terça-feira, janeiro 05, 2016

CARTA AO HOMEM QUE QUIS DE VOLTA


Olá… Então, já não te lembras de mim? Não faz mal, posso sempre voltar a apresentar-me. Afinal, fui a tal que mais gastou palavras (e tempo) em ti. Porque não voltar a fazê-lo, uma última e derradeira vez? Engraçado, não é? Disse-te isto tantas, mas tantas vezes… Lembras-te sequer de quantas vezes foram essas? Vezes, essas, em que falámos de um fim que nunca mais chegava? Quem diria… Esse fim chegou quanto menos esperávamos. Ou, quiçá, fui a única que não estava à espera.

Eu fui a primeira mulher que se entregou a ti de corpo e alma. E, ao mesmo tempo, a primeira a quem te entregaste, por mais que o negasses a meio mundo. Eu fui aquela que te apresentou a palavra ‘amor’, por mais que dissesses aos teus amigos que eu era apenas “a tal que só te chateava até à exaustão”. Eu fui quem, do teu lado, superou discussões, aceitou defeitos e concedeu oportunidades, só para que pudéssemos ficar juntos. Para os outros, no entanto, nunca passei daquela que simplesmente não te sabia deixar em paz.


Então, já te lembras de mim? Eu, aquela que te amou, até nos momentos em que mais te odiavas - e eram tantos… Eu, aquela que te beijou à chuva, por mais frios me gelassem os ossos. Eu, aquela que deixou o mundo de parte, e a si mesma, só para poder fazer parte de ti. Sim, porque, afinal, nunca sequer me soubeste amar por inteiro; e muito menos entregares-te por completo. Mas eu contentava-me, porque lá está… Eu fui aquela que não pedia por mais, por sempre ter acreditado que tu eras o melhor que eu alguma vez poderia ter.

Mas essa, a mulher que eu fui, já lá vai. Ficou do outro lado das paredes, a perder-se na amargura e na dor de te ter perdido. E a afogar-se nas mágoas desesperantes, e a corroer-se nas feridas causadas por todas as batalhas que lutara por ti - e que nunca lhe serviram de nada. Essa tal mulher ficou lá atrás, a chorar desalmadamente por pensar que te tinha perdido para sempre… Agora? Agora sou a mulher que sabe que, afinal, foste tu quem me deixou escapar.

Na verdade, eu nem quero que te lembres de mim, porque tu já nem me conheces. Não foi só o meu penteado que mudou, e muito menos as minhas bandas predilectas, ou a forma como me visto. Não. E eu sei que tu nunca acreditaste que as pessoas mudam, mas acredita em mim (ou então não acredites, tanto me faz): eu não sou mais aquela mulher que te amou, mais a ti do que a ela mesma. Eu cresci tanto, a partir do momento em que a tua perda se transformou nas lições que eu tanto precisava de aprender. De que o amor jamais nos deixa livres de nós mesmos. De que o amor jamais pede que lutemos sozinhos. E de que amar nunca deveria doer tanto, e me deixar sem nada, como foi amar-te a ti.


Quis tanto ver-te voltar… Até te falava dos dias e das noites que passei, a desejar-te. A querer-te. E a massacrar-me por entre dúvidas mais despenteadas que os meus cabelos. Mas tu não mereces saber. Afinal, a obcecada sempre fora eu. A que insistia em não seguir em frente. A culpa era toda minha, não era? E esquecer-te deveria ter sido tão fácil como foi para ti esqueceres-me. Enfim… Nunca paraste um segundo que fosse para tentares compreender-me. E porque haverias? És uma criança que só quer tudo de bandeja. Pois, deixa-me dizer-te: tu não vales a pena. E eu mereço alguém que esteja disposto a lutar por mim. 

Espero realmente que sejas feliz. Não digo isto para soar gracioso ou altruísta. Antes pelo contrário. Eu espero mesmo que tu, um dia, ames tanto alguém como eu te amei a ti. Que te tornes capaz de ir tão longe por alguém, como eu fui por ti. E que, quem sabe, um dia, te encontres do meu lado, a dares tudo de ti a quem nunca achará suficiente. Até lá… sê feliz com esse alguém… como, um dia, eu também fui contigo.

Sabes qual é a melhor parte de quebrares completamente e seres deixada como que sem nada? É a oportunidade de poderes começar de novo. Eu… Aquela que não se imaginava sem ti. Agora? Agora não imagino outra coisa.

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