentíamos perdidos, sem saber para onde ir. Seguias por caminhos aleatórios até parares junto à costa. Fumávamos cigarros; eu com a cabeça pousada no teu ombro, enquanto discutíamos acerca de qual de nós lutou mais um pelo outro, de quem beijou quem primeiro, e porque é que tudo se desmoronou. Porque era isso que nos fazíamos nas noites em que não compreendíamos nada. Acabávamos bêbedos, por entre as estradas de terra batida, a rir e a fazer amor ao mesmo tempo enquanto a manhã espreitava. Porque era isso que nós fazíamos nas noites em que só queríamos esquecer.

Na manhã seguinte, tu procuravas as minhas roupas pelo teu quarto, impedindo-me de deixar quaisquer resma atrás, no teu mundo. Esse, de que nunca me deixaste fazer parte por mais de uma noite. Despedias-te com um aceno de cabeça como se não me tivesses consumido há umas horas. Fechavas-me a porta como se não fosse nada, mas, de todas as vezes que o fazias, uma fenda abria-se no meu peito esventrado. E, aí, eu partia, sempre à espera de voltar. Só por uma noite e eu sabia. Porque há qualquer coisa de fascinante em sermos arruinados e destruídos por quem mais amamos. Como se merecêssemos essa sentença pelo amor que sentimos ser um crime. E o ciclo voltava ao seu início: eu a fingir que não quero saber. Eu a fingir que não me importo em não passar de um corpo que te afasta da solidão. Eu a fingir que não vou para casa, logo a seguir, chorar e saborear o aroma que deixaste em mim, enquanto este não se dissipa por completo.


Não eram as mentiras que tu me contavas as que me doíam mais. Aquelas que te saíam quando te embebedavas, tais como que um dia iríamos ficar juntos, ou que jamais encontrarias alguém tão certo para ti como eu, e etc. Foram as mentiras que acreditei acerca de mim mesma, que me causaram maior dor. Aquelas que eu teimava em dizer em voz alta, tais como que não precisava de saber o que era para ti, porque estar ao teu lado bastava; ou que já há muito te tinha esquecido e que não passavas de um conforto entre lençóis, entre outras. Dei por mim envolta numa ilusão de que não te queria, quando, na verdade, te precisava cada vez mais.

Agora, saio à noite e estou aqui, neste canto, de copo na mão, a mirar a multidão e a abafar os meus pensamentos com música frenética. De rímel bem posto, a esconder o meu olhar desmaiado, e com batom a delinear-me os lábios, para que ninguém repare como estão secos. Estou a sorrir, mas nem se parece nada com um sorriso. Embebedo-me e fumo, mas as viagens de carro arrebatem-me, e o teu cheiro vem-me à memória, e aí eu dou por mim te encontrando nas faces dos estranhos que tento beijar à toa. E no fundo de qualquer copo que beba. Vou para casa, por entre a noite fria, que até me faz doer os ossos, e adormeço vestida, desengonçada, e com uma mensagem por enviar para ti, no meu telemóvel.


Nunca houve esperança para nós, e tu sempre soubeste… Mas eu era a única luz que se fazia sentir por entre a escuridão que tu te tornaras. E eu era a única fonte de esperança que nunca se ia embora… Então tu seguraste-me como se a tua vida dependesse disso. Consumiste as minhas forças e partiste quando as que tinhas já eram suficientes para continuares… sem mim… E, agora, a única coisa que restou foi a certeza de que nunca tivemos nada que pudesse ser chamado de amor.

domingo, setembro 27, 2015

DEVIA TER-TE AGRADECIDO


Devia ter-te agradecido. Mas, na verdade, quando as coisas chegam ao fim, nós nunca somos capazes de raciocinar como deveria ser. A mágoa e a sensação de impotência não nos deixam. Sentimos o barco a afundar a pique e só queremos sair de lá vivos. Naquela tarde de chuva, enquanto os meus olhos choravam, eu já só conseguia atirar-te as palavras mais ríspidas. Atirei-te com tudo, só porque não queria que restasse mais nada de ti em mim. Entreguei-te as acusações todas a serem feitas e parti… De bolsos e mãos vazias.

