Um amor sem sentido, mas que se sente.


Sou acordada pelos raios de sol matinais a invadirem-me o quarto. Ao revirar-me na cama, encontro-te. A palidez da tua pele confunde-se com o desbotado dos meus lençóis, que se erguem e baixam sobre o teu peito, a cada uma das tuas respirações. O tom lilás das minhas cortinas tinge-te de várias cores, enquanto o brilho da manhã te incandesce no rosto. Apareces-me tal qual uma miragem. Não me atrevo a tocar-te, com medo que te sumas. Com o temor de que a tua presença não passe disso mesmo: de uma mera imaginação minha. E estes meus pensamentos – de tão altos que me soavam na mente -, foi como se até a ti te chegassem. Senti-te espreguiçar, ao meu lado, de súbito. Encolhi-me; sustive a respiração. É agora, pensei de mim para mim, que desvaneces por completo.

Mas tal não aconteceu. Ao invés, os teus braços envolveram-me como num laço. E os teus lábios tom de seda encostaram-se serenamente na curva em vírgula do meu pescoço, plantando um suspiro. Em seguida, caminharam para a minha boca, e deleitaram-se num beijo. Respiraste-me e eu respirei-te, por entre sôfregos. São esses os beijos de que mais gosto e tu sempre soubeste: que nos cortam a respiração, ao passo que nos absorvem por completo. Como se, a cada um deles, fosses capaz de levar algo de mim contigo. Ao mesmo tempo que também tu me deixas uma parte tua comigo.


Durante horas, mantivemo-nos completamente inertes sobre a cama. Com o passar destas, mais o teu aroma se ia infiltrando por entre aquelas quatro paredes. Como se todo aquele quarto sempre te tivesse pertencido. E mais os teus toques suaves ao longo das minhas costas despidas, me iam arrepiando ao longo de todo o meu corpo. Como se todo este fosse sempre, sempre teu e de ninguém mais. Durante horas, anos passaram por nós. Os que havíamos passado juntos, por entre conversas intermináveis. Os que havíamos passado longe, por entre silêncios desoladores. Como se toda uma vida – uma história; a nossa – se tivesse concedido num só momento. O agora. Deitados sobre a cama, mirávamos as paredes preenchidas com as nossas memórias. Nem um único som se fazia ouvir, para além de ambos os nossos suspirares. Como se palavra alguma fosse capaz de fazer sentido suficiente, para descrever o tudo que estava a ser sentido. Quiçá... Ao teu lado, até as suposições me morriam. E todas as questões deixavam de sequer precisar de qualquer resposta. Quiçá, sempre fora assim e eu nunca dera conta.


Até o momento mais breve ao teu lado, me saberia a para sempre. E eu já desisti de tentar explicá-lo, até porque acredito que nem haja uma explicação. Talvez seja suposto ser assim, para nós, o amor. Talvez não seja jantares à luz das velas, nem comemorações de mês a mês. Talvez não tenhamos sido feitos para nos amarmos dessa forma. Talvez seremos sempre a forma mais controversa de amar: por momentos singelos e fugazes. Por saudades desmedidas e encontros ao acaso. Quem sabe? E se o destino de nós os dois, for amarmo-nos por entre coincidências?

Talvez nada disto faça o menor dos sentidos. Mas ninguém disse que era suposto fazer. Mas bastas tu e sempre tu: a (re)apareceres quando menos espero, mas quando mais preciso. A saciares as minhas saudades e a acalmares-me as dores solitárias. A calares as minhas suposições e a pores termo às tais perguntas, que me arrancam do sono. Afinal... é sempre ao teu lado, que tenho as noites mais tranquilas. E porque hei-de perder tempo a achar um sentido, quando posso, ao invés, sentir-te a ti?

1 comentário:

  1. Adorei o teu texto. A música do Hans Zimmer, que escolheste para o blog, tornou-o ainda mais especial. Continua :) quem escreve assim, com a alma e de coração, deve continuar, com ou sem livros publicados.

    http://amarinar.blogspot.pt/

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