domingo, dezembro 11, 2016

TIRASTE-ME AS PALAVRAS, MEU AMOR...


Numa conversa assim meia aleatória com umas amigas lá em casa, uma delas constatou um facto do nada: “Daniela, estás tão apaixonada, mas nunca mais escreveste…”. As suas palavras ecoaram por entre as paredes da sala e da minha cabeça, ao passo que me apercebia de que aquilo era mesmo verdade. E porquê?, perguntei de mim para mim. Porque é que nunca mais escrevi, ainda por mais agora, que ando a sentir tanto e tudo?

Eu não ando a escrever, mas ando fazer outras coisas. Ando a entrar e a sair de comboios, como nunca o fiz na vida. Nem nunca pensei que alguma vez fosse gostar tanto de o fazer: da azáfama de correr pela estação fora, para apanhar o comboio que mais depressa me levará a ti. E eu bem sei que não ando a escrever, mas ando a andar mais do que nunca. Junto ao mar de mãos dadas, enquanto o sol se põe; e por todas as praças lisboetas enfeitadas pelas luzes de Natal, com os teus braços à minha volta… Eu não ando a escrever, mas ando a amar. Como nunca antes fiz.

Ainda hoje te disse isto: “nunca pensei que amar fosse assim”. Nunca pensei que o amor fossem tantos sorrisos, uns a seguir aos outros, que até lhes perco a conta. Nunca pensei que fosse possível sentir-me tão triste enquanto tenho tantas saudades tuas, e tão feliz ao mesmo tempo, por saber que, finalmente, sinto a falta de alguém que merece que eu a sinta. “E tu mereces todas as pontas das minhas saudades”, disse-te, também. “Ainda bem que te mostrei tudo isso”, respondeste-me… Oh, meu amor… Tu mostraste-me mais do que eu alguma vez poderia pôr por palavras.


Eu não ando a escrever, mas ando a beijar-te os lábios durante as viagens de metro. E a beijar-te no chão da minha sala, ao som das nossas músicas favoritas. E a beijar-te ao longo da minha cama, enquanto o sono não vem. Eu não ando a escrever, mas ando a viver tanto, como nunca pensei ser possível. A viver o dia a dia contigo do meu lado. A viver os momentos que passamos tão juntos, a rir e a brincar que nem crianças, como que a amarem pela primeira vez.

E tudo isto me sabe tanto a ‘primeira vez’. Ainda ontem to disse, enquanto chorava; enquanto o medo me ia corroendo pelo corpo, entorpecendo todos os meus sentidos… É tudo tão novo para mim, amar-te como te amo; preferir magoar-me a mim mesma, do que a ti. E eu nunca senti isto na pele como sinto agora: o querer fazer-te feliz, para que eu também o seja. E toda esta felicidade é tão diferente de tudo o que já conheci. E eu amo-te tanto e, pela primeira vez, sinto que a pessoa do outro lado - tu - também me ama de volta.

Eu não ando a escrever, porque as palavras não me chegam (mais) para descrever absolutamente nada. Como posso eu descrever a quem quer que seja, o quão maravilhosos se tornam os meus dias, assim que me ligas a dizer que vens para Lisboa à toa, só para passares umas horas comigo? Como descrever o sabor dos teus beijos, capazes de me arrancarem da mais cruel das realidades? Como descrever a sensação de adormecer e de acordar contigo, como se desde sempre tivesses pertencido a esta casa?


Como descrever as saudades lancinantes que sinto de imediato, assim que me despeço de ti junto aos malditos comboios, que tanto amo e odeio, por serem eles que te trazem e que te tiram de mim? Eu não ando a escrever, porque nenhumas palavras serão alguma vez suficientes para descrever tudo isto que sinto. E tudo isto é tão teu e tão nosso, e eu adoro que assim o seja.

Eu adoro-nos. Eu adoro que tragas ao de cima o melhor de mim. Eu adoro que me acalmes os medos e que me faças andar de elevador. Eu adoro que sonhes comigo, que faças planos futuros a contar comigo, e adoro que me trates tão bem: principalmente naqueles momentos em que não consigo fazê-lo. Eu adoro que os meus amigos te adorem, e que tu adores a pessoa que eu sou, por mais que me seja difícil acreditar nisso mesmo. Eu adoro-te tanto… por seres tu…

… e por me deixares ser (sempre) eu.

sexta-feira, novembro 11, 2016

AO (MEU) AMOR...


Eu gosto de ti. Tão simples quanto isso. Mas eu bem sei que não vai ser fácil. Espera aí, deixa-me reformular isto: eu não quero que seja fácil. Eu quero que tudo seja o mais natural, genuíno e real possível, tal como eu e tu somos. Eu quero tudo isso contigo. O mau e o bom, o lindo e o não-tão belo; e também os dias e as noites, até aqueles a que não és capaz de chegar.

Eu quero passear contigo pela praia de mãos dadas, ao fim do dia, enquanto o som da tua voz me vai aquecendo o corpo todo. Eu quero as conversas tardias, por entre insónias, quando ambos nos sentimos tão perdidos e tão solitários, num mundo demasiado grande para estarmos suficientemente perto. Eu quero as madrugadas ao longo da minha cama: tu e eu a fugirmos do sono; o teu corpo fundido ao meu como se tivesse sido desenhado para pertencer ao meu apenas. Eu quero os nossos silêncios confortáveis, que nenhum de nós se atreve a quebrar; a televisão está ligada, mas nós nem nos importamos com isso.

Eu quero tudo isso contigo. Eu quero os abraços que me dás assim que me apanhas na estação de comboios, após uma viagem interminável, e que tanto fazem o meu coração bater incontrolável. E também quero os beijos que me dás sempre que nos despedimos no mesmo local, e que tanto sabem à incerteza e à dor de nem saber quando voltarei a ter-te comigo. Eu quero as nossas mãos entrelaçadas, enquanto as horas se esvaem por entre os nossos dedos, sem que sequer demos por isso.

Eu gosto de ti. E como é bom valer tão a pena gostar de ti como eu gosto. E tu vales tanto a pena… Eu adoro tudo isso em ti: o teu lado engraçado, um tanto idiota; o teu lado sério, que me fita nos olhos, chegando até a intimidar-me, por vezes. O teu lado farto das injustiças da vida; e o teu mais sonhador, que tanto aguarda por um mundo melhor. Adoro o quanto me fazes rir, que até me esqueço da facilidade com que poderias fazer-me chorar.

Eu quero tudo isso contigo. Quero compreender-te nos momentos em que não te consegues expressar. Quero entender-te nas alturas em que nem és capaz de te entender a ti próprio. Quero agarrar-te nos meus braços as vezes que forem precisas, até saberes o quanto quero que fiques cá. Quero deixar-te partir, assim que chega a hora, com a certeza de que voltarás sempre.

E eu bem sei que não vai ser fácil. Não faz mal: eu não quero que seja. Mas quero que saibas que, por ti, revirarei tudo, encurtarei quaisquer distâncias, esperarei o tempo que for preciso. E quero que nunca te esqueças que estamos juntos nesta jornada, para o que der e vier. Para o bom, para o mau, para o lindo e para o não-tão belo. Para os dias e para as noites, até naqueles em que temos de adormecer e acordar sem o outro.

Eu gosto de ti. Tu gostas de mim. E como é bom estar-se com quem se gosta…

sexta-feira, novembro 04, 2016

"O QUE É QUE EU VI EM TI?"


“O que é que viste nele?”, perguntaram-me num dia qualquer, por entre uma conversa típica de café. De repente, foi como se todas as vozes se tivessem calado à minha volta. Hesitei, e hesitei mais um pouco. Da minha boca, nada mais que silêncio… e um meio sorriso a querer espreitar.

