domingo, janeiro 11, 2015

O PROBLEMA DAS MEIAS


Uns minutos antes de partires, disseste-me que seria tudo uma questão de tempo. Até à dor esvair-se de mim por completo. Até aos dias voltarem a passar da mesma maneira. Até me habituar à tua completa ausência. Disseste-me para nunca me esquecer que o mundo continuaria a girar. E que a vida continuava, e que eu devia seguir com ela. Despediste-te num meio aceno, com um meio sorriso nos lábios... E foste-te.

Hoje dei por mim a contar os dias. Vá se lá saber porquê. Contei-os, um a um, como se não passassem disso mesmo: de uns dias quaisquer. Chegada ao final da contagem, apercebi-me que eram cinquenta e cinco dias. Cinquenta e cinco dias sem um qualquer vislumbre teu. Cinquenta e cinco dias que por mim passaram, e que eu nem dei conta. Nem me apercebera de que seriam tantos. E o pior é que amanhã serão cinquenta e seis. E assim por diante. O mais assustador é isso mesmo: tu tinhas razão. Os dias continuam a seguir-se, uns a seguir aos outros, mesmo que sem ti.

E, no entanto, estavas tão, mas tão errado. O tempo – esse, sim, passou de facto. Mas a dor continua cá bem concedida entre cada segundo. Entre cada um dos passos que tomo. E por entre todos estes caminhos que me vejo a percorrer, dia após dia. E estes dias... Parece que estagnaram. Morrem-me, lentos, inertes e vazios, até à despedida do sol. Não me sabem a nada. Nada! A partir do momento em que, a nenhum deles, chegas. E a dor... Ai, a dor. Esta que já tão bem conheço e que de tal maneira se tornou naquilo que sou. Nas minhas palavras magoadas; no meu medo imperativo de me aproximar de quem quer que seja. Tolos, os que dizem que mais vale sentir dor, do que não sentir nada. 


Habituar-me à tua ausência? Não, nada disso. Eu sujeitei-me a ela, por não ter outra escolha. Ela não virou hábito; nem somente uma coisa normal... Há quem diga que, quem muito se ausenta, deixa de fazer falta. É mentira. Tanto te ausentaste, e cá estou eu... Com a tua falta a preencher-me – cada vez mais - de espaços vazios. A corroer-me de saudades. A submergir-me em nada mais que solidão imensa. Se me habituei à solidão? Não, nada disso... Eu toda, já só a sou. Como se não passasse de mais nada, a não ser isso.

Ainda me lembro da derradeira despedida. Do teu meio aceno. Do teu meio sorriso. Das tuas meias palavras. Talvez, quiçá, o problema tenha sido mesmo esse. Eras sempre tu a entregares-me metades; a amar-me por meias doses, enquanto eu tanto te queria por inteiro. Jamais deveria ser assim, percebes? Viver e amar pela metade, nem é vida nem é amor. E, agora, eu penso, afinal, no que é que será que fomos. No que é que será que eu fui para ti e tu para mim. E se será que alguma vez chegaste realmente a amar-me; ou se alguma vez eu cheguei sequer a viver.


Deixaste-nos a meio. Sempre foste assim: de nunca ir além; de nunca tentar até ao fim.

Partiste, deixando-nos com tanto por viver. E tanto por amar. E todas essas coisas ainda me arrebatam, por entre estes cinquenta e cinco dias, que passei sem ti. Diz-me, que hei-de fazer com tudo isto, se já nem tenho aonde o deixar? Tu foste-te... Onde estás tu agora?

Devias estar aqui comigo, a dividir todas estas coisas por dois. Estas, que eram tão nossas. Afinal, é aquilo que tu mais gostas de fazer, não é verdade? De partir as coisas a meio?

Fica com a tua metade e eu fico com a minha. Agora, é injusto me deixares com a dor inteira sozinha.

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