sexta-feira, maio 27, 2016

O AMOR É UM FILHO DA PUTA!


Sabem aquele momento da vossa vida quando, finalmente, todas as coisas parecem estar a encaminhar-se para o sítio certo? Eu estava a viver esse momento em pleno, até há cerca de uma semana atrás. Encontrava-me a sorrir para a vida, a cada dia, deitando-me, noite após noite, com o mesmo tal sorriso nos lábios. O tempo passava e eu seguia com ele. O meu passado estava resolvido, o presente acarinhava-me e o futuro recebia-me de braços abertos.

Agora… Sabem aquele momento da vossa vida quando, subitamente, tudo parece desmoronar à frente dos vossos olhos, sem que vocês pudessem impedi-lo? É esse o momento que estou a viver, há cerca de uma semana. Não parece muito tempo, na verdade. Mas deixem-me que vos diga: que nem o tempo eu sinto. Fugiu-me, por entre os dedos, e o tal sorriso morreu-me dos lábios. O passado, o presente e o futuro confundem-se como um borrão numa tela.

Esta cena do amor é uma cena do caraças, sabiam? Tanto nos embala por meio de cantigas felizes, como se todos os nossos sonhos se tornassem realidade; tanto nos deita abaixo, rumo ao fundo do poço, sem qualquer aviso prévio. E eu nem queria acreditar que as coisas estavam tão bem como estavam. Era tal e qual como nos filmes, juro-vos. Ele abria-me portas, passeava comigo pelas avenidas de braço dado, e falava comigo ao telefone para que a sua voz fosse a última que eu escutasse, antes de dormir.


Até que - lá está - a realidade aconteceu. O sonho foi com o caraças e aqui estou eu, agora. Num quarto vazio, com o barulho do meu coração a desfazer-se, ecoando por entre estas quatro paredes. (Não fosse o amor nos transformar a todos numa cambada de dramáticos…). E que posso eu fazer, neste momento? Neste momento em que tudo se desmorona à minha volta; a porta fechou-se na minha cara, os braços fecharam-se para mim e só escuto silêncio.

Esta cena do amor é mesmo uma cena do caraças. Não faz sentido nenhum. Como, outrora, somos capazes de ser tanto para alguém; para, depois, do nada, não termos sequer direito à porra de uma mensagem dessa mesma pessoa. Do tudo que éramos, viramos um nada, sem que possamos fazer nada. E eu estou fodida, estou, claro que estou. Porque só me apetece aparecer-lhe à porta, gritar-lhe a plenos pulmões o quanto tudo me dói, e chorar nos seus braços.

Mas eu não tenho os braços dele para me segurarem o choro, agora. Duvido, hoje, se alguma vez tive. E é por isso que o amor é fodido e sempre será: porque tanto nos dá, como nos tira. E acaba sempre por arrancar mais de nós do que alguma vez deu. Eu estava tão bem, até ele ter aparecido. E agora, com a sua ida, sinto-me menos eu do que alguma vez fui.


E eu estou cansada de chorar de mim para mim, sabiam? Sei que saio à rua, todos os dias, com um sorriso no rosto. Mas nem sei até que ponto é que isso faz de mim uma pessoa forte, ou uma pessoa fingida. Porque eu estou desfeita, estou um caco. E estou cansada, porque o amor trata-me sempre assim. Ilude-me, faz-me acreditar que “desta vez, é de vez”, mas nunca é. Nunca. Acabo sempre tal qual como estou agora: a devorar cigarro atrás de cigarro, quando só quero beijar uma boca que se recusa a receber-me. A deitar lágrimas pelos olhos, quando só queria estar deitada ao seu lado. E a desistir aos poucos de mim, e dele, e de tudo.

E, agora, digam-me: o que devo fazer? São poucas as opções, na verdade. Ou deixo-me ficar, recolhida no meu canto, a sofrer um luto respeitado pela morte de algo que nem chegou a começar. Ou então vou à luta, sem quaisquer armas, só com as palavras que tenho a dizer a pesarem-me nos bolsos. Em qualquer uma delas, habilito-me a sofrer. A diferença é que, na primeira, sofro naquilo que poderia ter sido; na segunda, sofro por aquilo que nunca poderia ser.