O que é que vi em ti? Eu digo-te, até porque não poderia ser mais simples: vi o que mais ninguém antes viu. Vi o teu olhar de soslaio a mirar-me discreto, em plena multidão; olhar, esse, que nada tinha a haver com os outros que conhecera até então. Olhar, esse, que ao contrário dos outros, não me procurava decifrar de uma só vez; nem descobrir todos os meus receios ou segredos, nem deitar todas as minhas barreiras abaixo, sem sequer pedir permissão.

Não. O teu olhar sempre foi diferente. Ainda hoje, passado algum tempo, continuas a olhar-me da mesma maneira. Assim de jeito meigo, de sorriso paciente no rosto, só à espera que eu me revele por mim mesma, e a meu tempo. A diferença preponderante dos teus olhos sempre foi esta: eles deram-me tempo. Eles ainda hoje espelham a paciência para esperar.


O que é que eu vi em ti? Eu digo-te, correndo o risco de me repetir: eu vi o que mais ninguém foi capaz de ver. Lá está, nunca ninguém te concedeu a calma necessária para te conhecer como eu te conheço. E o mesmo se aplica a mim. Entrámos nesta jornada juntos sem sequer notarmos: nem demos logo as mãos, nem os beijos, nem os corpos. Simplesmente nos encontrámos em plena madrugada, enquanto os bares fechavam, e dissemos um para o outro: “e se ficássemos mais um pouco?”. 

E, assim, fomos ficando. Aquela noite imprevisível deu lugar a muitas outras, demasiadas para contar. E essas foram dando lugar aos dias, que nunca chegámos a contar, porque ambos odiamos contas. Quando dei por mim, cá estávamos nós… A viajar pela alma um do outro, um passo de cada vez e sem quaisquer pressas. Tal como sempre deveria ser.

O que é que eu vi em ti? Eu digo-te. Eu vi em ti, pela primeira vez, a prova de que o tempo não tem de ser [sempre] o nosso maior inimigo. Eu vi em ti todas as estações do ano num só dia: o tom outonal dos teus olhos, o moreno da tua pele, o cheiro a manhã de primavera e o frio que sinto nas noites de Inverno a que não chegas. Eu vi em ti, não só a paz que viria a acalmar a minha tempestade, como também a companhia para dançar comigo à chuva.


Pronto, está bem. Eu não conheço tudo de ti, ainda. Não sei todas as tuas músicas de cor e salteado, nem as tuas histórias mais caricatas da adolescência. Não decorei o teu passado, nem muito menos adivinho o que pretendes do teu futuro. Não vi, ainda, todas as cicatrizes ao longo do teu corpo, nem tão pouco sei das pessoas que as provocaram.

Mas sabes que mais? O que é que tem, quando sou eu aquela que te viu como mais ninguém o fez? Disseste-me, outrora, por entre uma conversa qualquer, que te consideravas o homem mais sortudo, por teres alguém que te vê como (só) eu te vejo. Mas queres saber uma coisa? Sortuda também eu sou, por ser aquela que pode olhar para ti todos os dias.

segunda-feira, outubro 17, 2016

ÀS PESSOAS QUE [NÃO] ACREDITAM NO AMOR


Esta cena do amor é mesmo do caraças… Sim, eu sei que me repito ao dizê-lo, mas isto é tão verdade. Mas sabem o que consegue ser ainda mais incrível que o amor? Somos nós - as pessoas que amamos. É incrível como nos entregamos a alguém, partilhamos partes de nós que deixam de ser só nossas, saímos feridos como que sem nada… E ainda nos atrevemos a tentar de novo, por mais que digamos que não. Por mais que nos fechemos entre muralhas e por mais que cobramos o nosso coração de cadeados. O amor acaba sempre por voltar a nós.

Eu sou uma dessas pessoas: que insiste. Que sofre, mas que vai à luta sempre que surge a oportunidade. Que chora sozinha no quarto, em plena escuridão, assim como também me deito ao teu lado, naquelas noites em que apareces. Que me revisto de barreiras atrás de barreiras, e que as deito todas abaixo, assim que chegas. Jurei a mim própria incontáveis vezes antes, que jamais iria cair de novo… Mas, contigo, eu não me sinto a cair, de todo. Fazes-me flutuar.

Fazes-me acreditar, outra vez. Depois de tanto tempo a desacreditar tudo e tanto. Magoaram-me desmedidamente, isso é certo - e tu bem sabes. Todos temos a nossa história. Todos temos os tais fantasmas do passado, que nos impedem de ver com clareza aquilo que nos rodeia. Tu tens a tua bagagem e eu tenho a minha. Mas nesta viagem - que é só nossa - eu caminho leve ao teu lado. Eu arrumo o que já lá vai no armário e sigo contigo, sem malas e sem reservas. Porque tu (me) bastas.


Por isso é que esta cena do amor é mesmo do caraças… É capaz de nos levar à maior das amarguras, ao mais fundo dos poços. É capaz de nos deixar perdidos, sem pertencer a lado nenhum. E no entanto… É a força da natureza mais incrível de todas. Move-nos a todos, de dentro para fora. Capaz de trazer ao de cima o melhor de nós. Capaz de nos fazer sorrir num Domingo sombrio. Capaz de nos aquecer no mais gélido dos invernos.

Nós somos incríveis - nós, que amamos. Até naqueles momentos em que não amamos ninguém, nem acreditamos que esse tal “amor” existe para nós. Porque cá bem no fundo do nosso ser, nós teremos sempre tanto para dar. Por mais que nos tenham tirado todas as razões e todas as forças, basta alguém aparecer para voltar a despertar tudo de novo, como se tivéssemos a sentir tudo pela primeira vez. Pelo menos, foi assim que aconteceu comigo.

Olho para trás… Para as tais noites solitárias, a tingir de lágrimas os meus lençóis enquanto as feridas do meu corpo latejavam, e dou por mim a sorrir. Eu sobrevivi, digo a mim mesma, num momento em que só me sentia a falecer. Eu sobrevivi e, agora, estou aqui… A sorrir para ti, que nem uma criança. A contar-te todas as minhas histórias, e a aperceber-me ao mesmo tempo que estou a criar uma - nova, nossa - contigo.


Não sei o que nos espera. Para já, nem quero saber. Todas as perguntas se calam ao som dos teus passos que te aproximam de mim, ao início da tarde. E todas as respostas se reúnem, ao cair da noite que nos esfria os ossos, enquanto nos despedimos com demora. E haverá melhor despedida do que aquela que nem sabe a tal? É tão bom voltar a acreditar que o amor não significa dizer ‘adeus’.

Amem sempre e amem muito. Não deixem as réplicas de antigos terramotos se intrometerem no vosso caminho. Acreditem em mim: valerá sempre a pena amar, mesmo que não resulte. E, um dia, quem sabe? Vamos dar por nós a viver a história das nossas vidas, graças a todas as outras que não passaram de lições que tínhamos de aprender. As minhas derrotas fizeram-me amar como eu amo hoje.

Pensa assim: se amaste a pessoa errada como amaste, imagina como serás a amar a pessoa certa.

segunda-feira, outubro 03, 2016

O COMBOIO QUE PERDI...


O comboio da 1 vai cheio, mas, ao mesmo tempo, solitário como sempre. Acredito que não há solidão mais intensa do que aquela que sentimos no meio de uma multidão. E lá ia eu… e os outros… Numa viagem solitária e silenciosa, cada um rumo ao seu respectivo destino. Ah, destino. Era mesmo nele em que estava a pensar, enquanto o comboio da 1 me aproximava do mesmo.

Tu viste-me primeiro, eu vi-te logo a seguir. Os nossos olhares tropeçaram um no outro, como já fizeram tantas vezes antes. E, no entanto, podes ter a certeza que, de cada vez que tal acontece, eu recordo-me sempre da primeira vez em que olhei para ti. Assim de soslaio, como quem quer passar por discreta. Mas tu reparaste (reparas sempre naquilo que tento esconder). Tu reparaste e sorriste-me, e eu acredito que é assim que as histórias começam.

