terça-feira, abril 05, 2016

A SAGA (e os dias...) DA DEPRESSÃO


Hoje, estou num daqueles dias. Mais um daqueles dias em que a solidão levou a sua avante e enclausurou-me entre estas quatro paredes. Guardo o maço de tabaco junto à varanda, porque sei que vou fumá-lo quase de uma só vez. Trago vestida uma camisola três tamanhos acima do meu, para poder enxugar as lágrimas nas mangas que cobrem as minhas mãos. Ouço as mesmas músicas, umas a seguir às outras, mas nem lhes presto atenção. Ignoro o telemóvel e tudo o que me possa despertar para a realidade fora destas quatro paredes, porque eu, hoje, não saio daqui.

Puxo as persianas até baixo e finjo ser de noite, só para poder dormir umas cinco horas por entre a tarde. Como se o escuro do quarto fosse a desculpa perfeita para fugir da luz. Acabo a dormitar com um copo de vinho barato debaixo da cama, para não ter de o encarar enquanto me deixo levar pelo sono. Como se eu precisasse desesperadamente de uma desculpa; ou de uma ajuda para escapar… Mas escapar do quê? de quem? de mim?

E eu espero que, ao acordar sobressaltada, sem saber se é dia ou noite, tudo esteja melhor. E que eu esteja curada deste mal qualquer invisível que se alojou dentro de mim. E que toda esta batalha esteja terminada, apesar de ter sido eu quem a começou e de ser só eu quem a trava. Mas, depois, dou por mim: e estou num daqueles dias. Mais um daqueles dias em que a solidão levou a melhor de mim. Mas levou para onde, se fui eu que a deixei?


As desculpas amontoam-se na minha cama por fazer. “Desculpa, mas hoje fico em casa”, “desculpa, mas estou cansada”, “dói-me a cabeça, o corpo, desculpa…”. Peço desculpas a todo o mundo que me procura, mas nunca peço perdão a mim, que me deixei perder de mim mesma. Afinal, porque é que pedimos tantas desculpas a tanta gente, mas nunca a nós, que somos quem mais nos faz mal? Suplico perdão ao meu coração, a que já sujeitei tanta dor e mágoa, e este ri-se, porque, hoje, já nem ele acredita que algum dia as coisas serão diferentes.

E, hoje, estou em mais um daqueles dias. Mais um daqueles, que até já lhes perdi a conta. Preocupo a minha mãe, que adivinha as lágrimas que teimo em esconder por entre as mangas. Afasto quem se preocupa, por não me achar merecedora de tal, por entre desculpas que se amontoam como tralha num sótão poeirento, aonde ninguém tem coragem de espreitar. E, assim, deixo-me ficar, a afogar-me em pensamentos absurdos e inúteis, que jamais me poderiam trazer ao de cima… (e eu nem poderia estar mais para baixo…).

Não tenho coragem de encarar o espelho, a única companhia por entre as tais quatro paredes. Então, permaneço na cama a fingir que sou outra pessoa. A fingir que sou aquela que, outrora, amou; a tal que lutava com unhas e dentes por tudo o que valia a pena (e até pelo que deixava de valer!); aquela que acreditava que os dias são só nossos e que devemos viver uma vida inteira em cada um deles. Mas não. Hoje, sou só a tal que está num daqueles dias. Em que saí vencida da guerra comigo mesma.


Quiçá, amanhã seja, finalmente, outro dia. Um em que acordo e digo “chega!”, e saio à rua com uma roupa apropriada, bem arranjada e de sorriso no rosto. As mágoas, os medos e as desculpas ficam todas do lado de dentro, e eu sigo caminho, com a mala ao ombro quase vazia. E apesar de todo o vazio que se faz sentir, naquele dia, eu sinto-me de mim e sei que sou de mim e eu basto-me.

Quiçá, amanhã seja o dia. O dia em que me apercebo que sou uma pessoa forte. E que os maiores heróis são aqueles que têm de batalhar consigo mesmos, todos os dias, contra um mal qualquer invisível que eles próprios criaram nas suas cabeças. Mal, esse, que é real - e ai de quem disser que não é real. Porque só eu sei o que eu sinto, naqueles dias, em que só sinto solidão; em que só encontro razões para fugir; em que só me perco mais e mais de mim, até não me restar nada.

Enfim… Ao menos o dia já terminou. Mas eu não... Que venha mais um dia, (eu consigo).

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