E eu estou cansada que o amor me deixe sempre condenada à opção de sofrer. E eu disse-te tantas vezes, rapaz: que estava cansada de morrer por amor e que só queria, por uma vez, que alguém pudesse morrê-lo comigo. Tu sorriste-me como quem diz “eu estou aqui para ti”. Agarraste-me na mão, levaste-me a conhecer o mundo e deixaste-me a meio caminho.

Mas eu sei onde tu vives, lembras-te? Um dia, quem sabe, atrevo-me a aparecer à tua porta.

quarta-feira, maio 25, 2016

MAIS DA MESMA MERDA


A noite está fria, eu estou esgotada e o ar que circula sussurra-me o teu nome, por entre os prédios que vêem as suas cores desmaiadas por entre a escuridão. Escuridão, essa, que me cerca. E tu estás nem sei eu onde… Onde é que tu estás? Onde é que tu foste? E que raio fiz eu agora, para que te afastasses de mim? Serei assim tão fácil de perder?

São tantas as perguntas que me rebentam na cabeça. Mas eu não digo nada. Não digo nada, por medo. Medo das verdades que me morrem nos lábios, antes da minha boca tentar sequer falar. Um nó enlaça-se na minha garganta, as lágrimas espreitam-me no olhar e tu não as vês. Porque tu foste não sei eu para onde… E porquê? Tu prometeste. Tu prometeste que não irias fugir, como todos aqueles que te antecederam. Julguei-te diferente… agora, já nem sei de nada.

E que mundo é este, que só nos deixa aterrorizados; que só sabe impedir-nos de gritar a plenos pulmões, aquilo que sentimos no nosso coração? E eu sinto tanto. E eu amo tanto. E eu temo tanto, mas não consigo deixar de sentir todas estas coisas. Toda esta raiva, por me teres deixado desamparada. Toda esta mágoa, por me teres feito sentir tão especial e tão insignificante, logo em seguida. E todo este carinho, que me impede de odiar-te; de me zangar contigo.


A noite está fria e eu estou cansada. Cansada de viver uma vida com medo de sentir. E mais que isso: com medo de dizer o que sinto. Com medo de abrir o meu peito esventrado, para libertar-me finalmente de todas as suas correntes. Mas não consigo. Não consigo dizer-te o que quer que seja, porque tu não me queres ouvir. E se o quiseres, então não o demonstras. E eu estou cansada, tão mas tão cansada de que não me ouças.

Estavas à espera do quê mesmo? Que todas as tuas acções passassem por mim como se não fossem nada? E que toda essa tua cantiga do “estou aqui para te provar que o amor não é nenhuma sentença que nos deixa condenados” me deixasse incólume? Porra, diz-me, o que te custa seres sincero comigo? O que te custa mandares-me embora? Tu não estás a fazer nada, a não ser fugir! A não ser deixares-me derradeiramente condenada a este limbo de dúvidas e de silêncio. E o que é que eu te fiz para merecer isto?! Fui-te verdadeira. Fui-te amiga. Fui-te tudo aquilo que consigo ser… E tu? Tu fugiste, e eu já nem sei de nada de ti.

É fodido, não é? Quando nos abrimos; quando nos mostramos vulneráveis por gostarmos tanto, na esperança de sermos correspondidos. Para, depois, darmos por nós sozinhos, numa cama vazia, ainda a cheirar à outra pessoa. Ainda com as músicas que essa nos dedicou a ecoar-nos nos ouvidos. E todas as palavras, também, que agora só soam a mentiras de merda.


Eu gosto tanto de ti, mas não estou a gostar nada deste teu lado que me demonstras. Que te afasta, sem sequer dares uma justificação. Que te enclausura dentro de ti mesmo, sem te preocupares sequer com o facto de uma parte de mim já ser tua por direito. Que te torna num, como muitos outros que por mim passaram. E isto é tão fodido para mim, porque eu gosto de ti.

Eu gosto de ti, mas não posso continuar a fazê-lo. Se houve coisa que aprendi com as minhas desilusões, foi a nunca mais me subjugar a alguém que simplesmente não faz por me merecer. E se tu me mereceste, outrora, hoje perdeste esse direito.