Existem pessoas que nos fazem querer parar no tempo, como se nunca nenhum fosse suficiente. E depois existes tu, que me fazes perder a noção do mesmo. Nem eu sei quantas horas passámos a percorrer a linha da costa, com o mar a vigiar-nos tranquilamente. Não olhei para o relógio uma única vez, porque quando tu estás, não quero saber de horas para nada. E como foi bom poder desfrutar do escassear das mesmas, ao teu lado. Pela primeira vez, o facto do tempo passar não me assusta, nem me magoa… Porque tu estás aqui.


Há algumas semanas atrás, alguém me perguntou como é que se sabe quando se está apaixonado. E eu sorri-lhe. Sorri-lhe e disse-lhe que, assim que aquela pessoa te aparece, tudo melhora - tanto dentro de ti, como à tua volta. Pudesses tu saber o bem que me fazes, desde que apareceste. E pela primeira vez na minha vida, consigo dizer isto em voz alta a mim mesma: eu estou apaixonada. Estou aterrorizada, mas estou na mesma. E o resto que se lixe!

Um dia, falei-te acerca de pessoas que perdemos ao longo da nossa vida. Que na altura do fim, tudo nos dói; o mundo aparenta estar a desabar e nós ficamos a sentir-nos como se não pertencêssemos a lado nenhum… Mas que, depois, passado algum tempo, somos capazes de olhar para trás e pensar: ainda bem que a perdemos. Ainda bem que não desperdiçámos nem mais um dia ali. Ainda bem que não fomos certos um para o outro. E tu concordaste e disseste que não eras pessoa de arrependimentos, e que ainda bem que perdeste quem perdeste. E eu já só conseguia pensar no quão bom foi conhecer alguém como tu.


Estávamos a caminho da despedida, após um dia que em nada se assemelhava a todos os outros. Sentámo-nos na estação, nem vimos os horários de chegada dos comboios e deixámo-nos estar. Só assim, um ao lado do outro, a desfrutar do tempo que nos restava. Sem pressas, sem lamúrias e sem dor. Só assim. O comboio parou à nossa frente, e quando fui beijar-te num ‘adeus’, este arrancou e partiu. Deixou-me ali especada, como se quisesse que eu ficasse contigo; como se até o tempo estivesse do nosso lado.

Existem coisas e pessoas que temos de derradeiramente perder. E ainda bem que assim o é. Ainda bem que perdi quem perdi. Ainda bem que perdi o tal comboio lotado e solitário. Ainda bem que te encontrei.

segunda-feira, agosto 29, 2016

gosto de ti, faça chuva, ou faça sol.


Como eu costumo dizer: amor é amar sempre, faça chuva ou faça sol. Porém, hoje, estão a fazer ambos ao mesmo tempo, e o meu coração já nem sabe para que lado se há de virar. Eu gosto de ti. Pois, claro que gosto! Gostei de ti assim que te conheci, um pouco à toa, num jantar desenfreado por entre conversas paralelas, entre pessoas que nem eu nem tu conhecíamos bem. Então, quis conhecer-te. Pois, claro que quis! Não fosse eu a típica desavergonhada…

Mas lá está: hoje faz sol e está a chover - tudo isto ao mesmo tempo. E eu gosto de ti, mas não quero. Ou melhor: não sei se quero. (Estão a perceber a diferença?) Pois, claro que não quero! Eu sei que a cantiga do “já sofri demais e não estou pronta para outra” é a desculpa mais irritante de todas… E que a vida é acerca de seguir em frente de braços abertos… Mas… Eu não sei se vale a pena querer gostar de ti. Talvez por não crer que tu algum dia gostarás de mim de volta.

É uma situação tramada, esta de ‘gostar’ de alguém como eu gosto de ti. Não estava à espera - nunca se está, obviamente. E, no entanto, e apesar de não fazer sentido algum, eu sei bem o porquê de gostar de ti. É por seres quem tu és. É esse jeito jovial e despreocupado com o futuro que me acalma os medos que sinto pelo meu. É esse sorriso que emana paz. É essa calma que trazes contigo a qualquer lugar que vais. Porra, eu gosto de ti, não faz sentido, mas faz!


Tal como o dia de hoje. Continua a chover e o sol espreita por entre as nuvens cerradas. E eu já só consigo pensar no quão bom seria se gostasses de mim também. Não para irmos logo dar à volta ao mundo juntos, para vivermos uma história de amor como nos filmes, mas para simplesmente gostarmos um do outro. E haverá coisa mais bonita do que duas pessoas que se gostem simultaneamente?

Faz chuva e faz sol. E o meu coração já não sabe o que fazer. Parte de mim quer deixar o assunto de parte e prosseguir com a minha vida, como se nem tivesses tropeçado nela. A outra parte quer gostar de ti e mostrar-te o quanto. Sem medos, sem reservas; faça chuva, ou faça sol, ou ambos ao mesmo tempo. Não sei… Medos, eu tenho, e são demasiados para contar. E essas tais reservas são os meus mecanismos de defesa, que me protegem de mim mesma quando gosto de alguém como gosto de ti. Porque quando eu gosto… Eu gosto mesmo a sério.

Já não escrevia uma única palavra há uma Era, e aqui estou eu, a mirar os céus solarengos que choram, a escrever para ti. Porque quando eu gosto de alguém, as palavras fluem do coração até aos meus dedos e eu escrevo… e muito! Não consigo parar, nem abrandar o passo, e por isso mesmo é que sei que gosto de ti… e muito! Será que ainda vou a tempo de parar? Será que quero fazê-lo?

Será possível, algum dia, tu gostares de mim?

quarta-feira, junho 22, 2016

ORGULHO? O QUE É ISSO?


“Não é o orgulho que te aquece à noite”, digo de mim para mim, de todas as vezes que dou por mim a engoli-lo. E são tantas as vezes, acredita em mim. Que queres que eu faça? Nunca fui uma pessoa orgulhosa; não faz parte de mim. Sempre tive outras prioridades, e resolver as coisas, seja de que maneira for, sempre foi a mais prioritária. Será defeito ou qualidade? Nem sei bem.

Alguém que adoro disse-me uma vez: “o silêncio é o melhor remédio”, mas eu não consigo ser assim; não faz parte de mim, afinal de contas. Até porque, a meu ver, sempre foi mais relevante não deixar nada por dizer. Detesto silêncio. Detesto palavras caladas, aquelas que morrem nos lábios, aquelas que só se querem soltar. E mesmo que não me sirva de nada, eu falo sempre. Eu digo-te tudo o que há a ser dito, mesmo que não mude coisa nenhuma. Será defeito ou qualidade? Não tenho a certeza…

Por isso é que não consigo calar-me a ninguém. Mesmo que não haja volta a dar, eu opto sempre por gastar todos os cartuxos. Expludo em raiva, grito a plenos pulmões, viro furacão. Mas digo tudo, ai se não digo. E depois, aí, posso ir-me embora e não mais voltar. Não por orgulho, não se trata disso. Nunca será o orgulho a impedir-me de voltar. Mas sim a minha dignidade. E acredita: uma coisa não tem nada a ver com a outra.


E eu quero que saibas que eu vou perdoar-te. Ainda não o fiz, admito, estou demasiado magoada. Mas as mágoas, essas, passam. E passarão ainda mais depressa se não as agarrarmos com amargura. Acredito que as pessoas orgulhosas, por vezes, sustêm demasiados rancores dentro de si mesmas. Eu não sou assim, nunca fui; não faz parte de mim. Eu sofro tudo. Sofro com o coração todo e esvaio-me em dores infindas. Mas, a seguir disso, eu perdoo. Eu perdoo, mesmo que não te possa voltar a aceitar na minha vida. Mas eu perdoo-te. E só desejo que sejas feliz.

