quarta-feira, setembro 30, 2015

HOMENS & MULHERES


Estou cansada de escrever acerca do quão vítima já fui. De enganos, de mentiras, de homens incapazes de amar. Eu, por minha vez, já fui a má da fita, também. Mas nunca tal escrevo sobre isso. Nem nunca acerca dos corações com que brinquei como se fossem fantoches. Nem nunca acerca dos grandes homens que deixei escapar, como que areia branca por entre os meus dedos.

Ao contrário do que meio mundo pensa, as mulheres e os homens não se diferenciam uns dos outros pelo jeito com que amam. Há quem diga que a mulher entrega-se a medo, mas que depois ama com tudo o que tem. Ao passo que um homem, apaixona-se irremediavelmente e depois vê-se a fugir às responsabilidades que o amor implica. Mas isso não funciona assim - obrigatoriamente. Não é o nosso género que nos separa no que toca à paixão. Nada disso: como se fosse assim tão simples.

Conheci homens com medo de cair por mulheres, por já terem sido magoados por tantas. Outros, que as usavam como trapos. Outros, ainda, que sabiam amá-las como cavaleiros andantes em plena noite de nevoeiro. Por outro lado, conheci mulheres independentes e fortes, sem necessidade de príncipes encantados. Conheci desesperadas por atenção, que se encaminhavam por relações à toa: só porque sim. Ainda, outras, que foram capazes de salvar homens da escuridão e trazê-los à superfície. Nada tem a ver com seres homem ou seres mulher, entendes? Somos seres humanos que amam, que se desamam e que são quebrados. Não há absolutamente diferença nenhuma.


Por detrás de um homem insensível, existiu uma mulher que lhe assaltou o coração e partiu levando tudo consigo. Por detrás de uma mulher fria, existiu um homem que ela amou e que roubou tudo o que restava do seu coração morno. Somos todos tão iguais, na medida em que sofremos das mesmas formas e das mesmas dores de perda. Somos todos tão iguais no quanto magoamos, iludimos e damos esperanças em vão.

Tanto um homem como uma mulher pode ser vítima de enganos. Nenhum deles é santo ou satanás. Nenhum deles é fruto, apenas, dos erros cometidos e passos em falso. Somos tão mais que isso, afinal de contas. E eu já cometi tantos, acreditem… E cá estou eu. A sair à rua de cabeça erguida e com as mágoas empoleiradas no fundo da mala. Passo por homens que também hão-de andar com elas guardadas no fundo dos bolsos. Somos todos tão quebrados… À espera de alguém cujas falhas se encaixem nas nossas. Cujos medos se alicercem aos nossos. Ninguém admite, mas todos nós esperamos por essa pessoa que há-de vir, vinda de não sabemos onde, para nos mostrar que não fomos feitos para ficar sozinhos.

Nenhum de nós é aquele brinquedo partido que tem de ser trocado na loja por outro novo. Nunca te reduzas a isso, porque jamais seria verdade. Talvez pessoas quebradas tenham de ficar com outras pessoas quebradas, para se aperceberem que, afinal, não precisam de qualquer concerto. Só amor. No final, precisamos de amor e de amor apenas. É ele que junta os nossos pedaços uns aos outros, para nos prepararmos para amar em pleno. Com medo, sim, sempre. Ingénuos seríamos se nos entregássemos sem qualquer cautela, depois de nos terem magoado tanto.


Está na hora de arrumarem o fatalismo de que jamais será possível achar alguém que vos mereça. Que vos faça feliz como nunca foram - ou mais do que alguma vez conseguiram. Fiquem sozinhos o quanto desejarem. Curem-se das feridas ainda expostas sobre a vossa pele. Tirem tempo para as mágoas vos secarem e, depois, saiam à rua de sorriso no rosto. Não escondam as cicatrizes porque todos as temos. Somos tão iguais naquilo que sofremos. E só por isso deveríamos ser tão mais bondosos uns com os outros.

Tu tens a tua história. Homem, ou mulher, não interessa para nada. Eu acredito que, um dia, darás por ti num café, ou num bar, ou num sítio qualquer, a partilhá-la com alguém que acabaste de conhecer. E esse alguém contará a sua e, por fim, estão a fazer uma juntos. Nem dás por nada, afinal de contas. É essa a parte melhor do amor… O quão imprevisível e espontâneo pode ser, se simplesmente deixarmos de o complicar tanto.