Eu sou forte, tu sabes. Já me desliguei de tanta gente, por ser o melhor para mim. É fodido, porque eu comecei mesmo a acreditar que tu jamais irias pertencer a esse grupo. E, agora, aqui estás tu: um, como muitos outros.

sexta-feira, maio 13, 2016

"THE ONE THAT GOT AWAY"


É tão fácil confundir o amor com outra coisa qualquer, não é verdade? Quem nunca o fez? Atrevo-me a dizer - e por muito que me custe admiti-lo - que já o fiz demasiadas vezes do que seria suposto. “Mas quando é que eu vou aprender?!”, perguntava-me, vezes sem conta. E por muito que eu seja aquela tal mulher que devora romances atrás de romances, sou a primeira a confessar: que de amor, eu não percebo nada!

“E o que é que há para perceber?”, perguntam-me. E, aí, eu digo-vos que não há muito, na verdade. Na essência de tudo, só uma coisa interessa: ou é amor, ou não é. Ponto.

No entanto, para mim, nunca foi tão fácil como isso. Sabem aquela expressão tão clichê “o amor é cego”? Podem não acreditar em mim, mas essas são as palavras mais mal interpretadas à face da terra. O amor não tem nada a ver com ser-se cego ou não - as pessoas é que são cegas, à partida! Nada tem a ver com o facto de estarem apaixonadas. A cena é, quando amamos, não amamos com os olhos, nem com as razões, nem com coisa nenhuma. Há coisas que simplesmente o são - e o amor é uma delas.

Talvez seja por isso que sempre me confundi tanto. Nunca consegui encarar os meus sentimentos de forma simples. Racionalizava e esmiuçava tudo a um ponto, em que já questionava tudo e mais alguma coisa. Em suma, eu assassinava o amor, como quem rega uma flor em demasia e assiste-a a afogar-se, antes dessa sequer ter atingido todo o seu esplendor.


Tantos foram os corações que baralhei, por simplesmente nunca ter parado para ouvir o meu. E não digo isto em tom de superioridade, de todo. Até porque, a meu ver, não há nada pior do que magoar alguém que não o merece. Antes que fosse eu, que já estou habituada às minhas próprias mágoas, que não se afogam por nada deste mundo. E quem nunca confundiu o amor com outras coisas, como a falta de carinho, atenção, ou simplesmente de um corpo que se fundisse ao nosso?

Mas sabem o que é pior do que nos apercebermos de que, afinal, não era amor? É chegarmos à realização que, afinal, era. É apercebermo-nos disso tarde demais. E não se deixem enganar: o tarde demais acontece. O tempo esgota-se e não volta a ser nosso. E aquela pessoa que amáramos sempre, sem sequer saber, vai embora e torna-se para sempre “naquela que nos escapou”…

É assustador vivermos num mundo com pessoas infindas, mas com oportunidades tão limitadas. E não se deixem enganar: a expressão “há mais peixes no mar” é a maior falácia alguma vez inventada. Porque nós bem sabemos que aquela pessoa que nos escapou; aquela que deixámos partir rumo ao oceano, ia matar-nos a fome como nenhum outro peixe qualquer. E agora? Agora, seguimos. Agora, eu vejo-a a passar e rogo aos céus por mais uma oportunidade. E depois?


A culpa não é de ninguém. Nem isso podemos fazer nestes casos - atribuir culpas a quem quer que seja. Porque o tempo raramente joga a nosso favor, e vivemos num mundo em que não nos podemos dar ao luxo de esperar, porque damos quase sempre por nós a esperar sozinhos. E esperar pelo quê?, quando as oportunidades somos nós que as fazemos, mas também somos nós os que as deixam escapar para sempre.

E agora falo para ti: para aquele que me escapou. Só espero que saibas que, se te perdi, de facto, irremediavelmente, então que seja. Mas que encontres alguém capaz de amar-te como (só) tu mereces. E que sejas o mais verdadeiro “tu” que possas ser, porque tu és uma pessoa maravilhosa, como que de fora deste mundo. E eu, continuarei aqui, a aprender a ouvir o meu coração e a preencher a minha alma com aquilo que me pertence. Perdoa-me, mas não posso chorar a tua perda para sempre. E eu sei que tu, da maneira que és, não desejas isso para mim.