É esta a pessoa que sou. Há quem torça o nariz, há quem diga que tenho falta de amor próprio. Eu prefiro acreditar que as pessoas menos orgulhosas, aquelas que lutam, que vão atrás, que dão o braço a torcer e que dão tudo de si até ao fim, são as que mais se amam a elas próprias. E porquê? Porque optam por não se corroer em amarguras e problemas mal resolvidos. E haverá algo mais destruidor para a nossa alma, do que corrompê-la com ódios descabidos e imortais?

Eu amo ser da maneira que sou - neste aspecto não-orgulhoso. Neste aspecto humilde, de quem concede oportunidades enquanto acredita que essa pessoa as mereça. Por mais que me desiluda; por mais que me magoe. Se é defeito ou qualidade, não sei, nem me interessa. Faz parte de mim. E a minha prioridade é manter quem eu amo na minha vida, acima de tudo.


Desculpa senão conseguir manter-te aqui. Mas eu juro que vou perdoar-te. Eu juro que não vou ficar a perder-me na amargura do quanto me magoaste, sabe-se-lá durante quanto tempo. E não só perdoar-te-ei, como também te desejarei para sempre a melhor das felicidades. Porque é esse o verdadeiro significado de perdoar: aceitar que o que tínhamos a fazer na vida um do outro já está terminado, e seguir de sorriso e lágrimas no rosto.

Tu magoaste-me. Não foste o primeiro, nem serás o último. Afinal, as pessoas magoam-se umas às outras. Eu própria já feri tanto sem querer, por querer, e aqui estou. Também a mim me perdoei. Espero que aqueles que magoei também o tenham feito. Porque não se ganha absolutamente nada em odiar quem já (nos) partiu. O tempo e alma que desgastamos em ódios poderia estar a ser aproveitado para amar. E o mundo seria um sítio tão melhor que optássemos pelo amor, acima de tudo. Por mais que nos magoe, ai se não magoa.

Mas eu escolho continuar a amar os meus. Acima dos seus erros e dos seus defeitos. Até os orgulhosos eu amo. Aqueles que me fazem ir atrás as vezes todas, até esses eu amo. Sou uma daquelas pessoas que foi feita para amar, e se há coisa que eu sei, é fazê-lo. E eu amo-te. Amo-te por mais que me tenhas magoado. Amo-te por mais que me fira de todas as maneiras. Amo-te, perdoo-te e para sempre irei amar-te.

Afinal, não é o orgulho que nos aquece à noite. Mas sim o amor que carregamos dentro de nós.

quarta-feira, junho 15, 2016

BORA SALVAR O MUNDO?!


Hoje, estou tão triste. Não porque discuti com uma amiga, não porque um tal rapaz me quebrou o coração, não por temer pela incerteza do meu futuro. Não, nada disso. Hoje, eu estou tão, mas tão triste por viver neste mundo tão, mas tão doente. Atrevo-me a dizer até à beira do colapso.

Sempre tomei tantas coisas como garantias natas: o conforto, a liberdade e a segurança. Pois assim me educaram, afinal de contas - e ainda bem. Não há mal nenhum nisso, se formos a ver. Nasci no seio de uma família que me amava, vivi rodeada de pessoas amigas e sempre tive todas as condições para poder levar uma vida confortavelmente feliz. Sei que não sou a única, obviamente. E lá está: não há mal nenhum nisso. Porque foi assim que os nossos pais nos apresentaram ao mundo, e tanto se esforçaram para que tivéssemos mais do que eles tiveram.

No entanto, toda essa ‘bolha’ que nos rodeia acaba por, iminentemente, rebentar. Somos como que atirados de para-quedas para a realidade bruta e insana que nos envolve a nós, seres humanos. Com isto quero dizer, que começamos a ter noções que nem sempre tivemos. Começamos a preocupar-nos - pelo menos alguns de nós - com o aquecimento global, com a guerra, com o preconceito, com a crise, a violência, entre outras doenças da nossa sociedade.


Desde o menino rico ao pobre, às maiores grandes potências e países do Terceiro Mundo, todos sofremos dos mesmos males, em conjunto. E eu acho que é disso que nos continuamos a (querer) esquecer. Olhamos de soslaio para a guerra que eclode num país qualquer longínquo, até a ameaça começar a bater à nossa porta. Ignoramos matérias como o ambiente, porque as coisas nem estão assim tão más; mas depois ressentimo-nos com as alterações climáticas, que não nos deixam ir para a praia. Entre outras coisas que teimamos em pôr de lado.

Às vezes, nem sei o que me assusta mais. Se o ódio puro que tantas pessoas carregam dentro delas, se a indiferença generalizada que prevalece entre nós. Insistimos em não querer ver para além do quadro pequeno, que é a nossa vida. Vivemos sobre este prisma tão redutor “ao menos não se passou comigo” e deixamo-nos estar. Um atentado ocorre num lado, viramo-nos para o outro. Viramos todos moralistas nas redes sociais, mas nem mexemos um dedo para mudar o que quer que seja. E porquê? Quiçá, porque, desde cedo, nos ensinaram que pouco ou nada podemos mudar. E que quem manda serão sempre os ‘outros’. Mas, afinal, quem são os ‘outros’?

Os ‘outros’ não existem. Porque nós somos todos um. Não somos diferentes raças, ou orientações sexuais, ou classes separadas numa sociedade. Nós somos O ser humano. A espécie que teve o derradeiro prazer de ter um planeta nas suas mãos, em conjunto com uma flora e fauna incontáveis, que insistimos em executar - ou pior, assistimos a isso sem fazer nada.


Hoje, estou tão, mas tão triste. Por viver num mundo onde pessoas preferem ver homens com armas na mão do que homens de mãos dadas. Um mundo que não aceita estrangeiros sem um lar, por acharem que já temos problemas que chegue - como se eles nem fossem seres como nós. Um mundo que legaliza porte de armas, mas que faz um filme no que toca à adopção de dois pais ou duas mães. Um mundo que proclama touradas e circos como grandes espectáculos, mas que adora ter gatos e cães no alpendre. Um mundo doente, é esse em que vivemos.

Se cada um de nós fosse a mudança que quereria ver no mundo, tudo seria tão diferente. Se amássemos e deixássemos os outros amar livremente, quer seja um homem, ou uma mulher, ou um Deus, nenhuma guerra levaria a sua avante. Se as armas fossem banidas de todas as mãos erradas, se as fronteiras fossem todas abertas, se o dinheiro que existe fosse repartido da forma mais justa possível… que mundo seria esse. Utópico, talvez. Mas será realmente impossível?

“Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Que tal mudarmos o mundo começando por nós mesmos?”, Martin Luther King.

sexta-feira, junho 10, 2016

QUEM MAIS JURA, MAIS MENTE


Eu juro que estou a tentar perceber-te. Eu estou a tentar, mas não consigo, pois não faz sentido algum. Qual era, afinal, a tua ideia? Era pagares-me uma viagem a dois pelo mundo fora, e deixares-me a meio caminho, sem te justificares? Eu deveria ter sabido melhor. Nem tive direito a um bilhete de regresso. E, agora, aqui estou eu - algures. E tu? Disso sei menos ainda.

Eu juro que estou a tentar não chorar por ti. Eu estou a tentar, e isto é tão vergonhoso, mas não consigo, pois tudo me dói. Como e porque é que isto me está a acontecer?! Diz-me: o que é que eu fiz para merecer tamanho tratamento tortuoso? Será que foi por estar sempre presente, quando precisavas de mim? Ou será que foi por ter-te atribuído uma importância demasiado grande para o teu corpo a suportar? Diz-me, por favor, que eu já só quero parar de chorar.

E eu juro que estou a tentar esquecer tudo isto e seguir em frente. Eu estou a tentar, mas é tão difícil, porque tu és aonde eu quero estar, pois eu nunca pensei que fosse possível ser tão feliz ao lado de alguém, como fui contigo. Sempre te disse que a nossa amizade era a coisa mais rara do meu mundo, e agora já só consigo pensar que os amigos podem partir o teu coração, também. E tu estás a quebrar-me de tal maneira, que já só penso nisso, e até me esqueço do quanto deveria estar a esquecer-te.