E, no entanto, devia ter-te agradecido. A pessoa que sou hoje, sou-a muito graças a ti. Foste tu quem me ensinou a amar desta maneira… Sem pedir nada em troca. Sem truques e genuinamente. Foste tu quem me mostrou que o sentido da vida é, afinal, amar tudo e em pleno. Amar as discussões, amar andar de mãos dadas, amar as decepções e as feridas à superfície da pele. E eu amo as cicatrizes que deixaste em mim. Não só por me terem tornado mais forte, mas também por me terem mostrado o quão longe eu sou capaz de ir por alguém que amo de verdade.

Doeu-me tanto amar-te. Mais do que te ter perdido. Por mais estranho que soe, é mesmo verdade. Acredito que, se voltasse atrás, voltaria a fazer tudo da mesma maneira. Quiçá, teria te agarrado mais junto a mim, nalguns momentos. Quiçá, teria engolido mais o meu orgulho, naquelas lutas parvas de miúdos que costumávamos ter. Mas isso não vale de nada agora. O importante é saberes que jamais seria capaz de me arrepender de nós, a partir do momento que adorei a pessoa que fui contigo. E fui capaz de adorar-me na mesma, mesmo que sem ti.


Apesar de te ter atirado as palavras mais frias, no nosso derradeiro fim, estava enganada numa coisa apenas: tu não te varreste de mim por completo. Como seria isso possível, depois de me teres marcado de tal maneira? Ainda te sinto por entre as sílabas que a minha boca desenha. Ainda te sinto nos meus textos e nos meus gestos, que apanhei de ti. Quando se fala de amor, vens-me ao pensamento e digo aquilo que me dizias: de que as relações deviam ser acerca de liberdade, e nunca de controlo. E quando encolho os ombros, quando não sei o que dizer, tal como tu o fazias. E quando escrevo, relembro-me de todas as cartas que te escrevi e que nunca fui capaz de enviar. Quando partiste, levaste um bocadinho de mim contigo. E deixaste um pouco de ti atrás. Obrigada por me teres ensinado que, quem parte, nunca vai inteiramente só.

Devia ter-te agradecido. Por me teres apresentado o amor e a dor como nunca ninguém o fizera. Por ti, sofri mais do que nunca, mas também fui o mais feliz que alguém poderia ser. Obrigada por me teres ensinado que, para nos amarmos a nós mesmos, temos também de ser amados de volta. Pelos nossos pais, pelos nossos amigos, que são o mais importante que temos nesta vida. E eu aprendi a amar-me num mundo em que tu não foste capaz de fazê-lo. Quando, em tempos, acreditava que só o teu amor poderia fazer com que me amasse a mim. Aprendi-o, graças a ti.


Quando alguém parte, (e é isto que ninguém admite), nós ficamos sempre a sentir aquela falta. Aquele espaço vazio na prateleira do nosso coração onde, outrora, uma pessoa se encontrava. E tu estiveste cá durante tanto tempo e, agora, olho para dentro de mim e, ao não te encontrar em lado nenhum, sinto um pequeno aperto. Aperto, esse, que vai esmorecendo a cada dia que passa. Jamais seria capaz de colocar alguém no lugar aonde outrora te encontravas. No entanto, coloco-me a mim lá. Para relembrar-me que eu existo além de ti e que sobrevivi à dor da tua perda.

Devia ter-te agradecido. Agora já não estás mais aqui, mas espero que o saibas: obrigada por tudo o que me concedeste. Obrigada por tudo o que me ensinaste e por tudo o que vivemos juntos. Não sei como estás, de momento. Não sei se encontraste a mulher da tua vida, nem se continuas a arrastar os sapatos pela calçada, ou a beber o café da mesma maneira. Mas duma coisa eu tenho a certeza: tu continuas a ser quem és. E desejo que sejas o melhor “tu” que eu sei que consegues ser. E espero que também eu te tenha deixado algumas resmas de mim contigo, porque dói-me imenso pensar que parti da tua vida sem deixar qualquer rasto.