Temos todos medo: é normal. E sabem porquê? Porque já perdemos muito. Mas e depois? Ainda tanto nos espera… Larguem o que há em vão e dêem uma oportunidade ao coração, quando estiverem prontos, e não quando estiverem sós. Acreditem: aí está a única coisa que nos diferencia, no que toca ao amor.

terça-feira, setembro 29, 2015

ADMITE QUE NUNCA FOI AMOR


A fase mais dolorosa da minha vida foi aquela que passei do teu lado, a fingir que não te amava. A cruzar o meu olhar com o teu, e a reunir todas as minhas forças para que não notasses no formigueiro da minha pele. A ouvir-te falar dos teus namoricos da noite, e a fingir que cada um deles não eram como que uma facada no meu coração. A passear ao teu lado, rumo àquele café, e a tentar sofregamente que as nossas mãos se tocassem por acidente. A fingir que já dormia, junto a ti ao longo da cama, rezando a todos os deuses que te aproximasses. Que me tocasses. Que me tomasses como tua.

E os meus amigos perguntavam-me o que é que tu eras para mim. Eu encolhia os ombros num “tanto faz”, enquanto que o meu corpo se debatia contra a realidade do quanto eu te queria. E eles estranhavam o facto de, numa noite, sermos capazes de nos beijar e consumir como se não existisse mais ninguém no mundo. Para, no dia seguinte, nos ignorarmos e agirmos como se não se passasse nada. E eles perguntavam-me o que é que nós éramos e eu encolhia os ombros num “não interessa”. Enquanto que o meu corpo perecia, consumido por dúvidas, incertezas e perguntas, que eu tanto queria ver respondidas.


Nas noites em que não conseguíamos adormecer, tu vinhas buscar-me a casa, por entre a madrugada. Eu entrava no teu carro, tentando esconder o sorriso e a excitação com uma máscara de indiferença. Tu acendias o cigarro, enquanto conduzias, enquanto ambos bebericávamos um vinho rasca meio quente que deixaras no porta-luvas. Era isso que fazíamos nas noites frias, quando nos esquecíamos dos casacos. E lá íamos falando acerca do mundo, e de como a sociedade nos corrompe, e de como o futuro é tão incerto. Porque era isso que nós fazíamos nas noites em que nos sentíamos perdidos, sem saber para onde ir. Seguias por caminhos aleatórios até parares junto à costa. Fumávamos cigarros; eu com a cabeça pousada no teu ombro, enquanto discutíamos acerca de qual de nós lutou mais um pelo outro, de quem beijou quem primeiro, e porque é que tudo se desmoronou. Porque era isso que nos fazíamos nas noites em que não compreendíamos nada. Acabávamos bêbedos, por entre as estradas de terra batida, a rir e a fazer amor ao mesmo tempo enquanto a manhã espreitava. Porque era isso que nós fazíamos nas noites em que só queríamos esquecer.

Na manhã seguinte, tu procuravas as minhas roupas pelo teu quarto, impedindo-me de deixar quaisquer resma atrás, no teu mundo. Esse, de que nunca me deixaste fazer parte por mais de uma noite. Despedias-te com um aceno de cabeça como se não me tivesses consumido há umas horas. Fechavas-me a porta como se não fosse nada, mas, de todas as vezes que o fazias, uma fenda abria-se no meu peito esventrado. E, aí, eu partia, sempre à espera de voltar. Só por uma noite e eu sabia. Porque há qualquer coisa de fascinante em sermos arruinados e destruídos por quem mais amamos. Como se merecêssemos essa sentença pelo amor que sentimos ser um crime. E o ciclo voltava ao seu início: eu a fingir que não quero saber. Eu a fingir que não me importo em não passar de um corpo que te afasta da solidão. Eu a fingir que não vou para casa, logo a seguir, chorar e saborear o aroma que deixaste em mim, enquanto este não se dissipa por completo.


Não eram as mentiras que tu me contavas as que me doíam mais. Aquelas que te saíam quando te embebedavas, tais como que um dia iríamos ficar juntos, ou que jamais encontrarias alguém tão certo para ti como eu, e etc. Foram as mentiras que acreditei acerca de mim mesma, que me causaram maior dor. Aquelas que eu teimava em dizer em voz alta, tais como que não precisava de saber o que era para ti, porque estar ao teu lado bastava; ou que já há muito te tinha esquecido e que não passavas de um conforto entre lençóis, entre outras. Dei por mim envolta numa ilusão de que não te queria, quando, na verdade, te precisava cada vez mais.