E eu juro que estou a tentar perdoar-te por me teres deixado aqui, no meio do nada. Eu estou a tentar, mas não consigo, porque eu estou tão perdida sem ti. E eu quase que te odeio por isso, porque tu mostraste-me lugares que eu nunca pensara que existiam, e levaste-me a conhecer lados meus que só se abriam para ti. Para, depois, me deixares em lado nenhum; em lugar algum. E eu estou tão perdida sem ti, porque tu nem te deste ao trabalho de me apontares o caminho de volta.

E eu juro-te que estou a tentar reencontrar o meu caminho sozinha. Eu estou a tentar, mas parece impossível, porque todas estas estradas insistem em levar-me a becos sem saída. E, tingidas nas paredes, estão as palavras que tu me dizias. “És tão especial, és tão importante, não me imagino sem ti”. Leio-as a todas como quem recita poetas mortos, e já só consigo cair rumo ao fundo. E quem disse que não há fundo mais fundo que o de um poço, então é porque nunca se afogou completamente dentro do abismo do seu próprio coração.


Agora que penso nisso, eu não quero jurar-te nenhuma destas coisas. Nunca fui pessoa de juras de amor, pois essas acabam sempre, sempre assim. Em bilhetes de avião guardados ao fundo de uma gaveta; em lágrimas que se choram sozinhas; em dores que te obrigam a esquecer, que te impedem de esquecer, por mais que saibas que é o melhor para ti; e em caminhos que não nos levam a nenhum lado, por sentires que não pertences mais a sítio nenhum.

Soubesses tu o quanto tudo me dói, desde que te sumiste, sei lá eu para onde. Por um lado, ainda bem que não sabes das minhas dores, porque eu jamais quereria que sofresses por minha causa. Engraçado, não é verdade? São as pessoas de que mais gostamos, as que mais nos magoam. E, mesmo assim, continuamos a gostar delas acima de nós próprios. Se bem que, agora que penso no assunto, isto não tem piada nenhuma.

(E eu deveria ter sabido melhor. Que as juras eternas são a maior piada que existe.)

domingo, junho 05, 2016

QUE PUTA DE VIDA, ESTA...


Um nó enlaça-se na minha garganta, impedindo-me de falar, de chorar, de fazer o que quer que seja. As minhas respirações ficam-se pela metade, dói-me o corpo todo, principalmente o âmago do meu peito. E, aí, eu tenho a certeza que o meu coração voltou a quebrar-se. Foda-se, que puta de vida, esta. Que só nos sabe matar aos poucos e cada vez mais.

Não me arrependo de nada, sabes? Nem enquanto choro, aqui, sozinha, às 2 da manhã, sou capaz de arrepender-me do que quer que seja. E sabes porquê? Porque eu gosto tanto de gostar de ti. Porque eu gosto tanto da pessoa que sou quando estou apaixonada por ti. Gosto da minha timidez, que nunca a soube que a tinha; gosto da alegria que me percorre nas veias e gosto ainda mais por tudo isto ser por ti. para ti. E tu és tanto para mim… Sempre o foste.

Agora, vem a parte trágica, como seria de esperar. Tu simplesmente não consegues sentir aquilo que eu sinto. E como poderia eu culpar-te? Pois, lá está: da mesma maneira que não consigo mandar o meu coração fechar-te as suas portas, tu também não podes obrigar o teu a abrir-me as suas. E que puta de vida é esta, como tu costumas dizer. E eu já só consigo chorar com o corpo todo, que se desfaz em pedaços, por saber que jamais voltará a sentir o teu.


Há quem diga que o tempo é o maior inimigo do amor. Porque duas pessoas têm de se encontrar na ‘altura certa’, e isso nem sempre acontece assim. Quiçá, até fomos feitos para sermos felizes um com o outro, mas infelizmente nunca nos cruzamos no momento certeiro. Esse escapa-nos sempre. E que puta de vida é esta, que só nos soube cruzar nas piores alturas. Até perdi a conta das vezes, agora que penso nisso. Quando duas pessoas foram feitas para se apaixonarem, mas não para ficarem juntas.

Talvez passo por louca ao pensar assim, mas tu serás sempre o melhor que (nunca) me aconteceu. Trouxeste ao de cima o melhor de mim, lados meus que eu nem sabia que existiam. E eu nunca te vou poder agradecer por tudo aquilo que partilhámos os dois. Ensinaste-me a ser humilde, paciente e a nunca duvidar de mim. Mostraste-me valores como a ambição e a responsabilidade. E, como se não bastasse, ainda me fizeste voltar a acreditar no amor.

Agora, vem a parte bonita - não feliz, mas mais como um sorriso triste. Tu és e sempre serás uma grande parte de mim. Gosto de acreditar que, quanto a isto, sentimos o mesmo. Claro, um canto do meu coração será sempre teu (não fôssemos nós crentes na teoria de que o amor não termina, apenas se transforma…), e isso poderá ser doloroso em muitas alturas. Mas sabes que mais? Se for para sofrer, que seja por alguém que vale a pena. Gosto de pensar que esse alguém és tu.


Há uns tempos atrás, disseste-me algo que jamais esqueci. “Quero investir em ti com todas as minhas forças, quero lutar por ti. E, quando no fim, achares que eu desisti, estarei a lutar em silêncio…”. E que puta de vida é esta, que nos leva a lutar sozinhos e às escondidas. Mas sabes que mais? Por ti, continuarei a lutar até se me esgotarem as armas. Foda-se, que lute sem escudo e sem espada! E não me interpretes mal: quando falo em lutar, falo em lutar por manter-te na minha vida, seja como for. Porque se há alguém digno de ser guardado, esse alguém és tu.

Agora, vem a parte do “até breve” recheado de lágrimas. Agora, vem a parte em que saio à rua com as mágoas a pesarem-me nos bolsos, mas mesmo assim saio de casa. Agora, vem a parte em que sofro o luto respeitado por tudo aquilo que morreu antes de sequer ter começado. Agora, continuo a viver a puta desta vida, que apesar de me tirar tanto e de me matar tanto, é minha. E é tudo o que eu tenho.

Um dia, quem sabe, a vida deixe de ser uma puta e me recompense. Até lá, faço-o eu.

sexta-feira, maio 27, 2016

O AMOR É UM FILHO DA PUTA!


Sabem aquele momento da vossa vida quando, finalmente, todas as coisas parecem estar a encaminhar-se para o sítio certo? Eu estava a viver esse momento em pleno, até há cerca de uma semana atrás. Encontrava-me a sorrir para a vida, a cada dia, deitando-me, noite após noite, com o mesmo tal sorriso nos lábios. O tempo passava e eu seguia com ele. O meu passado estava resolvido, o presente acarinhava-me e o futuro recebia-me de braços abertos.

Agora… Sabem aquele momento da vossa vida quando, subitamente, tudo parece desmoronar à frente dos vossos olhos, sem que vocês pudessem impedi-lo? É esse o momento que estou a viver, há cerca de uma semana. Não parece muito tempo, na verdade. Mas deixem-me que vos diga: que nem o tempo eu sinto. Fugiu-me, por entre os dedos, e o tal sorriso morreu-me dos lábios. O passado, o presente e o futuro confundem-se como um borrão numa tela.

Esta cena do amor é uma cena do caraças, sabiam? Tanto nos embala por meio de cantigas felizes, como se todos os nossos sonhos se tornassem realidade; tanto nos deita abaixo, rumo ao fundo do poço, sem qualquer aviso prévio. E eu nem queria acreditar que as coisas estavam tão bem como estavam. Era tal e qual como nos filmes, juro-vos. Ele abria-me portas, passeava comigo pelas avenidas de braço dado, e falava comigo ao telefone para que a sua voz fosse a última que eu escutasse, antes de dormir.