Tu mudaste-me, ao me teres quebrado. Mas, se me tornei assim, inteira desta maneira como estou agora, foi porque tu não me deste outra opção senão sê-lo. Nem sei como te agradecer.

terça-feira, setembro 22, 2015

NÃO TENHAM MEDO DE ESTAR SÓS


Eu costumava ter tanto medo de estar sozinha, sabiam? Pela maneira como o silêncio se tornava tão voraz e desolador. Capaz de trazer ao de cima os mais malvados pensamentos, que sempre abafei com barulho. Capaz de ressuscitar os piores demónios e todos os meus velhos fantasmas. Eu encarava a solidão como um buraco negro, que só me sabe sugar e rodear de plena escuridão. Eu… Que sempre tive um imenso pavor ao escuro.

Até que me apercebi que ter medo de estar sozinha é o mesmo que ser escravo da solidão. Porque, na verdade, o ser humano tem a tendência em tornar-se naquilo a que mais resiste. Como quando resistimos a um desejo, que sabemos que está lá, bem concedido por entre as nossas veias. Quanto mais lhe resistimos, mais ele borbulha no nosso interior, até ocupar todos os cantos do nosso corpo. No que toca à solidão, acontece o mesmo. Quando damos por nós, já só a somos. Já ela tomou posse de nós. E por mais pessoas que se encontrem à nossa volta… E por mais que o sol brilhe lá fora… Aqui dentro, somos só nós. Nós e o nevoeiro que nos cerca por completo.


Um dia, olhei-me ao espelho e caí na realidade: ali estava a pessoa que mais poder tem sobre mim e sobre a minha felicidade. Ali estava o meu maior inimigo e, ao mesmo tempo, a minha maior salvação. Então, porque haveria eu de ter medo de ficar a sós comigo? Se eu conseguir tornar-me em alguém que admiro, em alguém que se basta, e em alguém que sabe tomar conta de si mesma, que mal é que tem estar sozinha? É tão simples, afinal de contas…

Saí à rua sem quaisquer medos. Mentira. Medo, sim, hei-de ter sempre. Aquele medo miúdo e sorrateiro, empoleirado atrás da orelha, a segredar-me e a relembrar-me do quão magoada eu já fui por outrem. Mas sabem que mais? A pessoa que mais me pode magoar, no fim, sou eu mesma. E, ao mesmo tempo, também sou eu a que me pode salvar. O meu erro foi ter acreditado que quem me quebrou, iria ser a mesma pessoa que me viria concertar. Mas não. Essa pessoa és tu mesma. Mais ninguém merece esse poder. Podes entregar a cópia da chave do teu coração a quem achas merecedor, mas, no final, a casa continua a ser tua. Tu és a tua propriedade e prioridade - sempre!


O erro de tantos é assumir que a felicidade não pode ser vivida a sós. E que, para sermos realmente completos, devemos ter sempre alguém com quem partilhar os dias, as noites, os momentos, as tempestades, as canções e tudo mais. E que é obrigatório ter um homem ou uma mulher para nos amar e beijar todos os dias. Nada disso. Para sermos felizes, não precisamos que ninguém nos complete. Tu, sim, tens de ser uma pessoa completa, em primeiro lugar. Tu não és nenhum puzzle com falta de peças, entendes?

Com isto, não quero dizer que pretendo ficar sozinha para sempre. Aliás, ainda acredito que, um dia, alguém vai aparecer e trazer ao de cima o melhor de mim: aquele lado que não mostro a qualquer pessoa. Agora, jamais vos diria que estou à espera de encontrar a minha outra metade. E sabem porquê? Porque eu já sou inteira.