Agora, saio à noite e estou aqui, neste canto, de copo na mão, a mirar a multidão e a abafar os meus pensamentos com música frenética. De rímel bem posto, a esconder o meu olhar desmaiado, e com batom a delinear-me os lábios, para que ninguém repare como estão secos. Estou a sorrir, mas nem se parece nada com um sorriso. Embebedo-me e fumo, mas as viagens de carro arrebatem-me, e o teu cheiro vem-me à memória, e aí eu dou por mim te encontrando nas faces dos estranhos que tento beijar à toa. E no fundo de qualquer copo que beba. Vou para casa, por entre a noite fria, que até me faz doer os ossos, e adormeço vestida, desengonçada, e com uma mensagem por enviar para ti, no meu telemóvel.


Nunca houve esperança para nós, e tu sempre soubeste… Mas eu era a única luz que se fazia sentir por entre a escuridão que tu te tornaras. E eu era a única fonte de esperança que nunca se ia embora… Então tu seguraste-me como se a tua vida dependesse disso. Consumiste as minhas forças e partiste quando as que tinhas já eram suficientes para continuares… sem mim… E, agora, a única coisa que restou foi a certeza de que nunca tivemos nada que pudesse ser chamado de amor.

domingo, setembro 27, 2015

DEVIA TER-TE AGRADECIDO


Devia ter-te agradecido. Mas, na verdade, quando as coisas chegam ao fim, nós nunca somos capazes de raciocinar como deveria ser. A mágoa e a sensação de impotência não nos deixam. Sentimos o barco a afundar a pique e só queremos sair de lá vivos. Naquela tarde de chuva, enquanto os meus olhos choravam, eu já só conseguia atirar-te as palavras mais ríspidas. Atirei-te com tudo, só porque não queria que restasse mais nada de ti em mim. Entreguei-te as acusações todas a serem feitas e parti… De bolsos e mãos vazias.

E, no entanto, devia ter-te agradecido. A pessoa que sou hoje, sou-a muito graças a ti. Foste tu quem me ensinou a amar desta maneira… Sem pedir nada em troca. Sem truques e genuinamente. Foste tu quem me mostrou que o sentido da vida é, afinal, amar tudo e em pleno. Amar as discussões, amar andar de mãos dadas, amar as decepções e as feridas à superfície da pele. E eu amo as cicatrizes que deixaste em mim. Não só por me terem tornado mais forte, mas também por me terem mostrado o quão longe eu sou capaz de ir por alguém que amo de verdade.

Doeu-me tanto amar-te. Mais do que te ter perdido. Por mais estranho que soe, é mesmo verdade. Acredito que, se voltasse atrás, voltaria a fazer tudo da mesma maneira. Quiçá, teria te agarrado mais junto a mim, nalguns momentos. Quiçá, teria engolido mais o meu orgulho, naquelas lutas parvas de miúdos que costumávamos ter. Mas isso não vale de nada agora. O importante é saberes que jamais seria capaz de me arrepender de nós, a partir do momento que adorei a pessoa que fui contigo. E fui capaz de adorar-me na mesma, mesmo que sem ti.


Apesar de te ter atirado as palavras mais frias, no nosso derradeiro fim, estava enganada numa coisa apenas: tu não te varreste de mim por completo. Como seria isso possível, depois de me teres marcado de tal maneira? Ainda te sinto por entre as sílabas que a minha boca desenha. Ainda te sinto nos meus textos e nos meus gestos, que apanhei de ti. Quando se fala de amor, vens-me ao pensamento e digo aquilo que me dizias: de que as relações deviam ser acerca de liberdade, e nunca de controlo. E quando encolho os ombros, quando não sei o que dizer, tal como tu o fazias. E quando escrevo, relembro-me de todas as cartas que te escrevi e que nunca fui capaz de enviar. Quando partiste, levaste um bocadinho de mim contigo. E deixaste um pouco de ti atrás. Obrigada por me teres ensinado que, quem parte, nunca vai inteiramente só.

