sexta-feira, março 13, 2015

O amor é cego (e estúpido).

Por ti, ceguei. Sei lá eu durante quanto tempo. Não era capaz de ver nem mais nada, nem mais ninguém à minha volta, a não seres tu. Foi contigo que aprendi o quão egoísta um amor se pode tornar. Toma posse de nós por completo, fazendo-nos acreditar que não sobrevivemos mais sem ele. Esventra-nos de dentro para fora, deixando-nos vulneráveis ao mais pequeno abalo. Tanto nos faz sentir como gigantes, como nos deita abaixo, ao mais profundo dos poços. Foi assim que me apresentaste o amor. E foi também assim que me fizeste despedir-me dele.

E tu dizias que me amavas. Mas nunca me olhavas nos olhos, sei lá eu porquê. Talvez fosse medo. Medo de confessares algo capaz de deitar todas as tuas muralhas abaixo, ao mesmo tempo. Ou talvez assustava-te a ideia de encarares o teu próprio reflexo no meu olhar, enquanto o dissesses. Talvez tinhas medo de, assim, descobrir que tal não passava de mais uma mentira. Quem sabe?


Mas eu estava cega. Cega de tal maneira, que nunca me apercebera disso. Nem da forma ausente como te deitavas ao meu lado, em certas noites. Nem da maneira como perdias o interesse em algumas das minhas conversas. E muito menos das vezes em que fugias às minhas questões e disputas, simplesmente por não teres paciência. Tu amavas-me, certo? Dizias tu. Então, porque é que me submetias a um tratamento tão frio, quando era eu quem mais merecia o teu lado mais quente?

Mas eu, por ti, ceguei. Ceguei a um ponto em que só te queria a ti, custasse o que custasse. Ceguei, que nem me apercebi de como o nosso amor deixara de nos ser suficiente... Tu amavas-me. Dizias-me tu. Mas não é só isso que conta. É aquilo que tu fazes a quem tu dizes que amas, que vale por tudo. E o que é que tu me fazias? Deixavas-me em becos escuros, só à espera de um sinal. Submetias-me a um silêncio atroz, só à espera de ouvir a tua voz a chamares-me. Transformavas-me em nada mais que uma espera sem esperança; uma cega sem destino e sem ninguém que a guiasse. Agora diz-me: como poderia eu acreditar no amor que proclamavas sentir, se nunca me mostraste que o sentias?

 
Apresentaste-me um amor cego e egoísta até dizer chega... Fizeste-me odiá-lo e temê-lo, acima de qualquer outra coisa. E, no entanto, foste tu também quem me abriste mais os olhos, depois de me teres cegado tanto. Talvez tenha mesmo de ser assim...

Eu pensava que o primeiro amor era aquele que nunca se esquecia... Mas talvez seja apenas aquele que te quebra como nenhum outro; e que te ensina tudo o que tens a aprender, para nunca mais passares pela mesma dor outra vez.

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