Nalguns dias, ainda acredito que me amas. Dessa tua maneira contorcida, desajeitada e imatura, ainda encontro resmas de um amor que ficou para trás. Talvez não passe de imaginação minha. Talvez simplesmente gosto de acreditar nisso, por tornar mais fácil o quanto ainda sinto por ti. Ou, quiçá, seja verdade. (...) Como saber?
E foi assim que me habituei, ao longo do tempo, a alimentar-me por meio de vislumbres desmaiados do teu amor por mim. Uma mensagem tua, e o meu mundo abanava. Uma chamada, e o universo inteiro estremecia. Então, assim que me aparecias... Como meter isto por palavras? Aquela sensação de ver-te subir a avenida deserta, rumo ao meu encontro, depois de tanto tempo? Seria como descrever a vinda do sol, depois de eras de tempestade. Seria como descrever um oásis em pleno deserto. Como se fosse possível me compensares uma ausência de meses, num único instante. E eu não me importava, porque qualquer chegada tua, saberia muito mais que qualquer partida.
Isto, porque eu só te queria a ti. E não existia mais ninguém à minha volta.
Sim. Nalguns dias, ainda acredito que me amas. Pela forma como te entregas aos meus lábios trémulos, e me beijas a fundo. Pelo jeito como adormeces junto a mim, como se nada nem ninguém te pudessem tirar-me. Pela maneira como te ris, como brincas e como és tão tu ao meu lado, como não és ao lado de mais ninguém. Pelas palavras que me sussurras ao ouvido. Pelos silêncios que partilhamos e que tanto transmitem, mais que muitas bocas. Sim. Nalguns dias, ainda acredito em tudo isso.
E, depois, existem dias como este. E noites como esta. Em que acordei contigo no meu pensamento, mas sem qualquer vislumbre teu no meu telemóvel, nem ao meu lado. Nem na minha vida. Em que fiquei a assistir ao passar das horas lentas, sem qualquer notícia, sem qualquer resma de nada. E em que, por fim, me deitei, sem qualquer mensagem de “boa noite”, sem qualquer abraço e sem qualquer sinal de que te importas.
Nestes dias e nestas noites, que por mim têm passado vãos, eu pergunto-me: se achas realmente que só mereço isto vindo de ti. Se mereço ser tratada como uma espécie de hóspede, ou um tipo de visita, para acalentar as tuas dores e desafogar a tua solidão. Se mereço, de facto, não passar de um entretenimento para as tuas horas vagas, ou de uma chamada tardia, quando o sono não te vem. Se mereço, apenas, ser-te uns dias espalhados pelo calendário, enquanto tu é-los todos para mim.
É impossível possuir um ser humano. E eu amo-te ao ponto de jamais querer que me pertenças por completo. E eu amo-te ao ponto de nunca querer impedir-te de ir aonde quiseres. Mas porquê – diz-me –, porque é que teimas em nunca me levar contigo? Eu só queria ser o teu regresso. Eu só queria ser o teu porto de abrigo, que te protege de qualquer mal e até de ti mesmo. Eu só queria mostrar-te que é possível ser livre, sem teres de estar constantemente a voar sozinho.
Mas tu – nunca – o percebeste. E eu já não sou aquela miúda que amava por resmas. Que se alimentava dos pedacinhos da tua atenção e do teu carinho, para sobreviver. Eu sou uma mulher. Eu sou uma mulher que merece que a adorem. Que merece o teu fascínio pelo meu olhar, a atenção do teu toque, e a razão do teu desesperar. Eu sou a mulher que merece que te importes sempre, e não só quando estás por perto e quando é tudo simples. Eu sou a complicação que vale a pena ser desvendada.
E tu?... Tu és o rapaz sem paciência. Tu és o tal que se esconde do que é complexo. O que se zanga por amar, por ter demasiado medo de sentir o que quer que seja. Tu és o tal que foge do que não controla, e do que não segue os teus ideais e os teus caprichos; as tuas vontades. Tu és o tal que prefere fugir a enfrentar. O que opta por desistir, em vez de lutar.
E – agora – explica-me: com que alternativa me deixas, senão a de ter de ser a mulher que te deixa de vez? A mulher que te vira costas e que nunca mais volta atrás? A mulher que se torna no maior arrependimento da tua vida? É isso mesmo que tu me estás a fazer tornar-me. E o que é que tu fazes? Continuas a ser o tal que não vale a pena. O tal que só me dá todas as razões para desistir. O tal que me faz arrepender-me de tudo o que fiz por ele.
Nalguns dias, quero lutar por ti. Nalguns dias, quero acreditar que ainda me amas. Mas esses dias já vão longe. E, agora, muitos mais são aqueles – e aquelas noites – em que só quero partir e não mais voltar. Já se faz tempo. E eu já desperdicei demasiado desse à espera que te apercebesses de tudo isto – quando deveria partir de ti.
E se nunca o fizeste, porque haverias de fazê-lo? Talvez precises mesmo de perder-me. De vez. Não como das outras vezes, mas para sempre.
É pena. Um para sempre juntos a virar um para sempre em separado. É pena, mas não é amor. E eu sou uma mulher que não merece – jamais – qualquer tipo de pena, mas sim todo e o mais puro amor.
E tu? Tu só és o miúdo que não faz por isso. E o amor é para homens.
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