Devia ter-te agradecido. Por me teres apresentado o amor e a dor como nunca ninguém o fizera. Por ti, sofri mais do que nunca, mas também fui o mais feliz que alguém poderia ser. Obrigada por me teres ensinado que, para nos amarmos a nós mesmos, temos também de ser amados de volta. Pelos nossos pais, pelos nossos amigos, que são o mais importante que temos nesta vida. E eu aprendi a amar-me num mundo em que tu não foste capaz de fazê-lo. Quando, em tempos, acreditava que só o teu amor poderia fazer com que me amasse a mim. Aprendi-o, graças a ti.


Quando alguém parte, (e é isto que ninguém admite), nós ficamos sempre a sentir aquela falta. Aquele espaço vazio na prateleira do nosso coração onde, outrora, uma pessoa se encontrava. E tu estiveste cá durante tanto tempo e, agora, olho para dentro de mim e, ao não te encontrar em lado nenhum, sinto um pequeno aperto. Aperto, esse, que vai esmorecendo a cada dia que passa. Jamais seria capaz de colocar alguém no lugar aonde outrora te encontravas. No entanto, coloco-me a mim lá. Para relembrar-me que eu existo além de ti e que sobrevivi à dor da tua perda.

Devia ter-te agradecido. Agora já não estás mais aqui, mas espero que o saibas: obrigada por tudo o que me concedeste. Obrigada por tudo o que me ensinaste e por tudo o que vivemos juntos. Não sei como estás, de momento. Não sei se encontraste a mulher da tua vida, nem se continuas a arrastar os sapatos pela calçada, ou a beber o café da mesma maneira. Mas duma coisa eu tenho a certeza: tu continuas a ser quem és. E desejo que sejas o melhor “tu” que eu sei que consegues ser. E espero que também eu te tenha deixado algumas resmas de mim contigo, porque dói-me imenso pensar que parti da tua vida sem deixar qualquer rasto.

Tu mudaste-me, ao me teres quebrado. Mas, se me tornei assim, inteira desta maneira como estou agora, foi porque tu não me deste outra opção senão sê-lo. Nem sei como te agradecer.

terça-feira, setembro 22, 2015

NÃO TENHAM MEDO DE ESTAR SÓS


Eu costumava ter tanto medo de estar sozinha, sabiam? Pela maneira como o silêncio se tornava tão voraz e desolador. Capaz de trazer ao de cima os mais malvados pensamentos, que sempre abafei com barulho. Capaz de ressuscitar os piores demónios e todos os meus velhos fantasmas. Eu encarava a solidão como um buraco negro, que só me sabe sugar e rodear de plena escuridão. Eu… Que sempre tive um imenso pavor ao escuro.

Até que me apercebi que ter medo de estar sozinha é o mesmo que ser escravo da solidão. Porque, na verdade, o ser humano tem a tendência em tornar-se naquilo a que mais resiste. Como quando resistimos a um desejo, que sabemos que está lá, bem concedido por entre as nossas veias. Quanto mais lhe resistimos, mais ele borbulha no nosso interior, até ocupar todos os cantos do nosso corpo. No que toca à solidão, acontece o mesmo. Quando damos por nós, já só a somos. Já ela tomou posse de nós. E por mais pessoas que se encontrem à nossa volta… E por mais que o sol brilhe lá fora… Aqui dentro, somos só nós. Nós e o nevoeiro que nos cerca por completo.


Um dia, olhei-me ao espelho e caí na realidade: ali estava a pessoa que mais poder tem sobre mim e sobre a minha felicidade. Ali estava o meu maior inimigo e, ao mesmo tempo, a minha maior salvação. Então, porque haveria eu de ter medo de ficar a sós comigo? Se eu conseguir tornar-me em alguém que admiro, em alguém que se basta, e em alguém que sabe tomar conta de si mesma, que mal é que tem estar sozinha? É tão simples, afinal de contas…

Saí à rua sem quaisquer medos. Mentira. Medo, sim, hei-de ter sempre. Aquele medo miúdo e sorrateiro, empoleirado atrás da orelha, a segredar-me e a relembrar-me do quão magoada eu já fui por outrem. Mas sabem que mais? A pessoa que mais me pode magoar, no fim, sou eu mesma. E, ao mesmo tempo, também sou eu a que me pode salvar. O meu erro foi ter acreditado que quem me quebrou, iria ser a mesma pessoa que me viria concertar. Mas não. Essa pessoa és tu mesma. Mais ninguém merece esse poder. Podes entregar a cópia da chave do teu coração a quem achas merecedor, mas, no final, a casa continua a ser tua. Tu és a tua propriedade e prioridade - sempre!


