terça-feira, janeiro 06, 2015

"Nunca me deixes, Mãe."

Já presenciei vários terramotos: aqueles, que fazem tremer o chão que pisamos e que nos distorcem as vistas; deitam móveis abaixo, partem as louças; que nos fazem perder o equilíbrio por completo. O primeiro impulso, normalmente, é procurar um abrigo seguro. Quer seja debaixo da mesa da cozinha, quer seja nuns braços fortes.

E, no entanto, nenhum desses terramotos conseguiu preparar-me para o maior de todos eles. Aquele abalo aterrorizante que vem em forma de notícia chorosa: “Estou doente”, disse-me a minha Mãe, num dia que parecia ser igual a todos os outros. Foi, sem sombra de dúvida, o pior e mais alarmante sismo de todos os tempos. O chão não se limitou a tremer: deixou de existir. E não foram só os móveis e as louças que caíram: mas sim todo o meu mundo como eu o conhecia. E, nesse terramoto, nenhuma mesa me poderia salvar e nenhum abraço me conseguia socorrer.

É, de facto, a dor mais indescritível e tenebrosa que alguém pode sentir na vida. É tão forte e é tão tudo, que nem se devia chamar dor. Deveria ter outro nome: um capaz de carregar todo o medo, toda a frustração e toda a injustiça que sentimos. Talvez nem exista palavra nenhuma capaz de o fazer, na verdade. Vermos quem mais amamos; quem nos trouxe ao mundo, em perigo de abandonar o nosso.


E que mundo seria mundo, sem ti, Mãe? Como posso continuar a chamá-lo disso, se nem estiveres cá presente? Tu é-lo todo. Tu és o sorriso quente dos meus dias. O abraço a que chamo de lar doce lar. O apoio que mais ninguém é-me capaz de entregar. A confiança e o carinho que não encontro em mais nenhum lado. Que mundo seria esse, sem todas estas coisas, Mãe? Seria um inferno. Seria nada mais o que um completo inferno.

Não há ninguém neste mundo como uma Mãe. Insubstituível; o nosso bem mais precioso, mas sem preço. A que nos dá os sermões mais chatos e longos da história. A que nos castiga, quando cometemos erros, mas também a que os perdoa sempre. A que nos chama a atenção, de todas as vezes. E, mesmo quando não a ouvimos, ela não desiste. Ela persiste. Ela acredita nos seus filhos, apesar e acima de qualquer outra coisa. E por mais que nos irrite, amá-la nasceu connosco. É fora do nosso controlo: esse sim, é o amor eterno e único, em toda a sua glória. A prova de que existe, de facto, um “para sempre”.



E quando Ela adoece, não adoece sozinha. Também eu adoeço. E quando Ela chora, também eu choro consigo. E como poderia ser doutra maneira, se somos tamanha parte d’Ela? O coração que me aperta no peito, já foi teu. E estes olhos que choram pelo medo da tua perda, cresceram no teu fundo. E estas mãos, foram as tuas as primeiras que alguma vez sentiram.

Eu amo-te, Mãe. E não é o maior dos terramotos que me afastará de ti. Juntas, lutaremos. Juntas, reconstruiremos toda esta casa caótica. Juntas, voltaremos a erguer um novo chão, capaz de nos suportar. Juntas, venceremos toda esta batalha... Acredita-me, como eu acredito desmesuradamente em ti.


Mãe não é passado, nem presente, nem futuro – é tudo. Às Mães de todo o mundo. Às que ficaram. Às que partiram, mas que continuarão para sempre cá connosco.

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