POR DETRÁS DA FOLHA


Olha para mim. Olha para ti. Não somos assim tão diferentes, pois não? Foi isso que a escrita (também) me ensinou. Que sim, podemos estar todos sozinhos, mas estamos todos no mesmo barco. Tu e eu, sabemos bem o que é a saudade. Tu e eu, conhecemos bem – outrora, ou mesmo agora – a sensação de falta. A falta de alguém, a falta de lugares, a falta de sentimentos, a falta de memórias... Essas coisas todas que, de tão longínquas que estão, já quase nem sentimos como nossas. Por isso, eu escrevo. Escrevo para chegar além. Escrevo para alcançar quem está tão longe e tão perto. Escrevo para tocar conhecidos e estranhos que se identifiquem com o tudo que trago cá dentro. Escrevo, para viver vários mundos de uma só vez, por sentir que um não me basta. Nunca me bastou... Portanto, é isso que eu faço; é isso que eu sou: eu escrevo. De mim, para vocês que me lêem. Talvez, um dia, eu seja mais. Até lá... palavra a palavra, hei-de alcançar o meu derradeiro sonho. O sonho de finalmente me encontrar.

Talvez até nos encontremos pelo caminho.



O meu nome é Daniela da Silva Rosa. Tenho 21 anos e nasci na ilha do Pico, nos Açores, numa manhã tempestuosa de pleno Dezembro. E em todos os meus aniversários, a minha avó conta-me a mesma história - que eu nunca me canso de ouvir. Nasci mergulhada num tremendo silêncio. Na sala de hospital, só os batimentos cardíacos dos presentes se faziam ouvir. De mim? Nem um único vislumbre de choro. Como se o meu fim estivesse traçado no meu início. No entanto, "e com um leve toque", acordei para a vida - literalmente - e chorei desalmadamente. Chorei durante horas afio. Roubei incontáveis horas de sono aos meus pais. Agora? Agora, o meu choro é outro - esse, que nunca mais cessou. Escrever é o meu gritar silencioso. Escrever é o meu acordar ensonado e as minhas noites de insónias. Escrever sou eu, mas não é só para mim: é para todos vocês.

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