Estou cada vez mais capaz de gostar de mim. E mais que isso: de adorar estar comigo. Sem barulho, sem pessoas, sem distracções. Só eu, parada, num breve momento, a tirar um tempo para mim. E tu? Quando foi a última vez que gostaste realmente de ti? Sem que ninguém to tivesse de dizer? Como podemos estar à espera de alguém que aprecie a nossa companhia genuína, se nem conseguimos ser companheiros genuínos de nós mesmos?

Hoje, pedi desculpa a mim mesma. Sempre andei à espera por desculpas e oportunidades de outras pessoas. Hoje, peço perdão ao meu coração que tanto entreguei a quem não merecia. Peço desculpa ao meu corpo que sempre carregou peso a mais. E concedo-me a oportunidade de seguir em frente e de continuar a melhorar, dia após dia.

Um dia, alguém há-de merecer-me. Mas, para isso, tenho de me merecer a mim primeiro.

sexta-feira, setembro 18, 2015

A Crónica do Jardineiro e da Rosa.


Tu mudaste tudo. Do momento em que apareceste, mostraste-me o quão esventrado, possessivo, inconcebível e descontrolado o amor pode ser. Tu descobriste-me de dentro para fora. Deitaste abaixo todas as muralhas, desvendaste todos os meus segredos e lados obscuros. Tu mudaste-me por completo. Tu condenaste-me a nunca voltar a ser quem fui. E eu tenho saudades de quem era, sabias? E tu? Também sentes falta de ti mesmo? Da pessoa que eras antes do teu coração ter sido partido? Antes de teres sido desiludido por quem mais amavas?

Tu foste o inferno aonde eu não me importava de arder. Tu foste as noites em branco, que eu não me importei de passar à espera. Tu foste o cais, junto ao mar, onde as minhas lágrimas se confundiam com a chuva. Lágrimas, essas, derramadas por ti. Lágrimas, essas, que tu nem as viste. Mas tu sabias de tudo isso, não sabias? Tu sabias que foras tu quem abrira o livro que eu era… E nem te importaste por nem me teres lido até ao fim.


Tu partiste… Ou talvez fui eu quem te mandou embora. Jamais hei-de perceber o nosso fim. Apocalíptico, inesperado e, ao mesmo tempo, imperceptível e de se prever. Mas nada disso me interessa, agora. O importante é que, por entre esta luta e por entre esta dor de perda, eu fui capaz de cruzar-me com a minha força.

Mas então e agora? Agora não passo de um conjunto de paradoxos. Em certos dias, sou a guerreira que só quer estar só consigo mesma. Que só quer que a deixem em paz. Noutros, careço por toque, por carinho e por alguém ao meu lado. Às vezes, sou capaz de passar noites afio contigo no meu pensamento. Noutras, tenho muito mais em que pensar. E agora? Que será de mim, se nem me percebo mais? E nas faces dos outros homens que nunca fui capaz de amar de volta, encontro o teu rosto como que em reflexo. Estarei eu para sempre amaldiçoada pela tua presença?



Amar-te foi como estar enclausurada num sítio fechado. Amar-te foi como respirar um ar quase que escasso. Respirar-te, aproximava-me cada vez mais de morrer. E, no entanto, se não te respirasse de todo, assim também morreria. O nosso amor transformou-se num jogo de soma zero, em que ambos sairiam sempre a perder. E só nos soubemos destruir um ao outro, enquanto o nosso amor durou. No final, já não passávamos de fantasmas que se assombravam mutuamente. 



E eu só queria mostrar-te… Que o amor não é como uma rocha, que se limita a pousar junto à costa. O amor tem de ser construído, cativado, renovado - todos os dias - como se de uma flor se tratasse. Pensava eu que tu eras um bom jardineiro… Ou foste tu quem se esqueceu o quanto eu era uma rosa? 

