quarta-feira, agosto 19, 2015

SEGUE (SEMPRE) EM FRENTE!


Às vezes, ainda sinto a tua falta. Não todos os dias, como costumava ser. Mas, por entre um dia qualquer, tu apareces-me nos meus pensamentos de rompante. Seja pelo que for. Na outra noite, a tua música predilecta passou no café. E eu apercebi-me que ainda a sabia de cor. Tal como o teu número de telemóvel. Ou a morada da tua casa. E até a matrícula do teu automóvel.

O que hei-de fazer - pergunto-me - a tudo isto que sei de ti? Os teus vícios e os teus tiques mais discretos. As tuas manhas e as tuas formas de pensar. Os teus sonhos e as tuas opiniões sobre os mais diversos assuntos. De que me serve, agora, conhecer-te tão bem?

Esquecer alguém é uma espécie de fachada, afinal de contas. Serás para sempre incapaz de varrer por completo todas as coisas que partilhaste com essa pessoa. Como a maneira com que esta sorri, esboçando covinhas. Ou o jeito com que penteia o cabelo pela manhã. Ou o tudo que mais lhe perturba e deixa fora de si. Tu saberás sempre todas essas coisas. Isso jamais se esquece, porque esse alguém mudou-te. Deixou resmas de si atrás, antes de partir. Daí dizer-se que, quem parte, nunca vai só. Leva-nos, também, a nós, consigo.


Um dia, ela passa por ti numa avenida e cumprimenta-te. Com aqueles lábios, que já tanto beijaste. E com aquelas mãos, que tanto te tocaram e conheceram o teu corpo. E tu cumprimentas de volta. Com essa boca, que já tantos gritos e tantos desabafos lhe atirou. Como se nunca se tivesse passado nada. E, aí, tu perguntas: de que te serve, agora, olhar para ela, com esses olhos que tanto denunciam o quanto ainda te importas?

Uma conversa de circunstância depois, e ambos seguem os seus caminhos separados. Esses, que tanto percorreram a dois. Nem a calçada te parece igual. E, aí, tu apercebes-te: que essa pessoa já nem te (a)parece a mesma, de todo. E, aí, eu pergunto-me: será que continuas a ser o rapaz por quem me apaixonei? E se não, aonde é que será que ele foi? Será que alguma vez existiu, ou não passou de imaginação da minha cabeça?

Segui sempre em frente, rumo a casa. E apercebi-me que sim, era verdade: jamais te iria esquecer, por mais que tentasse. As coisas não funcionam assim, simplesmente. Para sempre recordarei aqueles momentos longínquos, quando nos perdíamos em conversas sobre constelações e planos futuros. Para sempre me lembrarei do teu jeito de rir, dos teus problemas de expressão e da tua maneira controversa de seres tu mesmo. Jamais te esquecerei e também não o quero fazer.


Seguir em frente é a única coisa que é certa de acontecer. Porque, por mais que eu queira voltar atrás, subir a avenida de novo ao teu encontro, segurar-te na mão e pedir-te para vires comigo, algo não me deixa. Gosto de pensar que esse algo é o meu coração abatido, a pedir-me misericórdia. A implorar-me que pare de me magoar tanto e pela mesma pessoa. E eu ouço-o e continuo o meu caminho. E a vontade de espreitar-te morre-me a cada passo.

Sim, é impossível esquecer alguém que nos deu tanto para recordar. Mas é, sim, possível seguires em frente sem ela. Tu já existias antes dela aparecer, não é verdade? Então, agora, lembra-te de quem tu és e vai. Não espreites. Segue.

Afinal, o que está para trás tu já conheces. E se é para caminhar pela jornada da vida, que seja sempre, sempre em frente. Quem te merece, há-de sempre te acompanhar.

Sem comentários:

Enviar um comentário