domingo, agosto 02, 2015

UM FINAL DE MERDA


Sei que isto vai soar ridículo, mas não importa… Tantas foram as vezes que, sozinha, nos imaginei a envelhecer juntos. E mais: a perecermos juntos, assim que chegasse à hora de partir.

Que história linda que seria, à partida. Dois miúdos que se conhecem desde sempre e que se apaixonaram perdidamente um pelo outro. Pelo menos até se perderem. E nós já nos perdemos tantas, mas tantas vezes… E, no entanto, e sem nunca combinar, acabávamos por nos encontrarmos num ponto qualquer secreto - o ponto onde ambos os nossos corações se cruzavam. E, aí, ficávamos, só para nos perdermos outra vez.

Sempre achei que a razão porque nunca funcionávamos estavelmente, era por nos termos conhecido tão novos e demasiado cedo. Parcialmente isso é verdade, afinal de contas. Encontrámo-nos um ao outro num momento quando ainda não nos tínhamos encontrado a nós próprios. Porém, essa lógica ia por água abaixo mal te via chegar. Com esses olhos teus, onde tanto me perdia em segundos.


Ainda me lembro da história que elaborei dentro da minha cabeça, como um enorme filme, repleto de tragédias, comédias, romance e drama. Aparecia-me tal e qual um cenário tom de sépia. Eu e tu, passados tantos anos, a encontrarmo-nos numa avenida qualquer, ao acaso. Tu irias olhar para mim, e eu para ti, e aí apercebíamo-nos que era um ao lado do outro o nosso lugar certo. Eu iria correr para os teus braços e tu amparar-me-ias sem hesitar. Sem distracções e sem porquês, enveredaríamos numa vida - juntos - tal e qual como deveria ser.

Imaginávamo-nos numa cabana em plena floresta. Eu a ler livros e a escrever sobre nós, enquanto tu tocavas viola e fumavas tabaco de enrolar. Juntos, iríamos ver o sol nascer, todas as manhãs. E também, juntos, iríamos vê-lo a pôr-se e a mergulhar no horizonte. Irias cozinhar-me os teus belos pratos, enquanto eu poria a mesa, cantando canções em frenesim. Descalços e despidos, perderíamo-nos no corpo um do outro, todas as noites, debaixo das estrelas.

Agora? Agora sinto-me tão ridícula por alguma vez ter acreditado que tamanho filme seria possível de viver contigo. E tamanha é a minha dor, agora, ao aperceber-me que não passámos de uma mera curta-metragem, em final aberto. Final, esse, que não nos serve de nada, porque nunca seríamos nós os dois, juntos.


Passaste na rua e disseste-me olá como se fosse outra pessoa qualquer. Talvez, quiçá, eu seja mesmo. Talvez, quiçá, nem passamos de um passado qualquer longínquo, condenado a nunca mais se repetir. Talvez, quiçá, nunca passaremos de uma memória que já vai tão além, que até já nem parece real.

Imaginei-nos demais, quando nem fomos capazes de viver o que tínhamos ao nosso alcance. E eu não estou a culpar nenhum dos dois. E, ao mesmo tempo, culpo-mo-nos a ambos - mais do que nunca. E então? Talvez foi mesmo para isto que fomos feitos. Para dividirmos a conta de culpa, pagarmos as dívidas que causámos um no outro e seguirmos caminhos separados.

Gostei tanto de ti... Mas está na hora de começar a gostar de mim também. E temo não ser capaz de fazer ambas as coisas ao mesmo tempo. 

Que final de merda, não acham?

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