Eu hei-de chorar por ti. Aliás, já o fiz tantas vezes vezes. E hei-de perdoar-te. Talvez até já o tenha feito. Mas jamais seria capaz de voltar uma segunda vez para alguém que não me soube amar à primeira. Cansada já eu estou de entregar oportunidades a quem não merece. Agora, quero dar uma ao meu coração.

segunda-feira, setembro 14, 2015

ADEUS, Ó MINHA TERRA!


Tamanha é a minha dor, enquanto me despeço de ti, ó minha terra. Passeio por entre estes caminhos, enquanto a maresia me despenteia, e só quero absorvê-la e levá-la comigo. Quanto tempo até à próxima vez? Até à próxima vez que o meu olhar poderá pousar neste mar, como se de uma gaivota se tratasse? Até ao próximo dia em que poderei acordar no meu lar, rodeada de quem mais amo? Até à próxima noite que passarei por todos os lugares que já conheço de cor? Pudesse eu levar tudo isto comigo…

Quem me dera que o tempo parasse. Não peço para sempre, porque a vida continua. E o que tem de ser, tem muita força. Força, essa, que me leva para longe de ti, ó minha terra. Mas eu só pedia mais um dia. Mais um dia contigo, a saborear a tua água salgada e a mirar os campos verdejantes mais esbeltos que a minha vista alguma vez alcançou.

As minhas lágrimas sabem a sal. Estas, que me jorram dos olhos, tal qual a chuva morna das noites de Verão que aqui passei. E o meu peito ressoa em eco, como as cagarras junto à costa. E, aí, eu apercebo-me do quanto o corpo e a alma são coisas tão separáveis. Eu hei-de partir, mas essa parte minha - essa alma - descansa aqui. Por entre os grãos de areia, banhados pelo atlântico. Por entre o nevoeiro lá no alto do mato. E por entre os corações que aqui deixo para trás.


Quem me dera que o tempo parasse. Só mais um dia te pedia. Mas eu sei que não posso pedir-te mais nada, ó minha terra, quando já me deste tanto e tudo. Eu sou quem sou por ser de ti. Eu amo como ninguém e sempre em força, porque foste tu o meu primeiro amor. Eu sou quem sou por ter nascido aqui, num meio tão pequeno, mas que me permitiu ser tão maior.

Deixo-te, mas também me deixo a mim. Jamais poderia ir inteira. Porque no meu sangue corre-me o basalto negro e no meu peito arde-me um coração de vulcão. Portanto, não chores por mim, nem pela minha ida… Sou eu quem chora, agora, enquanto me despeço de ti com o olhar. Miro a montanha imponente, ao longe, e só consigo pensar: o quão grandiosa tu és capaz de ser, ó minha terra. E eu espero fazer-te orgulhosa, por mais longe que o destino me mande.

Eu serei sempre tua. E tu serás sempre minha. É este o amor de que nunca ninguém me tinha falado, porque tem de ser sentido (apenas). Este, que não pede nada em troca. Este, que não pára de bater, nem nunca se demove. Este, que não reconhece quaisquer distâncias ou tempos. Este que nasce e que, connosco, morre.


Pudesse eu ter só mais um dia,… mas para quê? Um dia jamais me bastaria para afogar todas as saudades. Estas que já me arrebatam, quando ainda nem sequer parti. E depois? São essas as piores. São essas as que nos avisam das que (ainda) estão para chegar.

Adeus, ó minha terra. Não esperes por mim. Continua a ser tão bela e tão minha, que, um dia, em breve, eu hei-de voltar. Para mergulhar nesse mar e sentir esse sol, melhores que quaisquer outros. Para me perder dos dias e das horas, como em mais nenhum lugar.

E haverá melhor lugar do que tu? Não, ó minha terra. Tu serás sempre tu(do).

quinta-feira, setembro 10, 2015

ESTÁS AÍ? ESTE É PARA TI.