O amor nunca me cegou. Eu é que sempre sofri de cegueira. Mas esta tem cura, e eu tenciono curar-me. Mais ninguém pode fazê-lo por mim.

sábado, maio 07, 2016

"DAYS I HAD WITH YOU"


Era um daqueles dias tão nossos, que outrora costumávamos partilhar, quando ainda nos restavam dias de sobra. (Ou pelo menos escolhêramos acreditar nisso). Chamo-lhes de “nossos”, porque éramos egoístas ao ponto de termos dias intocáveis do resto do mundo. Resguardávamo-nos na tua enorme casa de campo um fim-de-semana inteiro, se fosse preciso. Sem atender chamadas de quem quer que fosse, porque lá está: naquele mundo, só existia eu e só existias tu.

No teu terraço, ao cair da noite, partilhávamos cigarros e pensamentos, perdidos das horas - nem essas deixávamos que chegassem a nós. E, a medo, perguntei-te, enquanto mirava a tua face meramente iluminada pela luz soturna da lua:

- Será possível morrer por se amar tanto?

Tu acenaste com a cabeça levemente, como quem discorda. Não fosses tu sempre do contra.

- O amor não se quantifica. - murmuraste, sem nunca afastares o olhar das estrelas - E o amor é a única coisa capaz de nos salvar.

Assenti, como quem concorda. Não fosse eu tomar todas as tuas palavras como dogmas inquestionáveis. Permaneci albergada nos teus braços, como se de um porto de abrigo se tratassem. Até que me lembrei das tempestades que, de vez em quando, rebentavam com a costa, destruindo tudo por onde passavam.


- Às vezes, sinto que te amo a um ponto que chega a doer. Sei que é tolice minha, mas só de pensar que poderei perder-te, sinto-me a (des)falecer. - confessei, encostando-me à tua nuca, como se quisesse esconder-me de ti.

- Talvez morras de amor por mim. - disseste, como se não fosse nada.

E eu deveria ter-te dito. Que o amor pode, sim, ser aquilo que nos salva, mas só enquanto dura em ambos os nossos corações. Mas que também pode ser a nossa ruína, assim que alguém é deixado a amar sozinho. Não tive coragem de o dizer, porque, quiçá, sempre soube que, de nós os dois, eu seria sempre a que te amaria até ao fim. Até depois do fim.

Não se morre por se amar tanto, é verdade. Mas também não se vive. É um outro qualquer limbo, este em que me deixaste, assim que partiste e levaste contigo aqueles dias que nos restavam. E ainda hoje, passado tanto tempo, existem alturas em que sinto umas saudades tuas tão atrozes, que até me chega a doer o corpo todo. Quiçá, nem possa chamar-lhe dor. É algo transcendente, que me corrói a alma e me faz deixar de acreditar no amor e em tudo o que dele faz parte.


Até que penso na tua voz a sussurrar ao meu ouvido. Ou no teu espreguiçar contra o meu corpo, naquelas manhãs de Verão. Ou nos teus dedos cruzados com os meus, enquanto percorríamos as avenidas da cidade, sem destino. E, aí, apercebo-me que, por mais finito que seja, o amor que outrora partilhámos, naqueles dias tão nossos, foi a coisa mais real que poderia ter existido.

O amor não se quantifica, é verdade. Sempre tiveste razão em muitas coisas. No entanto, em contrapartida, deixaste-me a acreditar que eu sempre te havia amado mais do que tu a mim. Não é relevante, na verdade, mas ainda hoje isso me dói. Como foi tão fácil para ti deixares-me a amar sozinha, e a morrer de amores por ti, como se não fosse nada. Como se, naqueles dias tão nossos, eu teria sido a única que os sentia realmente. Como se o amor deixasse sempre um condenado, e o outro quase imaculado.

Acabei por ser condenada por todo o amor que senti por ti. E o que é que hei-de eu pensar do amor, agora, neste momento? Acabei condenada como se tivesse cometido o maior crime, quando o grande ladrão foste tu, que levaste o meu coração contigo e nunca mais voltaste.