segunda-feira, janeiro 04, 2016

TENHO SAUDADES TUAS, SABIAS?


Tenho saudades tuas, sabias? Eu sei que as sabes. E eu sei que também as sentes.

E isto é tudo tão novo para mim, porque sempre fui eu a que sentia a falta toda - sozinha. Porque era sempre eu quem lutava contra o tempo e contra a distância - sozinha. Agora? Agora não estou mais só, e isto é tudo tão novo para mim… Que já há tanto me habituara à solidão.

Quero falar de ti ao mundo. Mas, antes disso, quero percorrê-lo contigo. De dedos entrelaçados aos meus, enquanto viajamos sem destino algum. Porque perder-me nos teus braços será sempre a melhor perdição e o melhor dos encontros. Porque render-me aos teus lábios nunca saberia a derrota. Porque tu sempre quiseste dar-me até mais do que tens. E isso é tudo tão novo para mim… Que já há tanto me habituara a ser sempre deixada sem nada.

Tenho saudades dos passeios pelas ruas infindas e imundas da cidade, meu amor. Tenho saudades do teu olhar de encanto, sempre que me olhavas de soslaio, para que eu não notasse - nunca tiveste muito jeito para o disfarce - de todo. E nem sabes o quanto admiro isso em ti. Essa tua incapacidade de esconderes-te de mim. Alicerçada à minha incapacidade de fugir-te. E como poderia eu fugir de ti? Tenho tantas saudades tuas, sabias?


Encontrar-te foi como abrir um daqueles livros antigos que tanto gostamos de folhear, e aperceber-me que este está completamente repleto de páginas em branco. Sem quaisquer resmas de tinta na superfície das folhas. Não existe qualquer paginação, nem capítulos separáveis ou pontos parágrafos, e muito menos regras gramaticais. Apenas esta sucessão de nuvens brancas e opacas que sentimos com as pontas dos nossos dedos. Onde ambos existimos e vivemos uma história fluída e livre, sem qualquer intenção de rever as páginas que estão para trás. E as que estão pela frente, encaramo-las como milhares de possibilidades que nos esperam, seja onde for; seja como for; seja com quem for; seja quando for. Neste livro, podemos deitar-nos na cama, um ao lado do outro, e sussurrar histórias até ao sol espreitar por detrás das persianas.

Neste mundo, passeamos pelas avenidas de braço dado e rimos de vozes erguidas ao céu. Neste local, - o ponto onde ambos os nossos corações se cruzaram, sei lá eu como -, inventamos prosas e poesias, trocamos segredos e criamos romances que não precisam de ser em Paris, nem em Londres. Aqui, jorramos as nossas lágrimas nos braços um do outro, discutimos sobre o amor por entre cervejas baratas e ainda passamos uma viagem pela auto-estrada em silêncio e a pensar como gostaríamos que a viagem pudesse ser mais longa. Neste livro, somos o mais reais, livres e genuínos que poderíamos ser ao lado de alguém.


E o tempo passou por nós… Ai, se passou… E foi tão bom poder saborear o escassear das horas contigo. Como foi dolorosamente gratificante poder ver o tempo a esvair-se por entre os nossos dedos enquanto andávamos de mãos dadas. Como foi tragicamente mágico sentir o tempo que tínhamos a esgotar-se, ao mesmo tempo que te sentia adormecer ao meu lado. Como foi tão terrivelmente bom ter de contemplar-te e saborear-te ao máximo, por saber que jamais serias certo de ficar. E, por fim, o quão abençoada foi a maldição de ter de venerar cada uma das horas que passei contigo, mesmo sabendo que cada uma delas te afastava cada vez mais… Ai, se afastou…

Não podias estar mais longe… nem mais perto… do que estás. Tenho saudades tuas, sabias?

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