quarta-feira, abril 05, 2017

À DANIELA DE OUTRORA,


Quem me dera poder falar contigo, neste preciso momento. Juro que consigo ver-te, aí, algures, perdida nesse abismo a que sempre gostaste de chamar de "fase". Mas nunca foi "só uma fase", pois não? Tu sempre soubeste disso. Mas eu não te censuro, não te preocupes. Sempre quiseste dar desculpas para perdoar todo o mundo à tua volta. Seria de esperar que acabasses por fazer o mesmo em relação a ti.  

Nem sei quanto tempo passou por nós, na verdade. Tu deverás estar por aí, algures, por entre essa fuga desenfreada, a fugires de algo que nem sabes de quê ao certo. Pára, por favor, não te canses mais. Tu ainda não percebeste, mas a única coisa de que foges é de ti. E tu acabas sempre por te encontrar, por mais que faças por te perder, naquilo a que sempre chamaste de "copos". Mas nunca foram "só uns copos", não é verdade? Não te sintas mal, a sério. Essa cabeça sempre a mil teria de ir buscar um descanso a qualquer lado. (E tu foste logo escolher o mais fácil.)  

O teu problema sempre foi esse: o de nunca te teres conhecido realmente. O de nunca teres parado por um momento para pensares no tipo de pessoa que és; e muito menos naquilo que querias. Ou melhor - corrijo -, naquilo que merecias. Sempre te limitaste a tão pouco, minha querida. Um dia estarás exactamente onde estou agora: a olhar para trás e a dares-me toda a razão do mundo. (Logo tu, que sempre te estiveste a cagar para ter razão!)


Se pudesse pedir um desejo que fosse, pediria para chegar a ti, agora. Entrar-te de rompante por esse quarto escuro, onde choras deitada numa cama que nem sabe mais a tua. Aproximar-me de ti, não de mão estendida como tantos outros fizeram em vão, mas de boca calada e sorriso no rosto. Para poder mostrar-te que sim, até tinhas razão nalguns dos teus medos. Acabaste por ser magoada da pior das maneiras. Acabaste por perder aquilo que mais fizeste força por manter. Acabaste inteiramente quebrada, tal e qual como seria de esperar, após a queda que deste. (Ou melhor: para a que te empurraram).  

Mas queres saber a melhor parte? Ao mesmo tempo, estavas mais errada que nunca. Ainda me lembro dos teus suspiros sôfregos, de quem não tem mais forças para chorar, a desejar que tudo simplesmente terminasse. Que fizesses as malas e que partisses de vez, porque já nada existia aqui para te fazer feliz. Ainda me lembro do quanto deixaste de acreditar em ti, e em todas aquelas coisas lindas em que sempre acreditaras. E lembro-me melhor ainda de quando te olhaste  ao espelho, com os olhos cobertos de lágrimas, incapaz de sequer te reconheceres a ti própria.  

Estavas tão errada, afinal de contas. E é por isso que gostava tanto de poder falar contigo, agora. De poder mostrar-te que, não só superaste a tempestade que levou tudo consigo, como enfrentaste o teu chão e tecto ruírem, e ainda conseguiste sobreviver a tudo isso. Não como a vítima que sempre foras. Não como a fraca que ninguém chegou a conhecer. Mas como uma pessoa com direito a uma oportunidade de voltar a viver.


Não como sempre viveras - ou morreras - até então. Mas sim, como uma mulher que, finalmente, se tornou dona da sua vida e do seu coração. E acredita em mim, que não há maior liberdade do que essa.  

Não te vou mentir, ainda muito te espera. Ainda não encontraste, de todo, o teu caminho certo. Mas sabes qual é a melhor parte? É que já deixaste, finalmente, de procurar. Não estás perdida, de todo, como sempre estiveste; estás, por outro lado, a viver e a vaguear, ao invés de fugires, como sempre fizeste.  

Só gostava de poder dizer-te que, acima de tudo, estou sempre orgulhosa de ti. Que nunca deixes de aprender com os teus erros. Que nunca deixes de perdoar quem mais te feriu, por saberes que mereces essa liberdade. Que nunca deixes de amar desta maneira desbravada e intensa, que é a única que vale a pena.  

E que nunca deixes de ser tu. Seja lá quem tu fores.

5 comentários:

  1. Alexandra castro07 abril, 2017

    Nunca deixes de ser tu! ����

    ResponderEliminar
  2. Daniela, julgo falar por todas as pessoas que aqui te seguem bem como aquelas que tão bem te conhecem. Não importa se estás numa nova fase da tua vida e se receias que as pessoas que te seguem deixem de "gostar" daquilo que tu escreves. O que realmente importa e aquilo que as pessoas gostam em ti e na tua escrita é a emoção e sentimento que empregas nas palavras que aqui escreves e nisso tu és simplesmente habilidosa, inteligente, fascinante! Isto sem falar no gosto que tens pela escrita pelo sonho que tens em publicar todos e muitos outros tesouros escritos que tens.

    Sonha por mim, por ti, por nós...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Desculpa só responder agora, Manuel. Mas a tua mensagem foi das mais lindas que alguma vez vi. Prometo voltar... afinal, aqui estou eu. E que venham mais palavras, mais sentimentos e mais felicidade. Para ti, para mim e para todos aqueles que me lêem.

      *

      Eliminar
  3. Bem, afinal a guardiã da "Caixa de Pandora" que atormenta a minha modesta arte técnica, detém nas suas mãos a grande arte dos palavras. Parabéns, magnífico texto... Adorei

    ResponderEliminar