Não sei quem tu és: sim, tu. Tu que estás a ler-me, neste preciso momento. Talvez até me conheças de alguma maneira; quiçá, conheces-me melhor que muitos outros; ou talvez nem passes de um estranho qualquer. Não interessa. Só te tenho a dizer que, este mesmo texto, não é para ti. Podes lê-lo, como é óbvio. Mas é possível que não faça o menor dos sentidos. Por isso, peço desculpa pelas palavras que se seguem - dirigidas a uma pessoa e a uma apenas.

Olá. Estás aí? És tu, desse lado? Eu espero que sim. Porque se tu não leres isto, então eu estarei a “falar” para o vazio. Quiçá, talvez seja mesmo isso que estou a fazer. Mas deixa-me acreditar, está bem? Deixa-me crer que és tu, desse outro lado, a ler as minhas palavras, como sempre fizeste.

Imagino o que possas pensar: “Mas o que é que ela tem mais a dizer? Mas porque é que ela tanto insiste? Mas porque é que ela não me deixa em paz?”. Se é isso que pensas, então acalma-te. Por favor. Não estou aqui para mais acusações, e muito menos para despejar ainda mais as minhas mágoas. Até porque este texto, ao contrário de todos os outros, não é de mim para mim. É de ti; para ti e - só - para ti.


Eu sei que fui embora daí. Dessa tua vida, que tanto marquei e que de tanto fiz parte. E eu não quero que - nem por um segundo - tu acredites que o fiz (apenas) por mim. Eu fi-lo por nós. Para o bem de ambos. Tu viste como nos estávamos a cansar e a deteriorar cada vez mais. Viste o nosso respeito mútuo a virar cacos. Viste os nossos momentos a virarem cenários de guerra. Viste tudo o que construíramos a virar pó. Tu sabes bem que foi o melhor a ser feito, não sabes?

Mas também não quero que - nem por um segundo - tu penses que está a ser fácil. Não sei quanto a ti, mas, às vezes, só quero recuar e tentar de novo. Só quero voltar àquele café e perder-me em conversas aleatórias contigo, enquanto perdemos a conta dos cigarros e das cervejas. Só quero voltar àquela avenida que tanto percorremos de braço dado. Só quero voltar àquele tempo quando nada era fácil, mas, mesmo assim, estávamos juntos. Mas tu bem sabes que não posso. Tu bem sabes que já há muito que éramos uma bomba prestes a detonar.

E, no entanto, cá estou eu. A conformar-me com esta terrível realidade aonde não chegas. A tentar lidar com o facto de que jamais vou ouvir os teus desabafos. Ou as tuas músicas improvisadas. Ou as tuas histórias e peripécias que me contavas com tanto entusiasmo no olhar. Quando penso nisso, só me apetece chamar-te. Voltar atrás com tudo o que disse e ir ao teu encontro. Mas tu bem sabes que eu não posso. E que as coisas nunca poderiam voltar a ser o que eram, a partir do momento em que nós não somos mais os mesmos.


Custa-me tanto não estar aí. Não saber pelo que estás a passar. Não saber se estás bem, ou mal. Custa-me, mas sabes que eu não posso saber nenhuma dessas coisas. Porque eu perdi esse direito, da mesma forma que tu também o perdeste.

Só espero que saibas que nunca nos encararei como um desperdício de tempo. E muito menos como um erro cometido vezes e vezes sem conta. Nós fomos o mais real que duas pessoas poderiam ser. Por isso, estou-te eternamente grata. Por meteres ensinado que tudo vale a pena, mesmo que não resulte. Mostraste-me o quão forte eu posso ser. E que o amor nunca se dissipa por completo, apenas transforma-se. E o meu por ti transformou-se nesta saudade tão bem empoleirada no meu peito: este espaço, que será sempre teu.


