segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Loucos um pelo outro.


De todos os loucos, eu escolhi-te a ti. Porque, de alguma maneira, a tua loucura era a única capaz de dançar ao mesmo som que a minha. Soube disso assim que te conheci. Sozinho e enclausurado no teu próprio mundo, ao som de uma melodia que mais ninguém seria capaz de ouvir. Excepto eu. Eu escutei-a de imediato e, assim, lançámo-nos os dois ao mesmo ritmo. As pessoas olhavam-nos e diziam

- Parecem dois loucos!

E nós éramos, de facto. Éramos realmente doidos um pelo outro.

Foste aquele que mais me arrancou das estribeiras. Trocavas-me as voltas todas, de uma maneira que nunca cheguei a compreender. Bastava um gesto, uma palavra... E todo o meu mundo abanava por completo. Fazíamos amor não só através do toque, mas por meio de respirações, de partilha de ambas as nossas almas. Os nossos corpos perdiam-se, despidos, mas nós, sempre quentes, mais nos íamos encontrando um ao outro. E as nossas discussões acesas e ardentes, que nos levavam a berros estridentes e ao quebrar de pratos. No final, juntos, adormecíamos sobre os cacos.



Era tudo tão complicado, que até se tornara simples. A forma como me olhavas nos olhos, como se me conseguisses despir só assim. E talvez conseguisses mesmo. Agarravas-me nos teus braços, como se jamais me fosses largar; como se jamais fosses permitir que eu fosse doutra pessoa, que não tua. E talvez fosse verdade. A maneira como soletravas o meu nome, como mais ninguém o fazia, como se só tu fosses capaz de saber-me por inteiro. E talvez fosse mesmo assim.

Nunca concordávamos com nada. Éramos loucos ao ponto de querer discordar acima de tudo. Perdíamo-nos em brigas sem fim, que até nos esquecíamos das razões por que lutar. Insultavas-me a plenos pulmões, e eu elevava a voz mais alto ainda. Levávamos qualquer castelo à ruína e ao despedaço. A poeira assentava, depois de tudo, e lá estávamos nós... Rodeados pela destruição que só nós causáramos. Rodeados de silêncio que ainda denunciava palavras horríveis de se dizer. E, no entanto, acabávamos abraçados e ainda com as feridas a latejar à flor da nossa pele. Não fôssemos nós a nossa tortura; e a nossa salvação ao mesmo tempo.


Fomos os maiores loucos, por não termos feito sentido algum. E mais: por nunca termos querido saber disso. Insistíamos nos erros, até nos tornarmos na sua doente repetição. Insistíamos nas mesmas discussões, que nunca nos levavam a nenhuma conclusão. Insistíamos em encaixar-nos, por mais que nem fizéssemos parte do mesmo puzzle. Quiçá, nunca fizemos. Mas isso não nos interessava: só queríamos ficar juntos. Por mais que nos pudesse matar um ao outro.

Tornámo-nos ambos em assassinos. Que só queriam matar a saudade. O desejo. O medo. Quem diria que, um dia, acabaríamos por matar também o nosso amor.


Valera tudo a pena. Foste a loucura que me trouxe à vida. Foste a loucura que me levou à morte. E eu sempre soube que seria assim. Desde o momento em que te vi e que, juntos e sozinhos, dançámos a mesma música. Aquela que mais ninguém conseguiria ouvir.

Nunca mais me senti tão viva, do que quando do teu lado. 
E se fôssemos loucos - mais do que nunca - e tentássemos tudo outra vez?

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