O erro de tantos é assumir que a felicidade não pode ser vivida a sós. E que, para sermos realmente completos, devemos ter sempre alguém com quem partilhar os dias, as noites, os momentos, as tempestades, as canções e tudo mais. E que é obrigatório ter um homem ou uma mulher para nos amar e beijar todos os dias. Nada disso. Para sermos felizes, não precisamos que ninguém nos complete. Tu, sim, tens de ser uma pessoa completa, em primeiro lugar. Tu não és nenhum puzzle com falta de peças, entendes?

Com isto, não quero dizer que pretendo ficar sozinha para sempre. Aliás, ainda acredito que, um dia, alguém vai aparecer e trazer ao de cima o melhor de mim: aquele lado que não mostro a qualquer pessoa. Agora, jamais vos diria que estou à espera de encontrar a minha outra metade. E sabem porquê? Porque eu já sou inteira.

Estou cada vez mais capaz de gostar de mim. E mais que isso: de adorar estar comigo. Sem barulho, sem pessoas, sem distracções. Só eu, parada, num breve momento, a tirar um tempo para mim. E tu? Quando foi a última vez que gostaste realmente de ti? Sem que ninguém to tivesse de dizer? Como podemos estar à espera de alguém que aprecie a nossa companhia genuína, se nem conseguimos ser companheiros genuínos de nós mesmos?

Hoje, pedi desculpa a mim mesma. Sempre andei à espera por desculpas e oportunidades de outras pessoas. Hoje, peço perdão ao meu coração que tanto entreguei a quem não merecia. Peço desculpa ao meu corpo que sempre carregou peso a mais. E concedo-me a oportunidade de seguir em frente e de continuar a melhorar, dia após dia.

Um dia, alguém há-de merecer-me. Mas, para isso, tenho de me merecer a mim primeiro.

sexta-feira, setembro 18, 2015

A Crónica do Jardineiro e da Rosa.


Tu mudaste tudo. Do momento em que apareceste, mostraste-me o quão esventrado, possessivo, inconcebível e descontrolado o amor pode ser. Tu descobriste-me de dentro para fora. Deitaste abaixo todas as muralhas, desvendaste todos os meus segredos e lados obscuros. Tu mudaste-me por completo. Tu condenaste-me a nunca voltar a ser quem fui. E eu tenho saudades de quem era, sabias? E tu? Também sentes falta de ti mesmo? Da pessoa que eras antes do teu coração ter sido partido? Antes de teres sido desiludido por quem mais amavas?

Tu foste o inferno aonde eu não me importava de arder. Tu foste as noites em branco, que eu não me importei de passar à espera. Tu foste o cais, junto ao mar, onde as minhas lágrimas se confundiam com a chuva. Lágrimas, essas, derramadas por ti. Lágrimas, essas, que tu nem as viste. Mas tu sabias de tudo isso, não sabias? Tu sabias que foras tu quem abrira o livro que eu era… E nem te importaste por nem me teres lido até ao fim.


Tu partiste… Ou talvez fui eu quem te mandou embora. Jamais hei-de perceber o nosso fim. Apocalíptico, inesperado e, ao mesmo tempo, imperceptível e de se prever. Mas nada disso me interessa, agora. O importante é que, por entre esta luta e por entre esta dor de perda, eu fui capaz de cruzar-me com a minha força.

Mas então e agora? Agora não passo de um conjunto de paradoxos. Em certos dias, sou a guerreira que só quer estar só consigo mesma. Que só quer que a deixem em paz. Noutros, careço por toque, por carinho e por alguém ao meu lado. Às vezes, sou capaz de passar noites afio contigo no meu pensamento. Noutras, tenho muito mais em que pensar. E agora? Que será de mim, se nem me percebo mais? E nas faces dos outros homens que nunca fui capaz de amar de volta, encontro o teu rosto como que em reflexo. Estarei eu para sempre amaldiçoada pela tua presença?



Amar-te foi como estar enclausurada num sítio fechado. Amar-te foi como respirar um ar quase que escasso. Respirar-te, aproximava-me cada vez mais de morrer. E, no entanto, se não te respirasse de todo, assim também morreria. O nosso amor transformou-se num jogo de soma zero, em que ambos sairiam sempre a perder. E só nos soubemos destruir um ao outro, enquanto o nosso amor durou. No final, já não passávamos de fantasmas que se assombravam mutuamente. 