Bem… Acho que só me falta dizer-te o quanto espero que encontres alguém que te mostre o mundo. E espero ainda mais que te tornes em tudo aquilo de que és capaz (e eu sei que és...). Eu continuo a acreditar nisso e isso nunca mudará. Mas tu bem sabes que eu (já) não posso fazer mais nada por ti. Mas eu bem sei que tu - sim -, tu podes. Sê forte. E nunca te esqueças: não é o que tu perdes que faz de ti um perdedor. Mas é o que tu procuras alcançar, que faz de ti o maior dos lutadores. E eu não quero nunca que tu desistas, nem de ti, nem de todos os teus sonhos que de tanto me falaste.

Para sempre terei saudades tuas. Nossas… Adeus.

segunda-feira, agosto 24, 2015

ÀS PESSOAS QUE NÃO FAZEM FALTA

Nesta vida, cada um de nós carrega consigo a sua bagagem. De sonhos, objectivos, traumas, mágoas, erros, lições e, inclusive, pessoas que nos significam algo. E há quem vagueie por aí leve, intacto e de sorriso esboçado no rosto. Outros, porém, deambulam pesarosamente dado o tamanho peso que levam atrás.

Uma coisa que vim a aprender naturalmente, é que, na vida, nunca nada deve ser demais. Um dia, dei por mim, com demasiadas coisas ‘a mais’ na bagagem que trazia. Coisas, essas, que me pesavam de tal maneira, impedindo-me de seguir em frente como deveria ser. Coisas, essas, que se revelaram em pessoas tóxicas, dispensáveis e nunca merecedoras de estarem comigo.

Jamais seria alguém capaz de descartar quem quer que seja à toa. Só porque sim. Só porque, talvez, já me anda a chatear demais e eu não tenho paciência para isso. Não. Eu não sou, de todo, assim. Eu sou aquela que luta por ti, que te perdoa os erros e que te concede as mais variadas oportunidades para te redimires. Eu sou aquela que acredita até à exaustão, até quando está tudo contra. Eu sou aquela que preferia perder muita coisa, em vez de um amigo.


Agora, ser assim pode ser muito bom. A sério: precisamos de mais pessoas dessas. E, no entanto, tudo isso falha no sentido em que também serão essas as que mais serão aproveitadas, gozadas e abusadas até dizer chega. Acreditem: sei do que falo. Muito acreditei e lutei para, no fim, sair de mãos vazias e de dignidade afundada. E até mesmo depois de estar coberta de feridas, fui capaz de largar o rancor e deixar ir. Afinal, se essa pessoa não te quis guardar na sua vida, porque é que hás-de guardar o que quer que seja dela?

Quem me conhece realmente, - e mais: quem me merece verdadeiramente -, sabe que eu não sou uma pessoa tóxica para outrem. Aliás, eu procuro curar e ajudar quem me rodeia. E eu procuro magoar o menos possível. Até porque: tu tens a tua história, as tuas cicatrizes e os teus motivos, e eu também. E eu acredito que devíamos respeitar-nos mais uns aos outros, por causa disso mesmo. Respeito e compreensão, em vez de egoísmo e traição.


Eu admito que guardei pessoas tóxicas na minha vida durante demasiado tempo. Fui magoada de todas as maneiras. Perdoei vezes e vezes sem conta. Mas todos nós temos os nossos limites. E a nossa bagagem não é ilimitada e eu já há muito que andava a pagar excesso de peso. Essas mesmas pessoas que eu teimava em guardar, ultrapassaram o aceitável. E o tóxico que emanavam tornou-se insuportável. E, aí, eu escolhi fazer o que era melhor para mim.

Vamos todos parar de manter pessoas ‘a mais’. Essas, que já só nos sabem a desilusão atrás de desilusão. Essas, que nos colocam sempre de lado, por mais que as tratemos como prioridade. Essas, que nos mentem, iludem; que puxam ao de cima o pior de nós. Essas, que não valem a pena, porque vocês bem sabem que merecem muito melhor que isso.

Sinto-me mais leve, sabiam? Na minha bagagem trago só quem quero que rume pelo mundo comigo. E a tua vida é tua apenas: e és tu quem decide quem merece fazer parte dela.