segunda-feira, outubro 26, 2015

ÀQUELE QUE [ME] MARCOU PARA SEMPRE


Olá… Há quanto tempo, não é verdade? Aposto que já estavas a começar a acreditar que eu me havia esquecido de ti. Bem, e não estás muito longe da realidade, afinal. Aconteceu tudo aquilo que tu disseste que iria acontecer. Tu e muitos outros. Os dias continuaram a passar, uns atrás dos outros, mesmo que sem ti. Os ponteiros do relógio prosseguiram, assim como os meus passos, mesmo não te tendo ao meu lado. Num dia qualquer, já nem sei bem ao certo qual, apercebi-me que já não pensava (assim tanto) em ti. Tão simples quanto isso…

Hoje, no entanto, foi um dia diferente. Não sei se foi o vento tempestuoso que trouxe a tua memória de volta. Ou se foi o barulho da chuva contra as portadas da minha varanda, que me sussurrou o teu nome. Não sei o que poderá ter sido, mas pensei em ti. Perguntei-me, como tantas vezes antes, no que poderias estar a fazer agora. Se te encontras resguardado no teu quarto, a isolares-te na música, como de costume. Ou se estás a embebedar-te num sítio qualquer com esses tais amigos que, no fundo, nunca te compreenderam (dizias-me tu, outrora). Ou se, porventura, estás a mergulhar-te nuns lábios de uma rapariga que, agora, te ama, como eu em tempos o fiz.

De repente, nada disso me interessava. A verdade nua e crua é essa. Depois de 130 dias sem qualquer vislumbre teu na minha vida, pouco me importa aquilo que fazes com o teu tempo. Isto, porque, a partir do momento em que, por entre essas três mil e tal horas que passaram, nem um único minuto teu foi gasto em mim, de que me interessaria saber o que quer seja? Não te estou a culpar por nada, nem tão pouco a pedir-te qualquer resma de atenção, porque esses tempos já lá foram. Obrigada por me teres mostrado isso mesmo. Por me teres mostrado que eu mereço receber tanto, mas sem nunca ter de pedir. Deve partir da outra pessoa, sabes? Espero que tenhas ensinado isso a ti mesmo.


No outro dia, um conhecido meu perguntou-me se já te tinha esquecido. Eu ri-me, enquanto lhe dizia que isso jamais seria possível. “Mas ainda o amas?”, questionou-me de volta. E eu parei de rir e sorri, ao invés. Expliquei-lhe, em seguida, que uma coisa nada tinha a ver com a outra.

Eu nunca te vou esquecer. Tu nunca hás-de me esquecer, também. Afinal, como é que se esquece quem nos roubou as primeiras vezes da nossa vida? Como é que se esquece alguém que nos deu tanto para recordar? Como é que eu poderia alguma vez esquecer aquela noite em que me disseste, pela primeira vez, que estavas apaixonado por mim? Ou aquela outra noite em que me confessaste que, acontecesse o que acontecesse, nós iríamos ficar juntos? Ou aquela, quando tivemos de saltar o muro da tua casa, só para podermos passar a última noite nos braços um do outro, antes de partires para o outro lado do mundo? Ou aquela manhã, quando fui ao aeroporto sem tu saberes, só para poder ver-te mais uma vez, antes de entrares no avião? Ou aquele dia em que chegaste e correste logo para os meus braços, os primeiros (senão únicos) a te segurarem?

Eu não continuo a amar-te, na verdade, porque isso jamais seria possível. Não depois de tudo o que aconteceu. Não depois de todas as palavras que atirámos um ao outro; não depois das feridas que causámos em ambos os nossos peitos. No entanto, sou a primeira a dizer-te que tu marcaste-me para sempre. Depois de partires, levaste de tal modo pedaços meus contigo, e deixaste-te de tal maneira fundido em mim, que jamais poderíamos continuar a ser os mesmos. Tu marcaste-me; eu marquei-te, também. É assim que funciona, depois de se terem amado (e ferido) tanto. Em tempos, tal realidade assustava-me demasiado. Agora? Agora aceito isso de sorriso no rosto.


Ao menos sei que foste real, entendes? A minha frieza e desconfiança de agora, são as resmas que me deixaste. E as vezes todas em que me fecho em copas, assim que sinto um homem a ter algum tipo de efeito sobre mim, são as réplicas do terramoto que tu foste na minha vida. Como se, apesar de teres partido há tanto tempo, continuasses cá em forma de escudo protector do meu coração. Ironia, não achas? Foste tu quem o quebrou. E agora? Agora, se ele é tão revestido de forças e camadas duras, é por tua causa.

Eu continuo a sorrir. Passo a passo, volto a acreditar no amor, outra vez. Talvez nunca voltarei a ser aquela miúda que tu conheceste, que procurava viver um conto de fadas. Talvez nunca voltarei a ser aquela princesa que esperava pelo seu príncipe encantado, que viria salvá-la das trevas. E muito menos voltarei a ser aquela tal que se entrega de olhos fechados e braços abertos, como o fiz por ti. Não. Eu não voltarei a ser quem era e ainda bem. Ingénua (e muito parva) seria se me obrigasse a passar pelo mesmo que passei contigo.

Eu sempre te disse: que o primeiro amor da nossa vida seria sempre a lição mais dolorosa e mais importante que teríamos a aprender. Por tudo o que nos dá, só para nos tirar em seguida. Por tudo o que nos promete, só para acabar feito em cacos. Pelo quanto nos abala como nenhum outro, transformando-nos por completo; condenando-nos a nunca mais voltarmos a amar, ou a ser da mesma maneira.


Tu marcaste-me para sempre e ainda bem. Graças a ti, (mas muito mais a mim), sinto-me mais forte e independente a cada dia que passa. Aprendi finalmente a amar aqueles meus lados que tu nunca conseguiste. E depois? O primeiro amor é demasiado imaturo e ingénuo para conseguir fazer isso. Na verdade, o teu trabalho passou mais por me fazeres encontrar o mais real e mais genuíno amor que poderia haver neste mundo… o meu amor-próprio.

O meu erro foi ter acreditado que precisava de esquecer-te, para seguir em frente. Afinal, só precisava de começar a amar-me a mim. 

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