E eu só queria mostrar-te… Que o amor não é como uma rocha, que se limita a pousar junto à costa. O amor tem de ser construído, cativado, renovado - todos os dias - como se de uma flor se tratasse. Pensava eu que tu eras um bom jardineiro… Ou foste tu quem se esqueceu o quanto eu era uma rosa? 

Eu hei-de chorar por ti. Aliás, já o fiz tantas vezes vezes. E hei-de perdoar-te. Talvez até já o tenha feito. Mas jamais seria capaz de voltar uma segunda vez para alguém que não me soube amar à primeira. Cansada já eu estou de entregar oportunidades a quem não merece. Agora, quero dar uma ao meu coração.

segunda-feira, setembro 14, 2015

ADEUS, Ó MINHA TERRA!


Tamanha é a minha dor, enquanto me despeço de ti, ó minha terra. Passeio por entre estes caminhos, enquanto a maresia me despenteia, e só quero absorvê-la e levá-la comigo. Quanto tempo até à próxima vez? Até à próxima vez que o meu olhar poderá pousar neste mar, como se de uma gaivota se tratasse? Até ao próximo dia em que poderei acordar no meu lar, rodeada de quem mais amo? Até à próxima noite que passarei por todos os lugares que já conheço de cor? Pudesse eu levar tudo isto comigo…

Quem me dera que o tempo parasse. Não peço para sempre, porque a vida continua. E o que tem de ser, tem muita força. Força, essa, que me leva para longe de ti, ó minha terra. Mas eu só pedia mais um dia. Mais um dia contigo, a saborear a tua água salgada e a mirar os campos verdejantes mais esbeltos que a minha vista alguma vez alcançou.

As minhas lágrimas sabem a sal. Estas, que me jorram dos olhos, tal qual a chuva morna das noites de Verão que aqui passei. E o meu peito ressoa em eco, como as cagarras junto à costa. E, aí, eu apercebo-me do quanto o corpo e a alma são coisas tão separáveis. Eu hei-de partir, mas essa parte minha - essa alma - descansa aqui. Por entre os grãos de areia, banhados pelo atlântico. Por entre o nevoeiro lá no alto do mato. E por entre os corações que aqui deixo para trás.


Quem me dera que o tempo parasse. Só mais um dia te pedia. Mas eu sei que não posso pedir-te mais nada, ó minha terra, quando já me deste tanto e tudo. Eu sou quem sou por ser de ti. Eu amo como ninguém e sempre em força, porque foste tu o meu primeiro amor. Eu sou quem sou por ter nascido aqui, num meio tão pequeno, mas que me permitiu ser tão maior.

Deixo-te, mas também me deixo a mim. Jamais poderia ir inteira. Porque no meu sangue corre-me o basalto negro e no meu peito arde-me um coração de vulcão. Portanto, não chores por mim, nem pela minha ida… Sou eu quem chora, agora, enquanto me despeço de ti com o olhar. Miro a montanha imponente, ao longe, e só consigo pensar: o quão grandiosa tu és capaz de ser, ó minha terra. E eu espero fazer-te orgulhosa, por mais longe que o destino me mande.

Eu serei sempre tua. E tu serás sempre minha. É este o amor de que nunca ninguém me tinha falado, porque tem de ser sentido (apenas). Este, que não pede nada em troca. Este, que não pára de bater, nem nunca se demove. Este, que não reconhece quaisquer distâncias ou tempos. Este que nasce e que, connosco, morre.


Pudesse eu ter só mais um dia,… mas para quê? Um dia jamais me bastaria para afogar todas as saudades. Estas que já me arrebatam, quando ainda nem sequer parti. E depois? São essas as piores. São essas as que nos avisam das que (ainda) estão para chegar.

Adeus, ó minha terra. Não esperes por mim. Continua a ser tão bela e tão minha, que, um dia, em breve, eu hei-de voltar. Para mergulhar nesse mar e sentir esse sol, melhores que quaisquer outros. Para me perder dos dias e das horas, como em mais nenhum lugar.

E haverá melhor lugar do que tu? Não, ó minha terra. Tu serás sempre tu(do).

quinta-feira, setembro 10, 2015

ESTÁS AÍ? ESTE É PARA TI.