Até que - lá está - a realidade aconteceu. O sonho foi com o caraças e aqui estou eu, agora. Num quarto vazio, com o barulho do meu coração a desfazer-se, ecoando por entre estas quatro paredes. (Não fosse o amor nos transformar a todos numa cambada de dramáticos…). E que posso eu fazer, neste momento? Neste momento em que tudo se desmorona à minha volta; a porta fechou-se na minha cara, os braços fecharam-se para mim e só escuto silêncio.

Esta cena do amor é mesmo uma cena do caraças. Não faz sentido nenhum. Como, outrora, somos capazes de ser tanto para alguém; para, depois, do nada, não termos sequer direito à porra de uma mensagem dessa mesma pessoa. Do tudo que éramos, viramos um nada, sem que possamos fazer nada. E eu estou fodida, estou, claro que estou. Porque só me apetece aparecer-lhe à porta, gritar-lhe a plenos pulmões o quanto tudo me dói, e chorar nos seus braços.

Mas eu não tenho os braços dele para me segurarem o choro, agora. Duvido, hoje, se alguma vez tive. E é por isso que o amor é fodido e sempre será: porque tanto nos dá, como nos tira. E acaba sempre por arrancar mais de nós do que alguma vez deu. Eu estava tão bem, até ele ter aparecido. E agora, com a sua ida, sinto-me menos eu do que alguma vez fui.


E eu estou cansada de chorar de mim para mim, sabiam? Sei que saio à rua, todos os dias, com um sorriso no rosto. Mas nem sei até que ponto é que isso faz de mim uma pessoa forte, ou uma pessoa fingida. Porque eu estou desfeita, estou um caco. E estou cansada, porque o amor trata-me sempre assim. Ilude-me, faz-me acreditar que “desta vez, é de vez”, mas nunca é. Nunca. Acabo sempre tal qual como estou agora: a devorar cigarro atrás de cigarro, quando só quero beijar uma boca que se recusa a receber-me. A deitar lágrimas pelos olhos, quando só queria estar deitada ao seu lado. E a desistir aos poucos de mim, e dele, e de tudo.

E, agora, digam-me: o que devo fazer? São poucas as opções, na verdade. Ou deixo-me ficar, recolhida no meu canto, a sofrer um luto respeitado pela morte de algo que nem chegou a começar. Ou então vou à luta, sem quaisquer armas, só com as palavras que tenho a dizer a pesarem-me nos bolsos. Em qualquer uma delas, habilito-me a sofrer. A diferença é que, na primeira, sofro naquilo que poderia ter sido; na segunda, sofro por aquilo que nunca poderia ser.

E eu estou cansada que o amor me deixe sempre condenada à opção de sofrer. E eu disse-te tantas vezes, rapaz: que estava cansada de morrer por amor e que só queria, por uma vez, que alguém pudesse morrê-lo comigo. Tu sorriste-me como quem diz “eu estou aqui para ti”. Agarraste-me na mão, levaste-me a conhecer o mundo e deixaste-me a meio caminho.

Mas eu sei onde tu vives, lembras-te? Um dia, quem sabe, atrevo-me a aparecer à tua porta.

quarta-feira, maio 25, 2016

MAIS DA MESMA MERDA


A noite está fria, eu estou esgotada e o ar que circula sussurra-me o teu nome, por entre os prédios que vêem as suas cores desmaiadas por entre a escuridão. Escuridão, essa, que me cerca. E tu estás nem sei eu onde… Onde é que tu estás? Onde é que tu foste? E que raio fiz eu agora, para que te afastasses de mim? Serei assim tão fácil de perder?

São tantas as perguntas que me rebentam na cabeça. Mas eu não digo nada. Não digo nada, por medo. Medo das verdades que me morrem nos lábios, antes da minha boca tentar sequer falar. Um nó enlaça-se na minha garganta, as lágrimas espreitam-me no olhar e tu não as vês. Porque tu foste não sei eu para onde… E porquê? Tu prometeste. Tu prometeste que não irias fugir, como todos aqueles que te antecederam. Julguei-te diferente… agora, já nem sei de nada.

E que mundo é este, que só nos deixa aterrorizados; que só sabe impedir-nos de gritar a plenos pulmões, aquilo que sentimos no nosso coração? E eu sinto tanto. E eu amo tanto. E eu temo tanto, mas não consigo deixar de sentir todas estas coisas. Toda esta raiva, por me teres deixado desamparada. Toda esta mágoa, por me teres feito sentir tão especial e tão insignificante, logo em seguida. E todo este carinho, que me impede de odiar-te; de me zangar contigo.


A noite está fria e eu estou cansada. Cansada de viver uma vida com medo de sentir. E mais que isso: com medo de dizer o que sinto. Com medo de abrir o meu peito esventrado, para libertar-me finalmente de todas as suas correntes. Mas não consigo. Não consigo dizer-te o que quer que seja, porque tu não me queres ouvir. E se o quiseres, então não o demonstras. E eu estou cansada, tão mas tão cansada de que não me ouças.

Estavas à espera do quê mesmo? Que todas as tuas acções passassem por mim como se não fossem nada? E que toda essa tua cantiga do “estou aqui para te provar que o amor não é nenhuma sentença que nos deixa condenados” me deixasse incólume? Porra, diz-me, o que te custa seres sincero comigo? O que te custa mandares-me embora? Tu não estás a fazer nada, a não ser fugir! A não ser deixares-me derradeiramente condenada a este limbo de dúvidas e de silêncio. E o que é que eu te fiz para merecer isto?! Fui-te verdadeira. Fui-te amiga. Fui-te tudo aquilo que consigo ser… E tu? Tu fugiste, e eu já nem sei de nada de ti.

É fodido, não é? Quando nos abrimos; quando nos mostramos vulneráveis por gostarmos tanto, na esperança de sermos correspondidos. Para, depois, darmos por nós sozinhos, numa cama vazia, ainda a cheirar à outra pessoa. Ainda com as músicas que essa nos dedicou a ecoar-nos nos ouvidos. E todas as palavras, também, que agora só soam a mentiras de merda.


Eu gosto tanto de ti, mas não estou a gostar nada deste teu lado que me demonstras. Que te afasta, sem sequer dares uma justificação. Que te enclausura dentro de ti mesmo, sem te preocupares sequer com o facto de uma parte de mim já ser tua por direito. Que te torna num, como muitos outros que por mim passaram. E isto é tão fodido para mim, porque eu gosto de ti.

Eu gosto de ti, mas não posso continuar a fazê-lo. Se houve coisa que aprendi com as minhas desilusões, foi a nunca mais me subjugar a alguém que simplesmente não faz por me merecer. E se tu me mereceste, outrora, hoje perdeste esse direito.

Eu sou forte, tu sabes. Já me desliguei de tanta gente, por ser o melhor para mim. É fodido, porque eu comecei mesmo a acreditar que tu jamais irias pertencer a esse grupo. E, agora, aqui estás tu: um, como muitos outros.

sexta-feira, maio 13, 2016

"THE ONE THAT GOT AWAY"


É tão fácil confundir o amor com outra coisa qualquer, não é verdade? Quem nunca o fez? Atrevo-me a dizer - e por muito que me custe admiti-lo - que já o fiz demasiadas vezes do que seria suposto. “Mas quando é que eu vou aprender?!”, perguntava-me, vezes sem conta. E por muito que eu seja aquela tal mulher que devora romances atrás de romances, sou a primeira a confessar: que de amor, eu não percebo nada!

“E o que é que há para perceber?”, perguntam-me. E, aí, eu digo-vos que não há muito, na verdade. Na essência de tudo, só uma coisa interessa: ou é amor, ou não é. Ponto.