Não sei quem tu és: sim, tu. Tu que estás a ler-me, neste preciso momento. Talvez até me conheças de alguma maneira; quiçá, conheces-me melhor que muitos outros; ou talvez nem passes de um estranho qualquer. Não interessa. Só te tenho a dizer que, este mesmo texto, não é para ti. Podes lê-lo, como é óbvio. Mas é possível que não faça o menor dos sentidos. Por isso, peço desculpa pelas palavras que se seguem - dirigidas a uma pessoa e a uma apenas.

Olá. Estás aí? És tu, desse lado? Eu espero que sim. Porque se tu não leres isto, então eu estarei a “falar” para o vazio. Quiçá, talvez seja mesmo isso que estou a fazer. Mas deixa-me acreditar, está bem? Deixa-me crer que és tu, desse outro lado, a ler as minhas palavras, como sempre fizeste.

Imagino o que possas pensar: “Mas o que é que ela tem mais a dizer? Mas porque é que ela tanto insiste? Mas porque é que ela não me deixa em paz?”. Se é isso que pensas, então acalma-te. Por favor. Não estou aqui para mais acusações, e muito menos para despejar ainda mais as minhas mágoas. Até porque este texto, ao contrário de todos os outros, não é de mim para mim. É de ti; para ti e - só - para ti.


Eu sei que fui embora daí. Dessa tua vida, que tanto marquei e que de tanto fiz parte. E eu não quero que - nem por um segundo - tu acredites que o fiz (apenas) por mim. Eu fi-lo por nós. Para o bem de ambos. Tu viste como nos estávamos a cansar e a deteriorar cada vez mais. Viste o nosso respeito mútuo a virar cacos. Viste os nossos momentos a virarem cenários de guerra. Viste tudo o que construíramos a virar pó. Tu sabes bem que foi o melhor a ser feito, não sabes?

Mas também não quero que - nem por um segundo - tu penses que está a ser fácil. Não sei quanto a ti, mas, às vezes, só quero recuar e tentar de novo. Só quero voltar àquele café e perder-me em conversas aleatórias contigo, enquanto perdemos a conta dos cigarros e das cervejas. Só quero voltar àquela avenida que tanto percorremos de braço dado. Só quero voltar àquele tempo quando nada era fácil, mas, mesmo assim, estávamos juntos. Mas tu bem sabes que não posso. Tu bem sabes que já há muito que éramos uma bomba prestes a detonar.

E, no entanto, cá estou eu. A conformar-me com esta terrível realidade aonde não chegas. A tentar lidar com o facto de que jamais vou ouvir os teus desabafos. Ou as tuas músicas improvisadas. Ou as tuas histórias e peripécias que me contavas com tanto entusiasmo no olhar. Quando penso nisso, só me apetece chamar-te. Voltar atrás com tudo o que disse e ir ao teu encontro. Mas tu bem sabes que eu não posso. E que as coisas nunca poderiam voltar a ser o que eram, a partir do momento em que nós não somos mais os mesmos.


Custa-me tanto não estar aí. Não saber pelo que estás a passar. Não saber se estás bem, ou mal. Custa-me, mas sabes que eu não posso saber nenhuma dessas coisas. Porque eu perdi esse direito, da mesma forma que tu também o perdeste.

Só espero que saibas que nunca nos encararei como um desperdício de tempo. E muito menos como um erro cometido vezes e vezes sem conta. Nós fomos o mais real que duas pessoas poderiam ser. Por isso, estou-te eternamente grata. Por meteres ensinado que tudo vale a pena, mesmo que não resulte. Mostraste-me o quão forte eu posso ser. E que o amor nunca se dissipa por completo, apenas transforma-se. E o meu por ti transformou-se nesta saudade tão bem empoleirada no meu peito: este espaço, que será sempre teu.


Bem… Acho que só me falta dizer-te o quanto espero que encontres alguém que te mostre o mundo. E espero ainda mais que te tornes em tudo aquilo de que és capaz (e eu sei que és...). Eu continuo a acreditar nisso e isso nunca mudará. Mas tu bem sabes que eu (já) não posso fazer mais nada por ti. Mas eu bem sei que tu - sim -, tu podes. Sê forte. E nunca te esqueças: não é o que tu perdes que faz de ti um perdedor. Mas é o que tu procuras alcançar, que faz de ti o maior dos lutadores. E eu não quero nunca que tu desistas, nem de ti, nem de todos os teus sonhos que de tanto me falaste.

Para sempre terei saudades tuas. Nossas… Adeus.