No entanto, para mim, nunca foi tão fácil como isso. Sabem aquela expressão tão clichê “o amor é cego”? Podem não acreditar em mim, mas essas são as palavras mais mal interpretadas à face da terra. O amor não tem nada a ver com ser-se cego ou não - as pessoas é que são cegas, à partida! Nada tem a ver com o facto de estarem apaixonadas. A cena é, quando amamos, não amamos com os olhos, nem com as razões, nem com coisa nenhuma. Há coisas que simplesmente o são - e o amor é uma delas.

Talvez seja por isso que sempre me confundi tanto. Nunca consegui encarar os meus sentimentos de forma simples. Racionalizava e esmiuçava tudo a um ponto, em que já questionava tudo e mais alguma coisa. Em suma, eu assassinava o amor, como quem rega uma flor em demasia e assiste-a a afogar-se, antes dessa sequer ter atingido todo o seu esplendor.


Tantos foram os corações que baralhei, por simplesmente nunca ter parado para ouvir o meu. E não digo isto em tom de superioridade, de todo. Até porque, a meu ver, não há nada pior do que magoar alguém que não o merece. Antes que fosse eu, que já estou habituada às minhas próprias mágoas, que não se afogam por nada deste mundo. E quem nunca confundiu o amor com outras coisas, como a falta de carinho, atenção, ou simplesmente de um corpo que se fundisse ao nosso?

Mas sabem o que é pior do que nos apercebermos de que, afinal, não era amor? É chegarmos à realização que, afinal, era. É apercebermo-nos disso tarde demais. E não se deixem enganar: o tarde demais acontece. O tempo esgota-se e não volta a ser nosso. E aquela pessoa que amáramos sempre, sem sequer saber, vai embora e torna-se para sempre “naquela que nos escapou”…

É assustador vivermos num mundo com pessoas infindas, mas com oportunidades tão limitadas. E não se deixem enganar: a expressão “há mais peixes no mar” é a maior falácia alguma vez inventada. Porque nós bem sabemos que aquela pessoa que nos escapou; aquela que deixámos partir rumo ao oceano, ia matar-nos a fome como nenhum outro peixe qualquer. E agora? Agora, seguimos. Agora, eu vejo-a a passar e rogo aos céus por mais uma oportunidade. E depois?


A culpa não é de ninguém. Nem isso podemos fazer nestes casos - atribuir culpas a quem quer que seja. Porque o tempo raramente joga a nosso favor, e vivemos num mundo em que não nos podemos dar ao luxo de esperar, porque damos quase sempre por nós a esperar sozinhos. E esperar pelo quê?, quando as oportunidades somos nós que as fazemos, mas também somos nós os que as deixam escapar para sempre.

E agora falo para ti: para aquele que me escapou. Só espero que saibas que, se te perdi, de facto, irremediavelmente, então que seja. Mas que encontres alguém capaz de amar-te como (só) tu mereces. E que sejas o mais verdadeiro “tu” que possas ser, porque tu és uma pessoa maravilhosa, como que de fora deste mundo. E eu, continuarei aqui, a aprender a ouvir o meu coração e a preencher a minha alma com aquilo que me pertence. Perdoa-me, mas não posso chorar a tua perda para sempre. E eu sei que tu, da maneira que és, não desejas isso para mim.

O amor nunca me cegou. Eu é que sempre sofri de cegueira. Mas esta tem cura, e eu tenciono curar-me. Mais ninguém pode fazê-lo por mim.

sábado, maio 07, 2016

"DAYS I HAD WITH YOU"


Era um daqueles dias tão nossos, que outrora costumávamos partilhar, quando ainda nos restavam dias de sobra. (Ou pelo menos escolhêramos acreditar nisso). Chamo-lhes de “nossos”, porque éramos egoístas ao ponto de termos dias intocáveis do resto do mundo. Resguardávamo-nos na tua enorme casa de campo um fim-de-semana inteiro, se fosse preciso. Sem atender chamadas de quem quer que fosse, porque lá está: naquele mundo, só existia eu e só existias tu.

No teu terraço, ao cair da noite, partilhávamos cigarros e pensamentos, perdidos das horas - nem essas deixávamos que chegassem a nós. E, a medo, perguntei-te, enquanto mirava a tua face meramente iluminada pela luz soturna da lua:

- Será possível morrer por se amar tanto?

Tu acenaste com a cabeça levemente, como quem discorda. Não fosses tu sempre do contra.

- O amor não se quantifica. - murmuraste, sem nunca afastares o olhar das estrelas - E o amor é a única coisa capaz de nos salvar.

Assenti, como quem concorda. Não fosse eu tomar todas as tuas palavras como dogmas inquestionáveis. Permaneci albergada nos teus braços, como se de um porto de abrigo se tratassem. Até que me lembrei das tempestades que, de vez em quando, rebentavam com a costa, destruindo tudo por onde passavam.


- Às vezes, sinto que te amo a um ponto que chega a doer. Sei que é tolice minha, mas só de pensar que poderei perder-te, sinto-me a (des)falecer. - confessei, encostando-me à tua nuca, como se quisesse esconder-me de ti.

- Talvez morras de amor por mim. - disseste, como se não fosse nada.

E eu deveria ter-te dito. Que o amor pode, sim, ser aquilo que nos salva, mas só enquanto dura em ambos os nossos corações. Mas que também pode ser a nossa ruína, assim que alguém é deixado a amar sozinho. Não tive coragem de o dizer, porque, quiçá, sempre soube que, de nós os dois, eu seria sempre a que te amaria até ao fim. Até depois do fim.

Não se morre por se amar tanto, é verdade. Mas também não se vive. É um outro qualquer limbo, este em que me deixaste, assim que partiste e levaste contigo aqueles dias que nos restavam. E ainda hoje, passado tanto tempo, existem alturas em que sinto umas saudades tuas tão atrozes, que até me chega a doer o corpo todo. Quiçá, nem possa chamar-lhe dor. É algo transcendente, que me corrói a alma e me faz deixar de acreditar no amor e em tudo o que dele faz parte.


Até que penso na tua voz a sussurrar ao meu ouvido. Ou no teu espreguiçar contra o meu corpo, naquelas manhãs de Verão. Ou nos teus dedos cruzados com os meus, enquanto percorríamos as avenidas da cidade, sem destino. E, aí, apercebo-me que, por mais finito que seja, o amor que outrora partilhámos, naqueles dias tão nossos, foi a coisa mais real que poderia ter existido.

O amor não se quantifica, é verdade. Sempre tiveste razão em muitas coisas. No entanto, em contrapartida, deixaste-me a acreditar que eu sempre te havia amado mais do que tu a mim. Não é relevante, na verdade, mas ainda hoje isso me dói. Como foi tão fácil para ti deixares-me a amar sozinha, e a morrer de amores por ti, como se não fosse nada. Como se, naqueles dias tão nossos, eu teria sido a única que os sentia realmente. Como se o amor deixasse sempre um condenado, e o outro quase imaculado.

Acabei por ser condenada por todo o amor que senti por ti. E o que é que hei-de eu pensar do amor, agora, neste momento? Acabei condenada como se tivesse cometido o maior crime, quando o grande ladrão foste tu, que levaste o meu coração contigo e nunca mais voltaste.

domingo, abril 17, 2016

TU ÉS TUDO MENOS TRAPOS


Eles acham-te fraca. E quem sabe, alguns até te considerem uma anedota. “Eles”, aqueles que te levaram a perder as estribeiras; aqueles que diziam estar a jogar jogos contigo, mas estavam era a jogar contra ti. Aqueles que te enganaram; que te levaram a crer em coisas que nunca foram verdade. Ou pelo menos, que não eram totalmente verdadeiras, como eles diziam que eram. Aqueles homens que por ti passaram, uma vez ou outra, e que levaram consigo pedaços enormes de ti. Deixaram-te para aí, feita um trapo. Mas deixa-me dizer-te: tu és tudo menos trapos.

Esses homens, que por ti passaram, e que fizeram questão em fazer-te acreditar neles. Nas suas palavras sem conteúdo. Nas suas acções com menos conteúdo ainda. E nos seus devaneios do “hoje, és minha”, mas “amanhã, já não quero saber de ti”. E assim sucessivamente. Todos esses homens que te deixaram a pensar menos de ti. Que te deixaram a duvidar de ti mesma. Que te fizeram pensar: “se nenhum homem fica, talvez seja problema meu. talvez não sou mulher suficiente.” Pois, deixa-me dizer-te: nenhum deles era um homem. Não passavam de miúdos.

Tu foste sempre o melhor que conseguiste ser. Tu foste a mulher que, a medo, foi na mesma, apesar de meio mundo te ter avisado para ficares quieta. É isso que te torna tão maior que todos os outros que te fizeram sentir mais pequena. Tu nunca deixaste o medo, nem mais nada, nem mais ninguém se meter no teu caminho. Tu amaste de braços e de portas abertas. Tu foste ferida, chegaste a casa e eles haviam levado tudo consigo. E, no entanto, nem eles conseguiram fazer com que fechasses a tua casa eternamente.


E porquê? Por seres ingénua, ou parva, ou uma iludida? Não, de todo. Mas porque tu sempre fizeste por ser a grande mulher. A que perdoa, a que concede oportunidades, a que é desiludida, mas que continua a acreditar. Que continua a acreditar que os homens são todos diferentes, e que nenhuma pessoa é igual à que lhe antecede. Tu és tão forte, porque continuas a acreditar, por mais que te dêem razões para deixares de o fazer.

Mas deixa-me dizer-te uma coisa: tu não és obrigada a ser a ‘grande mulher’ todas as vezes. Tu não és obrigada a ser sempre a melhor pessoa da situação, aquela que tenta salvar todo o mundo, menos tu mesma. Aquela que coloca toda a gente à frente de si. Tu não tens de ser sempre essa mulher e, se por acaso, quiseres falhar; quiseres fugir para um clube nocturno e beber ao ponto de acabares na cama, sem sequer te lembrares de como lá chegaste, então fá-lo. Tu não tens de ser perfeita. Porque aqueles que te valem de alguma coisa, vão amar-te mesmo assim.

E se algum dia te apetecer ligar-lhe bêbeda, numa daquelas noites frias e solitárias de Inverno, que tanto te fazem doer os ossos, então liga-lhe! Liga-lhe e fala-lhe de como ele perdeu a única mulher que alguma vez foi capaz de amá-lo apesar dele destruir tudo à sua volta. Conta-lhe de como nunca desististe dele, ao passo que ele só sabia desistir cada vez mais de si próprio. E quando já tiveres a voz rouca de tanto gritar, desliga-lhe na cara e adormece a chorar a plenos pulmões.


Pois, lá está: tu não tens de ser sempre a melhor pessoa da situação, a que nunca quebra e que reage sempre à altura. Tu não tens de ser perfeita, porque o amor jamais te pediria isso. E tu bem sabes. E tu olhas para trás, para aqueles homens que tanto te prometeram o mundo, mas que nunca fizeram por ficar nele, e tu sentes-te grata. Ainda bem que nenhum deles ficou. Ainda bem que não desperdiçaste mais um segundo que fosse com nenhum dos mesmos.

E, aí, tu sorris, porque te apercebes que é isso que significa ser mulher: não ter medo de estar sozinha, por saber que não há nada pior do que a solidão na companhia de outra pessoa.

quinta-feira, abril 07, 2016

TU (NÃO) FOSTE O AMOR DA MINHA VIDA


Hoje acordei com um homem ao meu lado na cama. Fiquei a mirá-lo em silêncio enquanto este dormia de barriga para cima, por entre o emaranhado de lençóis desbotados. O seu peito erguia e baixava a cada uma das suas respirações e, por alguma razão que desconheço, dei por mim a pensar no primeiro homem que amei. Quiçá, o único - ainda hoje não tenho a certeza.

Dei por mim a pensar na pessoa que eu era, há uns anos atrás, quando o amava. Quando todo o meu peito era como o único local seguro, onde a cabeça dele repousava. Quando os meus braços e só os meus braços eram os únicos que o seguravam. Quando os beijos e só os meus beijos eram os únicos que se deleitavam na sua boca. E a única realidade que eu conhecia era aquela que vivia do seu lado. Eu amava aquele homem. Quiçá, ele amava-me também a mim - ainda hoje não tenho a certeza absoluta disso.

Vivemos aquilo a que se pode chamar um amor desenfreado, como um filme qualquer imprevisível, daqueles repletos de cenas, de pausas, de erros e de acasos que mais pareciam ser coisa do destino. Num momento, éramos capazes de estar juntos ao ponto de nem saber onde a sua alma terminava e a minha começava, por serem ambas uma só. Noutro momento, afastávamo-nos de tal maneira, durante tanto tempo, e eu chorava desalmadamente porque pensava sempre “é desta que acabou” - mas nunca era. Até, claro, à vez que foi.


Até o nosso final - adivinhado, mas não esperado - foi qualquer coisa de cinematográfico. Planeámos encontrar-nos na nossa esplanada predilecta, onde, outrora, passávamos as tardes de verão, comigo a cantar e com ele a dedilhar a sua viola. Sentámo-nos com a distância de um oceano a separar-nos e baixámos o olhar. E há pior coisa do que ter de evitar o olhar de quem se ama? Pois, lá está: já há muito que chegáramos ao ponto que até isso nos feria. Foi mesmo assim que soube que o derradeiro fim havia chegado: amá-lo arruinara-me mais que qualquer outra coisa. E há pior coisa do que sermos arruinados por quem mais amamos?

Fui ao encontro do homem que amava - quiçá, o único que amei -, com todas as verdades e mentiras a pesarem-me nos bolsos. Atirei-lhe todas as palavras, para que não me restassem (quase) nenhumas. Chorei rios e gritei tempestades. Começou a chover e a chuva confundiu-se com as minhas lágrimas, e, assim, chorei ao som dos céus que choravam comigo. E dei por mim a sorrir, porque sabia que, um dia, iria voltar a fazer sol.

Eu acreditei durante quase uma vida, que aquele homem era o amor da minha vida. a minha alma gémea. Mas ele não o foi, ele não a era. Na verdade, ele acabou por ser a minha maior lição.

Hoje acordei com um homem ao meu lado, na cama. E dei por mim a pensar no primeiro homem que amei. Quiçá, o único. Depois, acabei por pensar na pessoa que eu era quando o amava, até me ter apercebido que nada em mim, agora, se assemelha àquela rapariga de outrora. E isso é simultaneamente uma tragédia e o maior dos alívios.


Não sei de todo quando é que vou voltar a amar, nem por quem o vou fazer. Mas de uma coisa tenho a certeza: eu quero fazê-lo de outra maneira; e quero ser amada de volta como nunca antes fui. Porque lá está - aquele homem, o único que amei, nunca poderia ter sido o amor da minha vida, ou a minha alma gémea. Porque não foi ao lado dele que eu acordei, hoje de manhã. Nem será com ele que acordarei amanhã, nem depois de amanhã.

E um amor que vale a pena jamais implicaria deixar-nos a acordar sozinhos, ou ao lado de qualquer outra pessoa. E sabem uma coisa? Hoje, eu não desejei acordar ao lado daquele homem que amei. Porque a pessoa que sou hoje, ao contrário daquela que eu era, não se importa de acordar ao lado de alguém que não ama. Ele vai aparecer, qualquer dia. Mas hoje, eu não queria acordar sozinha - e tenho todo o direito em não o querer, as vezes que forem precisas.

E ninguém tem nada a ver com isso. Eu amo-me a mim e não desejo ser outra pessoa. E quem me quiser amar, que o faça desta maneira, ou então não o faça de todo.